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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Chegou, a alegria!

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publicado em 12/01/2021 às 06h29

Eu não deixaria passar em branco, se qualquer astro da minha amada Música Popular Brasileira (MPB), que teve seus tempos áureos entre os anos 1970 e 1990. Eu não hesitaria registrar a perda de qualquer grande astro do cinema, do circo, do teatro. Pois não deixarei em branco a passagem do mais engraçado forrozeiro nordestino: Genival Lacerda.

Na contramão de como o Nordeste era apresentado, forte, macho e resistente; Seu Vavá (foto) foi um deboche só. Apresentou o NE trajado de roupas folgadas, supercoloridas, chapéu de bolinhas provocantes e uma sandália branca. Tudo fora dos padrões de antigamente. Não bastasse, tinha uma voz de taboca e ainda dava gritinhos e fazia gracinhas no meio da música.

Por tudo isso, não parecia um representante de todos nós. Não? E somos só dor, sofrimento e cara emburrada? Seu Vavá apresentou, ao Brasil, o Nordeste cômico, de pessoas alegres e divertidas, no personagem de um palhaço cantante. Realmente, mais palhaço que cantor. No palco, mais se via seus trejeitos e a dança única, tendo como par, sua descomunal barriga.

Iniciou em programas de calouros nas rádios campinenses, ao lado da rainha do forró, a eterna Marinês (e sua gente). Estourou no cenário Nacional com Severina Xique Xique (1975). Valeu-se de duplos sentidos para dourar a sua música com sorrisos e humor contagiante. Foi assim, a começar em 1955, quando gravou seu primeiro disco. De “Senador do rojão” a “Rei da Munganga”, saiu passeando nesses ritmos forrozeiros, desde os forrós de chão batido, até topar com o asfalto. Deixou-nos semana passada, aos 89 anos, porque o vírus oportunista se aproveitou de um internamento devido a um AVC.

Não teria sido GL tão importante? Um sujeito que sustenta uma carreira , com música regional, por mais de sessenta anos? Se não o foi pela obra ( e eu acho que foi sim), foi pelo modo de ser na vida e na arte, e pelo “tipo” inédito que criou. Pode não ter morrido um astro de outro planeta, mas morreu um astro dessa nossa terra, um “munganguento” de primeira grandeza. De Capina Grande para o Brasil. Do Brasil para o céu, onde chegará cantando o debochado “Rock do jegue”. Vozes se ouvirão, de almas e anjos, ao lado da trupe nordestina, a postos para a recepção, saudando o novo animador. – Chegou, a alegria!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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