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Odilon Fernandes – advogado, escritor, professor e procurador federal aposentado.

O perdão e a saúde

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publicado em 03/02/2018 às 10h27

É comum que tenhamos ressentimentos, mágoas, e até mesmo ódio, sendo isto geralmente em consequência de atos cometidos por pessoas que nos causam dor, e algumas destas são perpetradas por pessoas próximas a
nós e muitas outras por estranhos.

Vivemos uma mistificação de que tudo deve ser perdoado, quando na verdade algumas monstruosas ações não são passíveis de perdão, porém a maioria delas merece o nosso perdão, pois o perdão é algo que pode ser concedido por pessoas que possuem uma estrutura psicológica mais forte, especialmente quando voltadas para palavras e atitudes em que os perpetrados agem impulsivamente e sem intenção clara, evidente, de nos ferir ou de magoar, pessoas que cometem as ofensas em decorrência de impulsividade, de patologias, que não possuem consciência do mal que estão nos causando, porém não se pode omitir que algumas agressões são tão monstruosas que não temos condições de conceder o perdão, a exemplo de quem estupra uma criança, ligadas a nós consanguineamente e que são depositários de grande afetividade da nossa parte, a exemplo também dos que cometem barbáries, como estupros mesmo e causam lesões que não podemos deixar de carregar por toda a vida, como também os que causam a morte sem nenhuma razão de entes queridos das nossos vidas, referimo-nos a barbáries e atos
verdadeiramente monstruosos.

É verdade também que o perdão faz bem, quando conseguimos dá-lo as nossas vidas, pois o ódio, o rancor, a mágoa, as vezes são impossíveis de por nós humanos serem perdoados, tamanha a sua gravidade, mas sabemos que muitas vezes adoecemos para o resto da vida em decorrência de atos capazes de serem objetos da absorção passiva que qualquer ser humano, diante da nossa fragilidade e da violência que sofremos, e é verdade que quando isto ocorre deixam marcas, traumas, impossíveis de serem apagadas.

Existem máximas segundo os quais tudo pode ser perdoado como se fossemos deuses, e sabemos que nem os deuses perdoam se não existir a manifestação autêntica, convincente, verdadeira, profunda de quem causa males definidos como desumanos. Poucos têm coragem de dizer a verdade, segundo a qual nem todas as ações nefastas são passíveis do perdão.

Sabemos que a amargura trazida por atos altamente maléficos comumente trazem doenças sócio fisiológicas incapazes de gerar relevância, resiliência pelas pessoas por elas vitimadas, e sabemos também que o próprio Deus castiga os algozes de famílias inteiras quando cometidos atos criminosos de grande perversidade e sem motivação legal ou religiosa que os releve. A dor em algumas situações causam grandes lesões psiquiátricas, neurológicas, orgânicas que perduram por toda uma vida, bem como, que só o perdão é capaz de curá-las e que isto não é possível quando os responsáveis pelos malefícios causados agem sem nenhuma razão plausível como as capituladas na lei ou na espiritualidade. Acreditamos que em consonância com os ditames mais nobres da religião, da lei e da sociedade só se pode esperar o perdão da pessoa comum em situação da defesa da própria vida ou da de outrem, em alguns casos quando gerados e pautados em uma violenta emoção. Afirmamos isto com base em reconhecimentos empíricos e também científicos.

Perdoar edifica, cura muitos males, mas quando possível dentro dos valores e comportamentos aceitos por Deus e pela humanidade. Mas devemos viver com a realidade do dia a dia, mormente vivendo em um País que se mata, cometem-se atos terríveis sem nenhuma razão plausível capazes de serem objetos da compreensão de quem é humano.

O acompanhamento profissional competente, a compreensão, o carinho, a atenção e o afeto, são capazes de atenuar grandes dores, traumas, mas concluímos por dizer que nada é capaz da cura para algumas situações que se vive em decorrência única e exclusiva, derivados da pura maldade, simplesmente por sermos humanos e todos humanos tem limitações.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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