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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Raridades de Tom Zé: 84 anos de um mestre

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publicado em 17/10/2020 às 09h51
atualizado em 17/10/2020 às 14h42

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos: Nadja Kouchi e divulgação

Tom Zé fez 84 anos na semana passada e quem ganhou presente foram os fãs do artista. A gravadora Warner Music lançou, como uma homenagem ao cantor baiano, o disco “Raridades”. Com previsão de disponibilização do conteúdo físico nas lojas a partir do dia 20 deste mês, o álbum já está nas plataformas de streaming. É genial.

No repertório estão 14 faixas em diversos formatos e gravadas em momentos distintos, entre 1969 e 1976. A divulgação do álbum se deve à quantidade de material gravado pelo artista e que, até então, não havia sido disponibilizado ao público.

A ideia é prestigiar Tom Zé por meio de gravações compactas, projetos especiais e canções que serão publicadas pela primeira vez. O disco tem conteúdo que pertence aos selos Continental e RGE. Dentre as canções estão “Senhor cidadão” e “Augusta”, Angélica e Consolação”, sucessos do artista que ainda tocam no rádio.
Para o produtor Renato Vieira, a compilação Raridades é fundamental. “Boa parte das canções estava há décadas fora de catálogo. Raridades chega às plataformas digitais e também sai em CD, com um texto contando a origem das canções”.

As versões dos singles no álbum são autênticas e combinam com o estilo musical do artista. Tom Zé conversou com o MaisPB sobre esse disco, em que ele canta “Irene”,(que Caetano Veloso, fez na cadeia em homenagem à irmã. e gravou no segundo álbum solo lançado em 1969 pela Philips). A versão de Tom Zé é bem diferente. Ele está feliz, trabalhando, relembrou o diretor Chico de Assis e Héctor Lagna Fietta, além eterna amizade entre ele Caetano e Gilberto Gil, e disse que o Brasil só “vai melhorar quando começarmos a reconstruir as estradas de ferro”.

MaisPB – Pela primeira vez a Warner reúne num álbum “Raridades” de Tom Zé. Como você vê essa iniciativa tão boa para os fãs?

Tom Zé – Vejo com muita alegria, o trabalho de Renato Vieira, colega de vocês no jornal “Estado de São Paulo”, que andou “futucando” as gavetas velhas da Warner e apareceu com essas Raridades.

MaisPB – São 14 canções de compactos e projetos especiais, quase todas inéditas no projeto digital. Esse tempo digital tem facilitado demais para que possamos ter acessos a essas raridades dos artistas, não é Tom Zé?

Tom Zé – Não há dúvida, o tempo digital tem compactado nosso tempo e nosso alcance, em termos de possibilidades.

MaisPB – Lá estão “Senhor Cidadão” e “Augusta, Angélica e Consolação”. Você poderia falar um pouco dessas canções tão lindas?

Tom Zé – Me lembro, sim: todas duas foram momentos de inspiração abençoada; o que me parece digno de nota, nelas, é essa decisão criativa que chamei agora mesmo de inspiração e que lhes deu vida.

MaisPB – É ótima sua versão de “Irene”, num ritmo mais acelerado, que até faz a Irene rir bem mais. Quando gravou? Lembra o que Caetano disse sobre essa versão?

Tom Zé – Ah, “Irene”! Pois é, Caetano me chamou e disse que era pra eu agradecer também a Rogério Duprat, porque gostou muito da gravação.

MaisPB – Aliás, Caetano outro dia falou que gostou muito da sua live, da sua performance. Vocês se comunicam? Você a live dele com os filhos?

Tom Zé – Apesar de ele viver no Rio e eu em São Paulo, a gente se fala muito pela Internet. Sim, vi sua apresentação com os meninos, excelente.

MaisPB – Nesse disco “Raridades” tem umas canções que foram para a novela Xeque-Mate da extinta TV Tupi. Como elas foram produzidas?

Tom Zé – O diretor dessa novela foi Chico de Assis. Ele me propôs cantar duas ou três canções. Graças aos ótimos arranjos de Héctor Lagna Fietta essas músicas antigas tomaram uma nova graça.

MaisPB – Na introdução da canção “Feitiço” ( segunda faixa), você antes cantar fica falando “Guardai meus passos, Senhor, Guardai meus olhos Senhor, Guardai meus braços Senhor, Guardai” e logo entra um som de uma orquestra, e Tom Zé arrebenta…

Tom Zé – Eu me lembro de que Gilberto Gil, quando estava preso, sem poder sair da Bahia, conseguiu uma licença e foi ver o show que eu fazia com Gal Costa no Rio. Comentou depois que essa música, “Feitiço” e também “Dói” eram boas músicas em qualquer lugar do mundo.

MaisPB – A canção “Jeitinho dela” que você canta com Os Novos Baianos, é linda. Fale-me dessa canção?

Tom Zé – Bom, os Novos Baianos iam começar a vida deles aqui. Essa canção era como que um incentivo, porque ia participar de uma espécie de festival no programa de Hebe Camargo.

MaisPB – A faixa “Silêncio de nós dois”, parece uma canção de cinema. Estou certo?

Tom Zé – Quando se fala em “Silêncio de Nós Dois” eu me debruço sobre o grande arranjo de, mais uma vez, Lagna Fietta. Concordo, também acho que parece uma canção de cinema romântico. Principalmente quando eu digo: “sete dias, oito horas/dezenove/vim te ver”.

MaisPB – As duas últimas faixas “Dói” e “O Anfitrião” estão assinadas por Betina. Fale sobre ela?

Tom Zé – Betina cantava na noite em São Paulo e era amiga da empresária Mônica Lisboa, que ficou no lugar de Guilherme Araújo durante a viagem dele à Europa.

MaisPB – Você está em estúdio, vamos ter um novo disco de Tom Zé?

Tom Zé – Estou trabalhando para um musical de autoria de Felipe Hirsch, que vai estrear depois da quarentena.

MaisPB – Fez 84 anos e está em forma, e ainda vai bem mais, né?

Tom Zé – É o meu “oitentaequatrear”, fazendo cambalhotas para comemorar.

MaisPB- Você tem contato com Gilberto Gil?

Tom Zé – Tenho contatos mais frequentes com Caetano, mas também com Gil, que mora no Rio

MaisPB – Como Tom Zé define o Brasil, nessa fase em que estamos vivendo?

Tom Zé – Eu defino assim: em termos amplos é o seguinte: quando nós começarmos a reconstruir as estradas de ferro poderemos comemorar a independência do Brasil.

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