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Professor de História pela UFPB e analista político

Por que o governador roeu a corda?

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publicado em 06/07/2016 às 15h46
atualizado em 06/07/2016 às 12h51

Em entrevista concedida ontem ao repórter Henrique Lima, estrategicamente escalado para cobrir anúncio de construção de obra do governo estadual, Ricardo Coutinho deu duas importantes declarações.

Nessa e na próxima coluna vamos tratar do confronto aberto com o ex-governador e atual senador, José Maranhão, por iniciativa de RC. Na próxima, sobre o anúncio de uma possível antecipação da saída de RC governo para disputar um cargo em 2018.

Vamos ao embate RC-Maranhão.

Apoio do PMDB

É bom rememorar antes os fatos que levaram ao iminente rompimento entre PSB e PMDB depois da aliança firmada logo após a realização do primeiro turno, na eleição de 2014, e que teve sua importância par a vitória de RC sobre o tucano Cássio Cunha Lima.

Desde que RC anunciou os membros do segundo governo, os peemedebista, especialmente Maranhão, reclamam da posição marginal do partido, que ocupa secretarias de pouca relevância, além de dezenas de cargos no segundo e terceiro escalões, todos considerados igualmente irrelevantes.

Esse fato não inibiu RC de cobrar do PMDB respeito à aliança e o consequente apoio do partido aos candidatos do PSB, especialmente João Azevedo e depois Cida Ramos em João Pessoa.

Como o PMDB tinha o deputado federal Manoel Jr., desafeto de RC, como candidato, os conflitos deixaram de ser latentes e ganharam uma dimensão pública quanto mais 2016 se aproximava.

O ponto de ebulição começou a se aproximar quando o governo divulgou a lista dos cargos que o PMDB dispunha no governo, o que certamente criou constrangimento, mas não o suficiente para que os peemedebistas mostrassem disposição – e dignidade – de entregar os postos diante da humilhação pública.

Maranhão fez que não era com ele e manteve o pé no governo, mesmo se comportando como oposicionista.

Nem Ricardo Coutinho, como era de se esperar, demitiu os peemedebistas, o que mostra que o aparente rigor “republicano” propalado não resiste às injunções das acomodações políticas e eleitorais.

Primeiro, RC tentou converter o PMDB numa sucursal do PSB, mais um dos seus braços políticos, assim como é, hoje, o Dem de Efraim Moraes.

Nesse ponto, o PMDB sempre raciocinou corretamente: uma coisa é o apoio que o partido oferece ao governo na Assembleia, outra são os objetivos de cada um nas disputas eleitorais, especialmente no maior colégio eleitoral do estado.

Nenhuma aliança partidária resiste a esse tipo de cobrança, principalmente quando não há entre os partidos que a compõe identidade política e programática, tratando-se de um mero ajuntamento de forças mediado pela distribuição de cargos a aliados, familiares e amigos.

Porque RC roeu a corda

Depois de divulgar a lista dos cargos que o PMDB ocupa no governo estadual, RC moveu mais uma peça para continuar sua pressão sobre o PMDB. Rebaixou o maranhista Laplace Guedes, então Secretário de Turismo, para a Secretaria Executiva de Energia e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Isso sem consultar Maranhão.

Questionado pela imprensa, o ex-governador desdenhou da atitude de RC: “Ricardo Coutinho faça o que quiser com todos os companheiros do PMDB que por ventura estiverem integrando os quadros do governo. Fique à vontade para demitir ou nomear quem ele quiser dos quadros do PMDB”, disparou, reafirmando mais uma vez a autonomia do partido que preside na Paraíba para escolher livremente seu destino.

Não demorou muito para RC tentar colocar água fria na fervura, que parecia ter entrado em estado de ebulição, e escalou o secretário Célio Alves para a tarefa inglória de ter de roer a corda pelo chefe:

“O senador Zé Maranhão diz em suas declarações que é aliado do governador (…) ele diz também que o governador tem prerrogativa para exonerar e nomear qualquer quadro que pertença ao PMDB. Não há, a meu ver, nenhum tipo de declaração queixosa nesse contexto,” disse Alves, sem muita convicção.

Eu devo estar com muita dificuldade de entender as coisas da política porque as palavras e o tom usados por Maranhão apenas deixava a RC a iniciativa de pregar o último prego no caixão da aliança PSB-PMDB.

De qualquer maneira, RC roeu a corda porque desde o primeiro momento, o governador imaginou uma coisa e deu em outra. Imaginou que o PMDB não resistiria a pressão de perder os cargos no governo e mais cedo ou mais tarde recuaria para apoiar Cida Ramos.

O recuo de RC mostra não apenas que o cálculo foi errado, e que, diante disso, o melhor seria deixar pelo menos uma janela mantida aberta com vistas ao segundo turno em João Pessoa. Agora, talvez nem isso.

O governador não contava com a postura de José Maranhão, um político talhado na arte de negociar cargos e posições políticas. Nesse campo, talvez Maranhão tenha algumas aulas a dar ao já não tão iniciante RC.

Enfim, Ricardo Coutinho acabou oferecendo no tempo certo a oportunidade que Maranhão esperava: romper com o governador como vítima e encorpar as justificativas para apoiar Luciano Cartaxo, provavelmente indicando a vaga de vice.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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