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A professora Erika Marques, Reitora do Centro Universitário Uniesp, é doutora em Psicologia Social – UFPB, Mestre em Desenvolvimento Humano – UFPB, tem MBA em Gestão Universitária pela Georgetown College e é especialista em Planejamento, Implementação e Gestão em Educação à Distância pela UFF. @profaerikamarques

Recomeço…

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publicado em 10/06/2021 às 07h29
atualizado em 10/06/2021 às 10h35

Não importa onde você parou… em que momento da vida você cansou… o que importa é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, nos desafia o poeta Carlos Drummond.

Quando falamos em recomeço, temos em nossa lembrança a referência de que em quase todos os jogos, se você erra, tem que voltar as casas ou fases e deve recomeçar, como se fosse uma imposição ou punição. Mas na vida não é preciso errar para recomeçar, pois os ciclos se fecham e nada é por acaso, tudo tem uma razão para existir e acontecer. No recomeço (que geralmente ocorre após uma perda) podemos ver vários pontos interessantes, um deles é trilhar um novo caminho e ter a possibilidade de vivenciar novas oportunidades.

Assim surge o recomeçar, o começar de novo, seja por motivos voluntários ou impostos. Uma mudança de emprego, o fim de uma relação, mudanças repentinas na vida, ou até mesmo um evento inesperado e de grandes proporções, como a pandemia na qual estamos inseridos e que provocou muitos impactos sociais, econômicos e emocionais.

Em todas as vertentes, devemos entender que a nossa vida é feita de ciclos, entre o amanhecer e anoitecer fecha-se um ciclo que se renova a cada dia, fazendo com que recomecemos todas as manhãs e todas às noites, um dia após o outro. Assim, para que nasça um novo dia, o dia anterior tem que se encerrar, do mesmo modo, quando existe um recomeço é porque algo acabou, e tudo que termina exige de nós um encerramento e entendimento do processo. Até as situações não tão boas, quando acabam, deixam uma sensação de perda, pois a adaptação faz com que nossa vida se molde a elas e obviamente a retirada de algo dentro do nosso modo de viver, necessitará de ajustes e novos aprendizados.

Entre os seres vivos em geral, podemos perceber que ações de adaptações são muito mais frequentes que ações de luta ou mudanças. E entre as pessoas isso se percebe nitidamente na adaptação aos problemas nas relações, nos empregos, na vida e em várias outras situações nas quais para se fugir do enfrentamento, as pequenas infelicidades são adaptáveis ao ponto de ficarem quase invisíveis. Desse modo, entende-se a adaptação como algo menos conflitante do que a luta e a mudança, e assim o pouco é o que nos resta e será a nossa opção de sobrevivência dentro do modelo que nos estampamos de felicidade.

Mesmo sabendo que podemos chegar a um local mais interessante ou que nos faça mais feliz, o não saber o que nos espera depois de um longo tempo percorrendo sempre os mesmos caminhos, nos causa um misto de medos e inseguranças. Nos percursos conhecidos os pontos de atenção ou de perigo são já identificados e assim podemos nos proteger. O desconhecido trás seu brilho, mas não nos apresenta as armas que deveremos usar, ou seja, para conhecer temos que nos permitir e nos arriscar.
Algo interessante a se perceber é o ponto de início, o começo do recomeço, quando a nossa esperança e vontade vencem o medo e nos impulsionam às nossas buscas e essência. O início do recomeço acontece quando as novas possibilidades se sobrepõem e mesmo com aquele frio na barriga que nos tira do eixo, seguimos em frente.

Independente de qual área seja o foco do recomeço, é importante lembrar que nunca partiremos no zero, da tábua rasa, pois somos seres moldáveis e construídos na soma das nossas experiências, e assim temos um repertório base para quando precisamos ou decidimos recomeçar. Na nossa história mesmo que em um novo caminho, carregamos na nossa mochila os nossos erros e acertos, sabores e dissabores, carregamos a nossa vida e o que queremos dela.

Portanto recomeçar, mesmo que sejam pequenos ciclos, nos impulsiona a sermos vigilantes de nós mesmos e guardiões da nossa vida. E nos tomar como prioridade, antes de parecer um pensamento egoísta, é um pensamento de busca da felicidade, pois podendo exercer a nossa verdadeira essência e nos sentindo felizes não nos pesará os esforços para fazermos felizes os que estão a nossa volta.

Muitas vezes é necessário pegarmos o volante da nossa vida e traçar nosso próprio caminho. Ousar colocar o pé no freio em um mundo de aparências e cobranças, que nos exige resultados e perfeição a todo custo, saber arriscar e rir de si mesmo, é para poucos. Por isso, devemos estar atentos a não transformar a nossa vida em uma corrida de performance, mas em um passeio contemplativo e leve, desfrutando cada curva e paisagem, refazendo caminhos quando preciso for.

O recomeço trás infinitas possibilidades que só conheceremos ao seguir nossos caminhos…e como diz brilhantemente o poeta Braulio Bessa: “Recomece, se refaça, relembre o que foi bom, reconstrua cada sonho, redescubra algum dom, reaprenda quando errar, rebole quando dançar, e se um dia, lá na frente, a vida der uma ré, recupere sua fé e RECOMECE novamente”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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