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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Cinquentona atraente e vivaz

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publicado em 30/06/2022 às 07h00
atualizado em 29/06/2022 às 17h38

Nos dias de hoje alcançar meio século de vida já não é um fato extraordinário, nós, seres humanos, estamos vivendo muito mais. Motivo mesmo de comemoração é ver uma empresa alcançar o cinquentenário com solidez e sem interrupção, mormente se o produto de seu negócio é, para a maioria, de pouca ou nenhuma importância. Passam uma vida inteira sem consumi-lo e nem sentem falta. Então, por que uma empresa sobrevive há tanto tempo lidando com um objeto de consumo que a maioria nem dá a mínima? A resposta está na resistência e no heroísmo de  sua atuação cotidiana.

E falando em heroísmo, lembrei do poema “Herói”, de Francisco Carvalho: “Herói não é o aventureiro/ que faz xixi na lua. //Herói é o que vai todas as /tardes à padaria mais/ próxima buscar o pão/ ainda morno //para testemunhar o mistério /da vida.” E nesse vitorioso negócio há uma sublime triangulação: livro – livreiro – leitor. Nenhum sobrevive sem o outro. E parodiando o poema do bardo cearense, herói é quem vai à Livraria do Luiz buscar o livro para alimentar o espírito e testemunhar o mistério da arte.

Sim, a Livraria do Luiz, patrimônio imaterial e cultural da cidade de João Pessoa chegou aos cinquenta anos, bem resolvida e diferenciada justamente por se manter como local tradicional de venda de livros, ou seja, encravada em imóvel no centro da cidade, que também utiliza seu espaço para produção cultural, acolhendo autores locais para lançamento de livros, recitais e outras performances artísticas, sempre ao sabor de boas conversas, cafezinho e guloseimas e o tratamento humanizado dispensado aos clientes e amigos pelo casal Ricardo e Janaína, mais do que proprietários, amigos e orientadores dos que ali acorrem em busca de algum título ou mesmo calor humano. Pontua-se sua resistência justamente por não ter sucumbido à concorrência das grandes redes de livrarias e outras modalidades de aquisição de livros de forma virtual. Permanece altaneira como ponto de encontro de leitores, escritores e intelectuais.

Particularmente, me sinto honrado em ter participado de um documentário produzido pela jornalista Valéria Sinésio sobre os 50 anos da Livraria do Luiz, onde dou meu depoimento como frequentador e comprador de livros há 47 anos, acompanhado de outros leitores, escritores e intelectuais de nossa cidade. Esse documentário pode ser visto no YouTube, canal  da TV Cidade João Pessoa.

Nas redeis sociais a Livraria do Luiz também se faz presente, graças ao dinamismo e jovialidade da advogada e poeta Jéssica Queiroz, que além de leitora, produz conteúdo para as mídias digitais, alcançando assim, o interesse do público mais jovem.

Durante todos esses cinquenta anos, os autores paraibanos sempre encontraram espaços nas prateleiras da livraria do Luiz, onde seus livros ficam expostos, lado a lado, com autores nacionais e grandes mestres da literatura mundial. E, ao que me consta, nunca soube de nenhum laureado com Nobel ou outros grandes prêmios literários, que reclamasse por se encontrar ombreado conosco, autores tabajaras. Ao contrário, deles recebemos sutilmente seus muxoxos e juntinhos, esperamos pacientemente sermos escolhidos pelo leitor que nos levará para casa, tal qual se espera seu par para uma contradança.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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