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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Caetano e os músicos de família

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publicado em 11/08/2020 às 07h00
atualizado em 11/08/2020 às 07h02

Por muito grande que seja, por ser artista, singelo que seja, gigante, com o mundo dentro de seu Coração Vagabundo, Caetano Veloso cantou muito na live de sexta-feira passada (07), dia do seu aniversário. 78 anos. Uma live que vinha sendo conquistada por sua mulher, Paula Lavine, e a torcida foi tão grande, que terminou numa lagrimalegria. Chorei, viu?

Por muito conhecido que seja, milhares de paisagens em suas canções, dos desertos, dos cachos de acácias, Tietas e Tigresas, do idioma, da “Língua” ao cu do mundo, e do amor pelo Brasil, que tanto precisa de orações.

Por muito baiano, Caetano Fulano, vivo entre luzes e tempestades, cantando na sala de sua casa, onde víamos discos de Tom Jobim e de sua irmã, Maria Bethânia na estante, com os filhos Zeca, Moreno e Tom, “os músicos de família”. Foi demais, mas muito é sempre muito pouco. A alegria exacerbada do cantor ao estar ao lado dos filhos, como se a pandemia tivesse acabado. Na hora, eu pensei: que bom, a pandemia se foi.

Por muito quente, muito belo, sensual, no frio e no fogo, de São João Xangô Menino, que ele não cantou, e de quem é ateu e viu milagres como ele (que abre o show), além de um amor assim delicado, tanta gente pega e despreza, ajoelha e não reza. Puxa vida!

Por muito útil, muito valioso para a cultura brasileira, toda palavra, uns tons, outros sons e Miltons; a lembrança de Peninha, cantando “Sozinho” e elevando Milton Nascimento para altares universais. Obrigado, Caetano Veloso!

A poesia de Caetano domina uma imensidão de canções, por isso uma força estranha, a “Luz do Sol”, “Odara”, “Leãozinho”, “Trilhos Urbanos” e quanto mais ele cantava, mais vida surgia da tela (aliás, por precaução, liguei o computador e a TV, caso algum falhasse). Uma imagem sempre nova, uma sensação de paz, a paz que o sexo traz.
Por saber dar vida a ideias nunca feitas, como banhar-se num rio que batiza e salva, lembrar de uma praia da Bahia, que está na canção “Coisa acesa”, a praia “Chega nêgo” atravessando os sete mares da voz de Moraes Moreira, Caetano nos dá vida “uma dádiva da natureza, essa coisa acesa”, que só Caetano sabe fazer. Só ele.

Por saber que “Podres Poderes” está mais atual do que nunca, por cantar que enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval”, esse Caetano é Gal, é Fa-Tal.

Por estar feliz, cantou 27 canções, uma fina estampa no rosto que ia, ia e ia e contagiava. Caetano é gente demais, cabeça mais. E a gente a dançar sobre aquele som. Sim, eu dancei, tomei suco de pêssego, e ainda contemplei o fato do nosso gato Dudé, assistir a live conosco.

Por multiplicar, o Caetano inevitável, do sorriso mais bonito: nem homem, nem mulher, nem bicho.
Por cantar muito, tanto assim, um pouco do tempo de cada disco, até deu vontade de agarrar nos pescoços da Chandon, nesse universo todo de brilhos e bolhas, que fez para Maria Betânia gravar e Cássia Eller ousou no seu tempo de vida mínima.

Tudo para nos deixar ficar lá dentro da sala ouvindo ele cantar “Sertão” com o filho Moreno e ainda teve a performance, a dança dos dois. ao som de “How baeutiful could a being be”, até o filho Tom chegar com o bolo e cantaram parabéns. Foi lindo ele cantando “Talvez” (música nova de Tom e Cezinha). Foi bom ouvir Zeca cantar novamente “Todo Homem”. Um show que nem precisou de bis.

Por seres e quereres “Caelovers”, mil vezes nós também temos um pouco do tempo da vida de Caetano, o tempo que temos pra gostar de quem gosta da gente. Sempre.

Kapetadas
1 – O texto é dedicado ao grupo do WhatsApp, Caelovers, que o K tem a honra de participar. São jovens belos – Alexandre Leite, Francisco Taboza, Cláudia Alencar, Guilherme Mazzeo, Alan Brandão, Iramar Martinez, Heloísa Ayres, Gustavo Fernandes, Anna Lydia Xavier, Priscilla Gomes. Elaine Saúde, Sarah Mirella, Verônica Goulart, Renata Roizenblit, Pedro Progresso, Sônia e Anna Heloysa.
2 – Som na caixa: “Amor que eu nunca vi igual”, Cidade Negra.
3 – Som na caixa 2 – “Umbabarauma, homem gol”, de Jorge Ben Jor

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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