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Por onde anda a Sabedoria?

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publicado em 11/07/2022 às 07h00
atualizado em 10/07/2022 às 13h58

Não se deve fazer isso, dizem os manuais de redação ou de boas escritas, mas repito, com veemência, o título logo no início deste texto: por onde anda a Sabedoria? Com letra maiúscula mesmo. Em outra ocasião aqui citei minha busca diária por Saúde, Sabedoria e Serenidade, mas a cada notícia que passa, em muitas esquinas que cruzo, nas diversas mensagens que leio, sinto a completa ausência destes três “ésses” fundamentais.

Eles são inteiramente interdependentes, mas destaco aqui desta vez a Sabedoria por continuar me espantando e me entristecendo diariamente com a contínua apologia à ignorância e à estupidez propalada desde o andar de cima até o subsolo deste mundo, particularmente de nosso país. E, pior, bem pior, muitas vezes por idosos, pelos mais velhos. Nas culturas dos indígenas e muitos dos orientais, por exemplo, tradicionalmente são os velhos os detentores da sapiência, oriunda de toda experiência que acumularam na vida. Creio que assim ainda seja. São a eles que se procuram em busca de orientação, uma luz, ensinamentos. No entanto…

Lembro bem dos meus primeiros dias de trabalho, antes mesmo de conseguir uma vaga numa redação de rádio ou jornal, quando era promotor de vendas em supermercados e mercados menores, no Rio de Janeiro, e recebi a primeira lição de um homem experiente: “para vender, você precisa conhecer tudo sobre o seu produto” (ou serviço, completo aqui). Ouvi, guardei e procurei seguir o conselho e fui bem-sucedido naqueles tempos, quando passei paralelamente a vender de porta em porta, de colega em colega, cosméticos e roupas. Fim dos anos 80 isso.

Muito antes, ainda criança, quantas e quantas vezes larguei as brincadeiras para mergulhar com interesse nas conversas de meu pai com parentes nossos e amigos dele. Aprendia muito sempre e guardo consciente e inconscientemente muitas daquelas lições informais passadas em papos sobre política, economia, cultura, relações sociais. Aprendi ali muito do como deveria ou não deveria agir. Em alguns casos até contrariando um pouco o que ensinavam, pois uma dose de rebeldia sempre faz bem (dose, não overdose). Afinal, se “el tiempo pasa y nos vamos poniendo viejos”, “o novo sempre vem”…

Já nas redações, ainda no fim dos anos 80, mas principalmente nos 90, instintivamente fazia meu rito de passagem prestando atenção no que diziam e faziam os mais experientes jornalistas e funcionários em geral. Algumas vezes até mesmo sem fazer perguntas, só ouvindo conversas em todo canto, especialmente  no café. Com o passar do tempo, muitos foram sendo aposentados compulsoriamente pelas empresas de Comunicação e a molecada foi dominando as redações e eu me recordando sempre dos conselhos do velho Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam!”.

Quando chegava, talvez até um pouco precocemente pela faixa etária que me cercava, o meu momento de retribuir tudo o que aprendi, fui buscar novos rumos e aprender novos caminhos com gente da minha geração. Uma dose de rebeldia sempre faz bem (dose, jamais overdose). Porém, o que me deixa boquiaberto é que, contrariando o conselho rodrigueano, idosos e idosas é que estão desejando ardentemente retroceder, numa busca intensa, insana, interminável pelo elixir da juventude. E nem vou tocar na questão da pele, estou aqui a falar de espírito, de pensentimentos. Velhos e velhas como desejo de se tornarem jovens, não joviais que é algo bem diferente e bem mais saudável, num complexo eterno de Peter Pan. E a desordem está estabelecida no mundo.

Num país em que grassa desde sempre o investimento em massa na deseducação – ou no adestramento em massa -, este projeto asqueroso denunciado pelo saudoso Darcy Ribeiro (foto) há muitas décadas já, mas tornado programa de Estado com uma fúria descomunal nos últimos quatro anos, vamos identificando em muitos dos mais velhos desta corroída e cada vez mais frouxa República a liderança deste desgoverno. E “la nave va” sem rumo algum por tormentas, procelas de todo tipo, pois a ordem é desordenar, é destruir, criar conflitos, quaisquer que sejam. A baderna, enfim. E o barco sem direção vai em direção oposta de terras, mares e montanhas da Serenidade, que a Sabedoria tanto busca e por ela é procurada.

Sem a sapiência dos mais velhos, nos perdemos e nos perderemos completamente. E o gigantesco navio vai se destinando ao naufrágio a olhos vistos, sem terra à vista, ainda mais quando se busca um timoneiro ainda mais velho e tão viciado quanto em poder, privilégios, dinheiro, mentiras, hipocrisia. O mesmo que nos deixou à deriva anteriormente.

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