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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

 Eu sinto nojo

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publicado em 10/05/2022 às 07h00
atualizado em 09/05/2022 às 15h18

Sinto nojo de mim! Eu não consigo não sentir. Disse Sandra Mara num programa de TV. Entre lágrimas, diz que não queria estar ali. Não queria a exposição. Não queria sua vida exposta, da forma que percebeu, depois de 30 dias em uma clínica psiquiátrica.

Ela enxergou, aqui fora, que criaram um personagem para ela. Uma mulher comum que protegia a família em primeiro lugar, se viu, ao sair, em meio a escaramuças, gozações, deboches. Não seria melhor um apedrejamento que os ocidentais civilizados tanto condenam?

Quando vi a primeira vez a “informação” de uma mulher transando com um “mendigo”, trinquei os dentes para ler. Quem chamaria um desconhecido para transar dentro de um carro no meio da rua? Alguém fora de si. Alguém acometido de alguma alteração mental que lhe tirasse a razão e o senso crítico de realidade. Alguém, temporariamente, doente.

Então, eu me disse, que era uma mulher numa fase de mania do transtorno bipolar do humor. Esse transtorno que passou a ser popular, mas, tão mais ignorado do que antes.  Agora se diz, em qualquer situação, que qualquer coisa ou pessoa é bipolar.  Palavra desconexa da realidade do que é a doença. Uma fase de hiperexcitação mental. Com insônia rebelde, hiper energização, um indivíduo que não dorme e não cansa, que fala sem parar, que faz de tudo que nunca fez. Um carro sem freio. Até virar uma depressão profunda e sem limites de dor moral.

Quem puder se comunicar com a Senhora Sandra Maria, diga-lhe que eu também sinto nojo, mas do que fizeram com ela, de forma perversa e ‘interneticamente’ articulada. Eu sinto nojo dessas atitudes das pessoas e da imprensa sensacionalista. Ao contrário da frase de Jesus, eles sabem muito bem o que fazem, mas são, humanamente, hipossuficientes para não o fazer. E assim, mais uma vez, envergonham essa espécie que designaram de Homo Sapiens, que é capaz de fazer uma execração pública de uma doente mental.

Notícia, que notícia? Não sou de palavras fortes, mas reafirmo: eu sinto nojo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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