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O sonho de domar leões parecia capturar o jovem de 19 anos que morreu tragicamente em um fim de semana no parque. Pelos relatos, sua infância foi vivida em um desenho familiar precário, vulnerável e pouco acolhedor. Seu histórico de transgressão logo foi repercutido, quase como uma necessidade urgente de silenciamento, talvez maior do que a própria morte impõe ao sujeito. Mas a morte sempre tem algo a dizer, mesmo que no a posteriori…
A morte de Gerson, filmada e rapidamente publicizada como um espetáculo, nos fala da nossa incapacidade em acolher uma demanda de cuidado de alguém que não conseguia domar seus próprios leões. Eles pareciam vorazes, mas talvez seus movimentos errantes e transgressores fossem uma tentativa de endereçamento de algo da ordem do insuportável, uma aposta mesmo que desesperada de encontrar um fio no emaranhado caótico em que ele estava submerso.
Neste vaguear, Gerson desliza por serviços de assistência e saúde, dispositivos de acolhimento, instituições jurídicas, socioeducativas e prisionais. Um movimento errante, sem uma referência que o ancore, mas que o empurra na direção de uma destituição subjetiva.
Falhamos!!! E continuamos falhando quando pensamos que a saída possível para impedir que Gerson entrasse na jaula dos leões, seria o seu trancafiamento na jaula de um manicômio. Ainda mais quando esta narrativa serve de anteparo para rugidos que legitimam violências e até as banaliza, desde que aconteçam em ambientes institucionais. Fiquemos atentos aos que minimizam e ao mesmo tempo tentam justificar tantos negligenciamentos. A famosa, egoísta e oportunista lei de Gerson, aqui não se justifica!
*Ubiratan Oliveira – Psicólogo
Doutorando em Psicologia Clínica pela UNICAP
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VIOLÊNCIA - 14/11/2025