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Milton Marques é o novo colunista do MaisPB

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publicado em 04/06/2020 ás 12h49
atualizado em 04/06/2020 ás 15h37
Milton Marques Júnior, novo colunista do Portal MaisPB

Uma das maiores autoridades brasileiras na área de estudos relacionados a cultura dos gregos na antiguidade clássica, o professor Milton Marques Junior, da Academia Paraibana de Letras, é nova aquisição do projeto de Opinião do Portal MaisPB. Nos seus 10 anos, o Portal – sob a coordenação do jornalista Kubitschek Pinheiro – amplia o leque de colunistas e articulistas com artigos, crônica e textos diários.

Milton vem de muitos saberes e odisseias. Já participou de vários ciclos de palestras do Zarinha Centro de Cultura, abordando temas como “Teogonia, A Origem dos Deuses” e outros focados na Mitologia. A Teogonia é o primeiro poema do mundo ocidental, criado no século VIII a. C., a sistematizar como se deu a origem do universo da terra e dos deuses e dos homens.

Parido em Jaguaribe, Milton tem mais de vinte livros publicados, dentre eles, os quatro volumes do “Dicionário da Eneida de Virgílio”; sua tese de doutorado sobre “Aluísio Azevedo – Da Ilha de São Luís aos refolhos de Botafogo”, e agora, como ele mesmo diz, se arrisca a mostrar a nova produção satírico-irônica, através de um livro de poemas chamado “Epigrammaton – O Livro dos Epigramas”.

Marques é titular em Letras Clássicas, professor de Língua Latina, Literatura Latina e Literatura Grega da UFPB. É membro da Academia Paraibana de Letras.

Em entrevista exclusiva ao Portal MaisPB, ele fala da pandemia, dos escândalos do poder, do Governo Bolsonaro, do ex-ministro Moro, do racismo que assola o mundo e das redes infernais sociais e tais. E, claro, de Deus.

MaisPB – O que você tem feito nessa pandemia?

Milton Marques – Um pouco de tudo. A pandemia nos levou a um isolamento forçado, mas não estou achando ruim, pois sou caseiro. Mantenho-me ocupado, pois não sei ficar sem fazer nada. Leio mais do que o normal – acabei de ler o magnífico Guerra e Paz, de Tolstói –, escrevo muito, religiosamente, todos os dias, estou ministrando aulas, por vídeo-conferência, na pós-graduação em Letras e começarei, pelo mesmo sistema, a partir do dia 8 (próxima segunda-feira), a ministrar aulas na graduação. Vejo e revejo meus filmes preferidos. Ainda disponho de tempo para partilhar a faxina e o preparo da comida com a minha mulher. Enfim, a ocupação é a melhor terapia. É óbvio que sinto falta dos amigos, das conversas aos sábados na Livraria do Luiz, mas nada que me tire o sossego. Falta mesmo, sinto de meus filhos e de meus netos, porque só posso vê-los em vídeo.

MaisPB – O que lhe motivou se candidatar Academia Paraibana de Letras, na vaga do professor Antonio de Sousa Sobrinho?

Milton Marques – Há muito que um grupo de amigos desejava me ver na academia – Ângela Bezerra, Elizabeth Marinheiro, Socorro Aragão, Gonzaga Rodrigues, Hildeberto Barbosa Filho… Sempre relutei, alegando falta de tempo. Não era desculpa, era a verdade, devido à minha atuação como professor ainda na ativa, embora já tenha tempo de me aposentar. O tempo, no entanto, conspira contra nós. Chegaram a cogitar novamente o meu nome com a vaga deixada pelo saudoso Carlos Romero, mas decidi que não me candidataria, eu havia me submetido a duas cirurgias de catarata, no espaço de três meses e não tinha como cuidar de uma candidatura. Não esperava que surgisse outra vaga tão cedo. Com o falecimento do professor Sobrinho, os amigos me convenceram e eu vi surgir ali a oportunidade: o patrono era um professor, Candido Firmino Mello Leitão; o fundador era um professor, Lauro Pires Xavier, e o seu sucessor era outro professor, Antônio de Souza Sobrinho. A oportunidade, às vezes, nos manda avisos: “Você também é professor”. Senti que a candidatura vinha em boa hora.

MaisPB – Como você tem visto os escândalos do poder, a saída de Moro e as manifestações pró e contra o governo Bolsonaro?

Milton Marques – Poder sem escândalo não é poder. Sobretudo, porque todo o escândalo envolvendo alguém no poder reflete apenas a briga pelo poder, nada mais. O poder é inebriante, quem prova do seu cálice não quer largá-lo. No Brasil e na América Latina, com uma tendência inquestionável para o caudilhismo, essa briga atinge o paroxismo, porque não compreendemos ainda o sentido do que é a política, confundindo-a com partidos políticos e com a exaltação de salvadores da pátria – Collor, Fernando Henrique, Lula/Dilma, Bolsonaro e mais um que já se escalou para essa posição, Ciro Gomes. Enquanto pensarmos assim, não sairemos de onde estamos. A política é a administração visando o bem comum, que se traduz em educação, saúde, habitação, transporte e seguranças eficientes, o que não temos no Brasil. A pandemia, só para citar um exemplo, está nos mostrando como a saúde foi negligenciada e roubada. O nível da educação é o pior possível. Dê um passeio pelas redes sociais e você verá que a maioria não sabe escrever, não sabe ler, não sabe argumentar. Muitos que se acham inteligentes e querem dar lições nos outros vivem a repetir imbecilidades, como essa de postar escudinho, dizendo ser antifascistas. É para rir mesmo! É como se a palavra tivesse força suficiente para realizar o que eu digo ser.

As manifestações contra e pró-Bolsonaro são da democracia. Não é o melhor que temos, se já tivemos algum dia, mas é o que temos. Por mais que os adversários estrujam, como porco na capação, Bolsonaro foi eleito livremente, democraticamente, com a maioria dos votos. Se ele sofrer o impeachment, que duvido muito, será uma consequência do jogo democrático. Já a briga entre Moro e Bolsonaro é, mais uma vez, briga pelo poder. Quem ficar sob os holofotes por mais tempo e se fizer um bom menino ganha o doce.

MaisPB – Me parece que você só tem Facebook. O que acha das redes sociais, que avançam nas informações e nas perigosas fake news?

Milton Marques – Só tenho Facebook, do mesmo que só tenho um cartão de crédito. Em ambos os casos, não consigo administrar mais de uma conta. É uma questão de praticidade. Fui obrigado a ter Instagram, por ter sido convidado a fazer uma palestra sobre leitura e só podia ser nessa plataforma. Mas não sei nem como funciona direito. Mantenho a conta do Facebook, porque tenho necessidade de escrever. Escrevo diariamente, como já disse, e gosto de ser lido. A vaidade é um pecado de todos nós. Quem diz que não é vaidoso, tem nessa afirmação a sua vaidade.

A internet colocou à nossa disposição muita informação. O problema é a filtragem dessa informação, para transformá-la em conhecimento. E buscar garimpar de maneira a separar o joio do trigo. Fake News são danosas, mas sempre existiram. A grande imprensa a pratica diariamente; os políticos, então… O fato é que com a democratização da informação proporcionada pela internet as fake News explodiram. Como controlar vai depender do bom senso de cada um. Mas bom senso é a coisa mais bem dividida da face da terra: todos acham que têm e em demasia.

MaisPB – Jovens negros e brancos protestam nos Estados Unidos e Europa contra o racismo. Será que isso não tem fim?

Milton Marques – Não vai ter fim até que as pessoas tomem consciência de que devem respeitar as outras. As mudanças começam dentro de mim, não fora de mim. Sou a favor das manifestações para que se desperte a necessidade de mudanças, mas sou veementemente contra a violência. A violência só produzirá mais violência.

MaisPB – Você acredita em Deus?

Milton Marques – Acredito plenamente. Acredito no Deus criador de todas as coisas, princípio e razão de tudo, que é pleno Amor. Um Deus que nos dá a oportunidade de melhorar e que só quer o nosso bem. Nós é que não conseguimos ainda entender isso e achamos que Deus quer o nosso mal. Somos nós que produzimos o mal e, como tal, somos nós que deveremos detê-lo, mostrando o respeito ao próximo.

Kubitschek Pinheiro – Portal MaisPB

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