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Ao mestre José Saramago

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publicado em 15/08/2022 às 07h00
atualizado em 14/08/2022 às 13h48
The Portuguese writer José SARAMAGO.1990. Nobel Prize Literature 1998.

Como este é o ano do centenário do escritor português José Saramago, um dos meus prediletos, quero me antecipar ao dia 22 de novembro, que é a data exata do seu aniversário, para prestar uma pequena homenagem aqui lembrando um pouco da minha relação com este gigante da Literatura.

Numa tarde qualquer entre o fim dos anos 90 e o início dos 2000, estava eu na varanda da casa em que morava, no interior do Rio de Janeiro, lendo já pela segunda vez “O evangelho segundo Jesus Cristo”, de José Saramago, quando repentinamente fechei o livro. Surgiam ali, naquele instante em que tive de ir correndo à minha sala para pegar papel e caneta, os primeiros versos de “Cá estou eu”, que dedico ao mestre da Língua Portuguesa.

Cá estou eu na varanda
a tocar com os dedos
o morro adiante,
a acariciar as folhas das árvores,
sem poder sentir sua tez.

Cá estou eu a ouvir
os murmúrios dos pássaros,
os ruídos dos carros,
os louvores dos céus…

Cá estou eu a sentir
o vento em volta,
lambendo-me o corpo
fazendo a dança das árvores.

Cá estou eu a mirar o infinito
como se ele existisse,
como se fosse compreensível,
como se fosse plausível.

Cá estou eu a degustar
um sabor doce
em boca amarga

Cá estou eu a vomitar palavras,

Cá estou eu a jorrar minhas culpas,
a infestar com desculpas
o ar que me cerca.

Estes versos fazem parte do livro “Cor Própria”, o primeiro que escrevi, mas acabou sendo o quinto a ser lançado. Mas o tema aqui é Saramago. Voltemos a ele.

“O Evangelho segundo Jesus Cristo”, lançado em 1991, foi proibido em Portugal por possuidores das mesmas mentes (e como mentem!) falsamente moralistas que hoje habitam o poder na antiga Terra de Santa Cruz. A proibição fez Saramago se mudar para a Ilha de Lanzarote, que faz parte das Ilhas Canárias, na Espanha, país natal de Pilar, seu grande amor.

Foi quando residia lá, em Lanzarote, que o mestre recebeu, em 1998, a notícia de que era o primeiro – e até hoje único – escritor da Língua Portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura. Foi lá que ele morou até o dia de sua morte, em 18 de junho de 2010, aos 87 anos.

Para quem deseja conhecer a obra deste mestre, recomendo muito o já citado “Evangelho” e os outros livros de Saramago que li, como “A Jangada de Pedra”; “Ensaio sobre a Cegueira”, que foi muito bem adaptado para o cinema, com direção de Fernando Meirelles, e emocionou o autor da obra; “O ano da morte de Ricardo Reis” e “Memorial do Convento”. Fora todos os outros que ainda lerei.

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