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Dos 25km a pé para jogar basquete ao título do NBB

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publicado em 04/06/2018 às 14h15

Carapicuíba fica a pouco mais de 25km de Armênia, ambas em São Paulo. Mas o que isso tem a ver com o Novo Basquete Brasil? Tudo. É que neste último sábado, Jhonatan Luz dos Santos ergueu para o Paulistano o inédito troféu de campeão do NBB 10, o ápice da sua carreira. Mas a história do capitão começou muito antes. E passa por Carapicuíba e Armênia.

A pé. Aos 12 anos. Sozinho. Sem dinheiro, ele deixou sua casa na favela e caminhou por mais de duas horas até o local em que sua equipe jogaria. Atuou. Lembra que foi bem. Mas não teve pernas para voltar. Precisou de uma carona. A história de superação é apenas mais uma entre tantas na vida de um cara que nunca desistiu, começou na base do Espéria, passou pelo Paulistano, rodou o mundo, e voltou para finalmente conquistar o que tanto sonhou.

“Eu morava em uma favela em Osasco. Tinha 12 anos de idade, sozinho. Minha mãe nem sabia disso. Eu fui, cheguei com as pernas doloridas, acabei jogando, nós ganhamos e tiveram que me levar de carro para casa, porque eu não tinha condição de andar”

Jhonatan tem 31 anos e jogou em nove edições do Novo Basquete Brasil. Atuou no exterior, mas nunca foi o “rosto” de uma equipe. Na seleção brasileira, por algumas vezes esteve em convocações secundárias, praticamente nunca no grupo principal. O começo do basquete, inclusive, foi escondido. A mãe, Dona Rose, queria que ele estudasse e trabalhasse. Mas aí o primo Edson o levou escondido em uma peneira no Espéria. Disse que o levaria no dentista. Jhonatan passou. Foi morar longe da mãe para treinar e dela levou uma frase que o fez chorar após conquistar a taça do Novo Basquete Brasil em vitória no jogo 4 sobre o Mogi.

” Eu nunca desisti. Minha mãe me ensinou, se você quer ir a algum lugar, percorra o caminho e vai até ele. Imagine na sua cabeça, fecha os olhos e corre atrás”

Jhonatan comemora o título do Paulistano no NBB (Foto: Fotjump/LNB)

Dona Rose, por sinal, é quem desmonta Jhonatan. Em quadra ele terminou o ano com médias de 7,7 pontos, 4,7 rebotes e 10 de eficiência, além de ótimo aproveitamento de 45% nas bolas de três pontos. Mas quando fala da mãe, ele desaba. Todas as glórias são para ela.

E também para o primo Edson e toda a família. Hoje, além de campeão, Jhonatan está valorizado no mercado e tem sido chamado para a seleção brasileira que disputa as eliminatórias da Fiba para o Mundial da China.

– Minha mãe está de parabéns. Guerreira demais. Criar três filhos não é fácil e ter que me deixar sozinho desde os dez anos, quando eu comecei a jogar e saí de casa, não é fácil, naquela época era muito perigoso. Foi uma corrida muito forte para me tornar jogador. Eu acreditei, ela me deu força e eu só tenho a agradecer. Rose, você é minha vida. O Edson (primo) me deu um presente, que eu ainda estou colhendo. Estou abrindo de pouquinho em pouquinho e está saindo. Esse título é um dos maiores presentes que eu tenho na minha vida. Meu irmão está sempre comigo, quer virar jogador igual eu. Meu outro irmão, que trabalha bastante, estudou muito. Minha avó, toda minha família lutou para eu estar aqui. Eu não tinha condições de ir em nenhum treino, mas eles fizeram de tudo para eu estar aqui. Só tenho a agradecer minha família – diz Jhonatan.

Jhonatan Luz na seleção brasileira de basquete (Foto: Divulgação / CBB)

Jhonatan Luz na seleção brasileira de basquete (Foto: Divulgação / CBB)

O Paulistano também tem um capítulo especial na vida do capitão. Depois do Espéria, ele, um menino pobre, foi jogar no clube da burguesia paulista. Não viveu o preconceito, mas teve que provar dentro de quadra que tinha condições de atuar ali e ser um jogador de basquete, o que muitos duvidavam.

– O Paulistano me levou para lá, e algumas pessoas não acreditavam, pensavam que eu era um menino que não sabia muito do basquete. Foi legal que eu fui mostrando para eles que eu tinha capacidade de jogar. Meu objetivo era jogar profissional, eu não queria jogar categoria de base. O José Neto (ex-técnico do Flamengo) falava para mim ter calma, mas eu não queria ter calma. Eu quero minha vida ao máximo, estou aqui para fazer o máximo na minha carreira, o máximo na minha vida. Eu quero ser uma pessoa lembrada pela minha família. Eu dedico este título a todos os torcedores do Paulistano, todos os sócios e minha família. Não tem como explicar, é uma sensação muito boa, é a essência do seu trabalho, o máximo que a gente pode chegar.

Globo Esporte

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