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Paraibanos transformam crise em oportunidade

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publicado em 18/03/2021 às 19h10
atualizado em 18/03/2021 às 16h12
Centro de João Pessoa. Foto: Albemar Santos - MaisPB

Reportagem: Thais Cirino e Albemar Santos 

A pandemia de Covid-19 provocou efeitos devastadores na administração pública em todo o Brasil, e na Paraíba não foi diferente. Precisando lidar com a maior crise sanitária da atualidade e com uma inflação acelerada, gestores adotaram medidas para conter o avanço da doença que custou caro aos empresários, aos trabalhadores e aos cofres públicos.

No estado, ao longo dos últimos 12 meses, decretos estaduais e municipais estabeleceram o funcionamento de empresas e a circulação de transportes e de pessoas, limitando algumas atividades e até inviabilizando outras. O setor de turismo, por exemplo, praticamente desapareceu, levando consigo empregos e renda. Medidas difíceis, mas necessárias para salvar vidas, na avaliação dos gestores públicos.

Fila para retirada do auxílio emergencial em João Pessoa. Foto: MaisPB

No esforço de também salvar os empregos, vieram as ações urgentes, entre elas, os pagamentos do auxilio emergencial (cerca de R$ 2 bilhões na Paraíba, segundo a Caixa Econômica Federal) e do auxílio para as empresas, ambos por parte do Governo Federal; além das 21 ações estaduais que garantiram benefícios, como prorrogação de prazos para pagamentos de impostos, parcelamento de débitos e redução da burocracia.

As medidas ajudaram a aliviar a pressão nas contas e surtiram efeitos. Dados do Boletim da Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) mostram que a receita própria do estado, acumulada de abril a dezembro de 2020, período de incidência da pandemia, registrou elevação do superávit para R$ 136,6 milhões, resultando numa diferença positiva de 2,93% sobre igual período do ano anterior. Os tributos responsáveis pelo resultado foram o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), que incrementaram a receita própria em R$ 116 milhões e R$ 31,6 milhões, respectivamente.

O terceiro imposto, o ITCD (Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) manteve redução de receita de R$ 10,9 milhões, no acumulado do mesmo período. A tendência neste quadro vem se repetindo no início de 2021, com altas seguidas na arrecadação do ICMS, segundo o Boletim Sefaz. “Houve uma dedicação de toda a equipe da Gestão Fiscal e dos auditores fiscais para reduzir os prejuízos e os impactos econômicos e fiscais”, explicou o secretário Marialvo Laureano.

Entidades avaliam impacto da crise

Foto: Albemar Santos – Portal MaisPB

Apesar dos esforços, não há como negar que alguns setores ‘desidrataram’ durante a pandemia. Sem consumidores (impedidos de circular livremente pela ameaça do vírus) muitos lojistas alegaram falta de opção para manter o comércio em funcionamento. A ‘solução’ foi fechar as portas e demitir. Caso de pelo menos 200 estabelecimentos só em João Pessoa. Os que resistiram, buscaram alternativas para não perder os clientes e assegurar os empregos dos funcionários.

João Azevêdo, comerciante informal de João Pessoa. Foto: Albemar Santos – MaisPB

“Foi difícil, mas pedimos paciência para os clientes. Agora, chegou a vacina!”, comemora o comerciante João Azevedo (foto acima), mais conhecido como Magaiver, que possui um box no Centro Comercial de Passagem, no Centro da capital paraibana, e que chegou a passar quatro meses sem abrir o estabelecimento no início da pandemia.

O comerciante pessoense não foi o único. Grande parte dos lojistas deu uma pausa nos trabalhos acreditando que o cenário mudaria rapidamente, o que não ocorreu. Para Josuel Gomes, diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas, a pandemia trouxe uma nova ordem econômica.

“O comércio sofreu bastante, mas também tivemos uma recuperação rápida em 2020. Em 2021 é que ainda não sabemos como vai ser”, frisou.

Mantidos com a ajuda de auxílios, os clientes seguiram consumindo o indispensável. Os supermercados, por exemplo, viram seus lucros aumentarem com grande procura por itens e também pelos preços mais elevados (vale lembrar que João Pessoa chegou a ter as maiores altas na cesta básica do país, segundo o Dieese). O lucro dessas empresas subiu mais de 12% só neste mês de janeiro, na comparação com 2020 – antes da pandemia adoecer o brasileiro -, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Do mesmo modo, as farmácias registraram faturamentos milionários no período.

Contudo, nem tudo foi perdido para o empresário local no ano pandêmico. Na avaliação do presidente da Fecomércio, Marconi Medeiros, “foi um ano difícil, mas no qual vimos nascer muitos jovens empreendedores em nosso estado, não só na capital, mas também no Sertão. Cada um buscando uma forma diferente de gerar renda”. Em outras palavras, o paraibano se reinventou.

Paraibanos descobrem novas formas de empreender

A veia empreendedora se espalhou pelos quatro cantos do estado, resultando num saldo positivo na geração de empregos. Só no ano passado, foram 130.716 contratos contra 125.524 desligamentos, um dado melhor do que o esperado. Enquanto grandes empresas cortaram força de trabalho para estancar a ‘sangria’ nos lucros, os pequenos negócios mostraram vigor e foram responsáveis pela efetivação de mais de 5 mil empregos.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, foram comemorados pelo Sebrae. Boa parte das vagas está no comércio, que disponibilizou mais de mil oportunidades de empregos, enquanto as médias e grandes apresentaram saldo positivo de 29 postos de trabalho. Indústria, construção civil e o setor de serviços aparecem na sequência. “Os números positivos demonstram como é necessário ter um olhar de apoio para esses pequenos negócios, para que eles continuem avançando, inovando e sendo cada vez mais competitivos no mercado”, pontuou a analista técnica do Sebrae Paraíba, Éricka Vasconcelos.

Foto: MaisPB

A ousadia dos paraibanos em vencer as dificuldades mostrou que possível encontrar oportunidades em meio à crise. Com pandemia, surgiram necessidades de negócios inovadores, mais adaptados ao ‘novo normal’. Cresceu a procura pelo delivery e também pelo comércio virtual de modo geral. De acordo com pesquisa mais recente realizada pelo Setor de Estatística e Pesquisa do Procon-PB, o interesse dos internautas por compras a distância aumentou 73,7% na pandemia.

Negócios que existem no mundo virtual, mas que fazem questão de obter o registro real. Só este ano, já são mais de sete mil novos microempreendedores individuais (MEIs) formalizados no estado, segundo o Sebrae, e o número não para de crescer. Por conta de atitudes assim, além de se tornar o terceiro maior saldo de empregos do Nordeste, a Paraíba contribuiu com quase 15% do saldo de empregos formais da Região, segundo o Caged.

No estado, até quem não teve o emprego ameaçado também descobriu uma nova forma de trabalhar. O home office colocou 150 mil pessoas em casa (maio/2020), 16,4% de todas as pessoas ocupadas e não afastadas, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em todo o país, esse contingente atuando de forma remota chegou a 13 milhões (maio/2020).

Reunidos, esses trabalhadores, sendo boa parte mulheres na faixa etária dos 30 anos, ajudaram a movimentar a economia. No mês de novembro, data do último relatório do Ipea, as pessoas em home office contribuíram com 17,4% da massa total de rendimentos efetivamente gerados no mês, pouco superior ao total gerado pelos servidores públicos ou pela indústria. Uma prova de que o #fiqueemcasa salva vidas e alguns empregos.

Centro de João Pessoa. Foto: Albemar Santos – Portal MaisPB

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