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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

Um preito às vítimas

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publicado em 24/12/2020 às 09h03

Embora a morte constitua um evento natural do ciclo da nossa existência – nascimento, vida e morte – nunca estamos preparados para aceitá-la com resignação, sobretudo quando ceifa a vida de pessoas íntimas e de amigos.

No curso médico somos intensivamente treinados para salvar vidas e lutar de forma incondicional contra aquela que seria nosso grande inimigo. A tecnologia de ponta, disponível em dias atuais, o controle de funções vitais – os sistemas respiratório,circulatório, renal, etc.- tem propiciado ganhos extraordinários, eu diria, inimagináveis há poucas décadas passadas, ensejando, por vezes, a adoção da conduta reprovável e vedada pelo nosso Código de Ética Médica, qual seja, a manutenção artificial de uma “vida que não mais existe”, em situações de absoluta irreversibilidade, ao adotar medidas fúteis e desnecessárias, caracterizando a chamada Distanásia; ao contrário, nessa eventualidade é dever do médico garantir os cuidados paliativos, o alívio da dor e do sofrimento – a Ortotanásia, “ a boa morte”.

Atravessamos um momento inusitado, experiência nunca vivenciada por nossa geração, durante o qual muitas vidas têm sido ceifadas, de pessoas hígidas, em plena atividade produtiva, arrebatadas do nosso convívio por essa enfermidade a que já me referi como “o mal do século “.

Quase novecentos médicos no Estado da Paraíba , cerca de 10% dos que estão em plena atividade, muitos na linha de frente contra a pandemia, além de um número não menos significativo de outros profissionais da área de saúde foram acometidos pela COVID-19. Pelo menos 21 perderam suas vidas: é doloroso assimilar tal desfecho! Recentemente perdemos, num único dia, quatro colegas, e, no dia seguinte, o colega de turma e amigo fraterno Manoel Beirão Boulitreau, figura humana singular, extrovertido, alegre e solidário.

Esses fatos emergem no momento em que o STF aprovou a obrigatoriedade da vacinação.E concordamos: a liberdade individual e a autonomia devem prevalecer , pensamos, até quando não põem em risco a integridade dos outros cidadãos.

Não se exige a apresentação do calendário vacinal na matrícula de crianças ( um requisito indispensável para quem vai estudar no exterior )? Não se obriga a vacinação contra febre amarela para quem se destina a certos países? Mas aqui vai um questionamento: antes de mais nada é preciso que se garantam vacinas (foto) para TODA a população, e não apenas determinados grupos de risco: a disponibilização universal é mandatória. Entendemos, por outro lado, que isso faz parte da logística da campanha de vacinação; é um problema complexo para uma solução de curto prazo e que não pode ser resolvido a toque de mágica.

Resta, nessa hora de tristeza, invocar a força Divina para confortar a todos, e nos solidarizarmos com os familiares de todos aqueles médicos ou não que perderam suas vidas nessa luta inglória!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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