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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]

 

Vidas de escritores

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publicado em 10/06/2022 às 07h00
atualizado em 09/06/2022 às 18h14

A história de um escritor vai muito além de suas obras – embora elas sejam o meio mais interessante de conhecer sobre o autor. Visitas às casas e aos acervos do escritor, turismo pelos monumentos que o homenageiam e roteiros que seguem destinos literários importantes aproximam o leitor da vida imaginada do autor.

Leitores meramente curiosos desfrutam destes espaços, mas os formadores de opinião parecem aproveitá-los ainda mais. O pensador Walter Benjamin (foto) é tão afetado por uma visita à casa de Goethe que transforma suas impressões em dois ensaios de reminiscências, nos quais exalta Goethe até na simplicidade de seus aposentos. Para Benjamin, até a modéstia dos cômodos serviria para focar no processo criativo. Chega a sonhar com o homem por trás de Os Sofrimentos do Jovem Werther, fantasiando sobre o encontro impossível dos dois, já que Benjamin nasceu décadas após o falecimento de Goethe.

No Brasil, ainda é fraca a cultura de preservar as lembranças de um literato além das páginas escritas. Até temos a Casa do Rio Vermelho, em Salvador, onde Jorge Amado e Zélia Gattai viveram até 2003. Todavia, o preojeto museográfico é uma exceção. A casa na rua do Cosme Velho, onde o bruxo Machado de Assis morou, estava em reforma para virar um depósito de supermercado. Onde dormiu o maior de nossos escritores talvez esteja uma prateleira de sabonetes e pastas de dente. Nos resta desejar para que, no mesmo local onde Assis escrevia, esteja ao menos a prateleira de papelaria, e não de amaciantes.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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