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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

A volta às Aulas

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publicado em 01/10/2020 às 06h28

Essa questão é a ordem do dia. A polêmica se inicia pela elevada incidência de casos assintomáticos ou oligossintomáticos de COVID-19 – um resfriadinho – na infância, e sua capacidade de transmissão. Embora tenha sido sido descrita a ocorrência eventual da síndrome inflamatória multissistêmica na criança (Kawasaki like) associada à doença, para nossa tranquilidade os casos são, na imensa maioria, benignos: talvez pela imaturidade de sua resposta imune, pela imunidade cruzada conferida por algumas vacinas, ou ainda, em decorrência de infecções por outros coronavírus pouco agressivos comuns na população infantil:são hipóteses sustentadas para justificar tal fato.

Quanto à capacidade de transmissão, há bastante controvérsia. Será que as crianças assintomáticas ou com um “ simples resfriado” seriam capazes de transmitir? Aí reside o motivo de grande preocupação, já que seriam as transmissoras do vírus para os idosos ou pessoas do grupo de risco que ficam confinadas em casa. Estudo realizado na cidade de Nova York revelou que mais de 80% dos casos de COVID-19 ocorreram em pessoas confinadas.

Por outro lado, embora seja uma possibilidade concreta, estudo recente revelou que o risco de transmissão é baixo, inclusive porque o indivíduo assintomático não apresenta coriza, tosse e espirros, condições que favorecem a disseminação do vírus. A doença é tida como de moderada contagiosidade , já que um portador é capaz de transmitir para duas pessoas, ao contrário do sarampo cuja relação é de 1:20. Na maioria dos estados brasileiros a doença está em fase de estabilidade ou declínio, com risco de transmissão inferior a um.

O estudo à distância que passou a ser adotado em todos os estabelecimentos de ensino , certamente foi uma medida emergencial necessária, numa fase crítica da pandemia. No entanto, a sua manutenção além dos seis meses de quarentena é passível de crítica, em face das repercussões sobre o aprendizado, sobre a dinâmica familiar e sobretudo pela dificuldade ou falta de acesso das camadas menos favorecidas da população aos equipamentos de informática e a uma internet de velocidade satisfatória ,o que compromete a educação de muitas crianças, alargando, assim, o abismo da disparidade na educação de pobres e ricos. Há que se considerar também a sobrecarga de trabalho para os pais, porque passaram a dividir suas atividades em home office ou fora de casa, com a tutoria dos filhos, notadamente das crianças pequenas que são totalmente dependentes. Frise-se, ainda , que a indisponibilidade da merenda escolar decerto faz muita falta a crianças carentes, não raro a única refeição equilibrada que recebem diariamente.

Em recente recomendação, a Sociedade Brasileira de Pediatria elencou os prejuízos do fechamento das escolas para a população infantil: evasão escolar, impactos cognitivos e pedagógicos, risco de violência, depressão e outros distúrbios de saúde mental, agravos nutricionais, etc., mas reconhece que o conhecimento incipiente da dinâmica de transmissão do SARS-CoV-2 não permite antecipar com precisão os riscos da reabertura das escolas.

Dessa maneira, a abertura das escolas deve ser feita com responsabilidade, com base em dados epidemiológicos de cada município, e levando-se em consideração os devidos cuidados de higienização, infraestrutura adequada e transporte das crianças. O CDC ( Center of Disease Control – Atlanta-USA) recomenda a utilização de parâmetros epidemiológicos para nortear essa decisão, levando em conta que o risco de transmissão é baixo ou moderado, nos locais que registrem, respectivamente, 20 e 50 casos da enfermidade por 100 mil habitantes a cada 14 dias.

Assim, a Sociedade Brasileira de Pediatria salienta que o retorno seguro às aulas presenciais é de suma importância para a saúde das crianças e dos adolescentes, desde que sejam obedecidas as exigências estruturais, higiênicas, sanitárias e comportamentais a serem implantadas nas escolas.

A adoção de um período híbrido – EAD/Presencial – seria uma alternativa de transição a se considerar.

*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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