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Titular em Letras Clássicas, professor de Língua Latina, Literatura Latina e Literatura Grega da UFPB. Escritor, é membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

De Bebidas e Bebidas

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publicado em 03/02/2021 às 06h15

Aparecem, frequentemente, alguns jogos e desafios no Facebook, de que normalmente fujo. Um deles, no entanto, despertou-me a atenção. Tratava-se de um desafio que nos chamava a escolher entre bebidas aquela que seria nossa preferida. Como de costume, não participei, mas resolvi dar minha opinião.

Quando se tratar de falar de bebidas, sugiro aos amigos que não coloquem a água como uma das opções. Água não é opção, água é vida. Dentre todos os líquidos potáveis, a água é o mais precioso e único indispensável, fazendo parte de um grupo seleto, sem o qual a vida não existiria: água, sol, carbono e oxigênio. Também não coloquem o vinho, bebida dos deuses, pois ele é parte obrigatória da dieta mediterrânea. Um francês, por exemplo, jamais ofereceria vinho como aperitivo. O vinho faz parte da mesa, como o pão e o queijo, como o cassoulet, o boeuf borguignon ou as tripas à Caen. Já a cerveja, o fruto de Ceres – Cerevisia – nunca, de modo algum, pode ser vista como uma simples bebida. A cerveja é, meus caríssimos, o pão engarrafado. É alimento, tanto quanto o sagrado vinho.

Como bebida, poderíamos pensar no whisky, embora não seja da minha preferência. Há quem o aprecie e até o ache o melhor amigo do homem. O poeta Vinicius de Morais (foto) o chamava de cachorro engarrafado. O whisky é, mal comparando, como o diamante, que no dizer de Elizabeth Taylor, era o melhor amigo das mulheres. Do grande John Lee Rooker, o whisky mereceu um belíssimo blues – One Bourbon, One Scotch, One Beer –, tratando de alguém que, num bar, o mistura com o bourbon, seu equivalente americano, e com cerveja, para esquecer a dor de amor. Nunca façam isso, pois no dia seguinte, a dor será maior ainda. Por outros motivos, Jorge Benjor também faz essa mistura explosiva, em Charles Anjo 45.

Ao whisky, prefiro uma branquinha brejeira, para abrir o apetite, como Exu abre os caminhos. Aquela cachaça de excelência que nos faz sentir o gosto da cana-de-açúcar e serve de termostato, esquentando no frio e refrescando no calor. Não considero o champagne como uma bebida para ser apreciada continuamente, ele serve bem para brindes e, na minha opinião gustativa, chega.

Agora, se querem realmente falar de uma bebida das melhores, o conhaque não pode ficar de fora. O conhaque, entre todas as bebidas, é a única que chora. O copo foi desenhado para impedir que os gases que se evolam do líquido se dispersem no ar. Os gases batem, então, na estrutura bojuda do copo e voltam para dentro dele, como se fossem lágrimas escorrendo de um rosto. Ou pingos de chuva, numa janela. É pura poesia.

No entanto, o melhor de tudo isso não é participar de jogos para escolher qual a nossa bebida preferida. Para mim, beber é um ato de comunhão. Desteto beber sozinho. No meu parco entendimento etílico-prazeroso, nada melhor do que levantar um copo para brindar, não importa com que bebida, não importa o que seja, desde que na companhia de pessoas queridas.

Évoé, Baco!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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