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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Cole Porter e o Rei do Cangaço

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publicado em 17/06/2020 às 09h09

Nestes dias de isolamento social, pandemia, Covid 19, a gente começa a matutar e a mente vagueia, e fiquei pensando o que pode ter em comum Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido por Lampião (1898-1938) e Cole Porter (1891-1964)? Aquele bastante conhecido no Brasil, virou lenda no nordeste por seus crimes e atrocidades. Este, músico e compositor americano mundialmente famoso, autor de canções como Night and day e I’ve Got you under may skin. Não tinham nada em comum e se desconheciam pessoalmente.

É possível que Cole Porter nunca tenha ouvido falar do cangaceiro pernambucano, entretanto sua obra foi apreciada por Lampião. Dizem que o Rei do Cangaço gostava de música e que foi o autor do hoje clássico Mulher Rendeira, que era sempre entoada pelo seu bando quando iam invadir uma cidadezinha interiorana.

Foi singrando as águas do rio São Francisco numa precária canoa que o cangaceiro conhecido por “governador do sertão”, na escura noite de 17 de abril de 1938, escutou o som de música agradável aos seus ouvidos. Percebeu uma barca e dela se aproximou, subindo a bordo. Ali estava uma banda de jazz proveniente da cidade de Pão de Açúcar. Lampião e seu bando causaram medo nos músicos. Mas o temido criminoso tinha seus momentos de generosidade e, para espanto geral, o Capitão Virgulino tirou do bornal um maço de dinheiro e deu pra cada músico 50 mil réis, pedindo que eles continuassem tocando.

E naquela noite todos beberam, dançaram e se deleitaram com a música de Cole Porter e também de Louis Armstrong. Outros ritmos foram executados pela banda, a exemplo de foxtrote, blues, valsa e marchinhas de carnaval. Nenhuma mulher foi molestada e nenhum homem foi agredido. E foi assim que o grande músico americano trouxe um pouco de paz para o coração atormentado do nosso Rei do Cangaço.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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