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Depois do Azul e Rosa

Ministra Damares Alves provoca nova polêmica ao criticar regra do Sisu

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publicado em 05/01/2019 às 13h48
atualizado em 05/01/2019 às 10h49

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos se envolveu numa nova polêmica. Depois de dizer que menino veste azul e menina veste rosa, Damares Alves criticou a regra do Sisu que permite ao estudante se candidatar a vaga universitária longe de onde a família mora.

A ministra Damares Alves falou sobre o Enem e o Sisu durante uma entrevista na noite da última quinta-feira (3) à Globonews. Não foi a primeira vez. Na terça-feira (1º), quando assumiu o cargo, Damares já tinha criticado a possiblidade de estudantes que fazem o Enem irem para universidades fora dos estados onde moram; porque ficam longe da família, segundo ela.

Na entrevista, Damares reafirmou seu entendimento: “O menino lá do Rio Grande do Sul faz o Enem, ele passa no vestibular para medicina lá no Amapá, que é o grande sonho dele e da família. Esse menino é tirado do contexto. Às vezes tem apenas 16 anos. Será que nós não poderíamos estar começando a pensar em políticas públicas, que este menino ficasse um pouco mais próximo da família? ‘Ah, mas em outros países acontece’. Mas nos outros países o papai tem dinheiro para ir lá na universidade visitar de vez em quando o filho”.

O Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, o Sisu, permite que estudantes aproveitem a nota do Enem para estudar em universidades de todo o país e não somente onde eles fizeram a prova.

Ainda na entrevista à Globonews, Damares Alves foi questionada se é papel do governo tratar de questões familiares, pessoais. Ela voltou a defender a atuação do Estado para fortalecer a união familiar: “O Estado não pode se omitir com relação ao enfraquecimento dos vínculos familiares. Nós estamos vindo com essa proposta. Sem interferência do Estado, mas o Estado podendo proporcionar políticas públicas de fortalecimento dos vínculos. E se o governo Bolsonaro se propõe a fazer isso, eu acredito que ele está no caminho certo, porque os modelos anteriores não estavam dando muito certo”.

Ao ser confrontada, na entrevista, sobre como seria possível fazer isso, a ministra não apontou nenhuma medida concreta. Disse que não era uma crítica ao Enem, e sim, uma ideologia de proteção à família. O ministério de Damares não cuida do Enem. É uma atribuição do Ministério da Educação.

A assessoria do ministro da Educação, Ricardo Velez Rodrigues, informou que “não cabe ao MEC comentar falas de ministros de outras pastas do governo”.

Em 2017, 10% do total de matriculados em instituições federais, mais de 31 mil alunos, estudavam fora dos seus estados de origem.

Sair de casa atrás do sonho da universidade é uma realidade, não só no Brasil, mas em vários países. Nos Estados Unidos, é comum e até estimulado que os adolescentes estudem em outros estados, mesmo que isso custe mais caro.

A Doralice veio de São Paulo para estudar na Universidade de Brasília. Está cursando ciências sociais na UnB por meio do Sisu, usando a nota do Enem. É a primeira da família a entrar numa universidade.

Doralice diz que, longe de casa, está amadurecendo: “Você está longe da família, você precisa… Você tem uma liberdade muito grande, mas que demanda muita responsabilidade também. Você é responsável por si. Então, isso é um crescimento. Acho que é uma experiência única na vida de um estudante”.

Cleyton Gontijo, professor da Universidade de Brasília, criticou as declarações da ministra. Ele diz que Damares está questionando o direito de fazer escolhas individuais e reforçou que a fase acadêmica é o início da vida adulta.

“Eu acredito que foge um pouco desse discurso do que a gente pretende que é, de fato, do desenvolvimento. É o desenvolvimento pessoal, acadêmico, profissional. Do amadurecimento para a vida e para toda a sua realidade. Os vínculos com a família são extremamente importantes, mas hoje a família pode estar próxima do estudante, acompanhá-lo no seu dia a dia, necessariamente sem estar fisicamente ao lado. A fala da ministra, ao meu ver, pra se traduzir de maneira prática, seria apenas cerceando o direito de escolhas, reduzindo aquilo que hoje o Sisu já permite, que é escolher uma universidade fora da região onde o estudante resida. Ou seja, em qualquer lugar do Brasil”, afirma.

O pesquisador de educação Cláudio de Moura Castro também criticou. Disse que é preciso ter dados, estudos concretos, para afirmar que estudar longe de casa é um problema: “Isso é visto como uma forma de amadurecer, de ganhar responsabilidade, de desmamar da mãe, que fica aí levando bolinhos, levando isso, levando aquilo. É uma maneira de ganhar voo próprio. Se ela diz que muitos estão tendo problema, muitos são três? São mil, são 10 mil, são 50 mil? Se são três, esquece o problema. Se são mil, quem sabe? Se são 50 mil, nós temos um problema. Mas sem conhecer esses números não há como dizer se nós estamos diante de um problema que requer alguma atenção”.

Globo

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