João Pessoa, 25 de fevereiro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Com o passar dos anos a palavra bullying ficou cada vez mais conhecida para uma prática bem antiga, a intimidação e violência física ou psicológica contra uma pessoa indefesa. O bullying acontece geralmente nas escolas e, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), um a cada dez estudantes brasileiros é vítima da prática.
“O bullying ultrapassa o limite da brincadeira e passa a ser violência, uma violência psicológica e que pode evoluir para a física”, explica a psicóloga e especialista em Saúde Mental do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Infanto-Juvenil – Cirandar, Hediley Silva.
O bullying é um tipo de violência e, como qualquer violência sofrida, o individuo que sofre bullying pode reagir de diversas formas, desde comportamentos agitados e agressivos como também pode apresentar tristeza, isolamento social e depreciação. Além disso, os danos causados pelo bullying podem ser profundos e desencadear transtornos psicológicos como a depressão, distúrbios comportamentais e até o suicídio.
No município, as crianças e adolescentes que sofreram bullying podem ser acompanhadas por psicólogos nas Policlínicas Municipais. Já para as vítimas que têm apresentado sintomas de transtornos psicológicos, a referência para o atendimento é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Infanto-Juvenil – Cirandar, localizado no bairro do Róger.
No CAPS i, a maioria das vítimas atendidas é adolescente com idade entre 13 e 17 anos. Nos últimos anos foram cerca de 40 casos atendidos devido a esse tipo de violência.
De acordo com a psicóloga do serviço, Hediley Silva, 2019 teve o maior índice de crianças e adolescentes que tentaram o suicídio devido ao bullying sofrido. “A maioria dos casos de bullying acontecem nas escolas, mas não são apenas os jovens que praticam. Muitas das vítimas sofrem essa violência por parte de adultos, professores e funcionários que atuam na escola”, alerta.
Uma das adolescentes atendidas no CAPS i é Maria (fictício), de 15 anos, que tem transtorno de ansiedade e depressão, desencadeadas com o falecimento do pai. Por conta do cabelo cacheado em transição capilar e dos transtornos psicológicos, Maria sofreu bullying na escola nos últimos dois anos.
“Pelos alunos sempre sofri o bullying por conta do meu cabelo cacheado e curto e por estar em transição capilar. Mas por conta da minha doença eu sofri o ano inteiro o preconceito vindo dos professores, dos funcionários e até do psicólogo da escola que não acreditavam quando eu estava tendo uma crise e diziam que eu estava inventando e isso dói mais do que alguém falando do seu cabelo, primeiro porque é uma doença e algo que não controlo e depois que eles são adultos e deveriam entender e até me proteger de que isso acontecesse”, conta a jovem.
Para a mãe de Maria, Emily Santana, ver a filha sofrer isso foi muito difícil, mas o cuidado encontrado no CAPS tem sido fundamental. “No começo ela não me contou nada, foi com os atendimentos aqui no Centro que comecei a entender o que ela estava passando e começamos a trabalhar isso e ainda bem que tem dado certo. Ela tem recebido um atendimento e sendo acompanhada não apenas para os transtornos, mas para o preconceito que ela sofreu principalmente e os resultados eu já tenho visto na maneira mais leve que ela tem vivido”, conta a diarista.
Para a psicóloga Hediley é importante que os pais fiquem atentos à qualquer mudança de comportamento por parte dos filhos, além de manter diálogo com a criança ou o adolescente e com a escola. “A mudança de comportamento repentino é um sinal clássico, outro aspecto é que a criança saudável gosta de brincar e socializar e se existe prejuízo nestas áreas é importante observar. Manter sempre um diálogo com o filho é importante uma vez que abre espaço para ele contar caso algo não vai bem, além de se fazer presente na escola pois essa parceria precisa existir e é fundamental”, conta.
CAPS i – O Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil Cirandar (CAPS i) atende crianças e adolescentes com idades entre 3 e 18 anos com transtornos mentais graves, severos e /ou persistentes, como depressão, esquizofrenia, bipolaridade, TDHA, tentativas de suicídio, bullying, dependência química, entre outros.
Atualmente 582 crianças e adolescentes são atendidas no serviço que oferta atendimentos individualizados com a equipe de psicologia, consultas psiquiátricas, dispensação de psicotrópicos, atendimentos em grupo de forma terapêutica com uma equipe multiprofissional, consulta de enfermagem, assistência do serviço social, cuidados e grupos terapêuticos com os familiares e/ou responsáveis, oferta de práticas integrativas para adolescentes e familiares. O CAPS i está localizado na Avenida Gouveia Nóbrega, s/n°, Róger, em frente ao Parque da Bica. Para mais informações o usuário pode ligar 3214-6079.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 31/10/2024