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Maria Fátima de Sousa recebe título de Doutor Honoris Causa

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publicado em 09/05/2014 às 15h38

 “É difícil definir a alegria que estou sentindo”. A frase emocionada é da paraibana Maria Fátima de Sousa que dedicou mais de 20 anos à consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e nesta quinta-feira (8) foi agraciada com o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Participaram da cerimônia os representantes da Universidade de Brasília (UnB), da UFPB e ainda agentes comunitários de Saúde. A honraria aconteceu no auditório Prof. Milton Paiva, na reitoria da UFPB. A reitora da Universidade Federal da Paraíba, Margareth Diniz; a vice-reitora da Unb, Sônia Báo; a diretora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), Lilian Marly de Paula, e o vice-diretor da Faculdade de Ciências da Saúde, Edgar Merchan Hamann, estavam entre os membros que complementaram à mesa.

De acordo com a reitora Margareth Diniz, o estatuto da UFPB permite conceder o título de Doutor Honoris Causa para pessoas extremamente especiais. “O Consuni [Conselho Universitário da Universidade Federal] ter votado e aprovado o título de Doutor Honoris Causa para Maria Fátima demonstra que, de fato, ela possui méritos. Ganha a UNB, a UFPB, a sociedade brasileira e a Saúde deste país. Fátima é uma paraibana fruto da UFPB que recebe a honra máxima. É muita satisfação”, explicou a reitora da UFPB.

Maria Fátima é natural de São José de Lagoa Tapada, no Sertão paraibano. Ela graduou-se em Enfermagem, pela UFPB, onde também fez residência em Medicina Preventiva e Social e mestrado em Ciências Sociais. Posteriormente, cursou doutorado em Ciências da Saúde na Universidade de Brasília, onde iniciou o pós-doutorado em Sociologia.

Como advocacy das ações comunitárias em saúde ocupou o aparelho de estado junto à Secretaria de Saúde da Paraíba, como Coordenadora do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), de 1991-1993, um projeto piloto para a estratégia nacional, para a qual foi deslocada em 1994 na condição de Gerente Nacional do PACS, a convite do Ministério da Saúde.

Ainda em 1994, o PACS dava origem ao Programa Saúde de Família (PSF), cuja estratégia política era promover a organização de redes integradas de saúde nos sistemas municipais inseridos em um contexto de decisão política e institucional de fortalecimento da Atenção Básica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela exerceu diferentes papeis na formulação e na implantação do PSF, entre eles o de promover articulações e negociações com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e com áreas afins do Ministério da Saúde, à luz da implantação do PACS; coordenar o processo de formação da rede de Coordenadores do PACS/PSF, prestando assessoria técnica, quando necessária em todas as Unidades federadas; e mobilizar a rede de coordenadores estaduais do PACS/PSF a dar visibilidade aos resultados dessas estratégias.

Atualmente, como Professora Adjunta III da Universidade de Brasília, junto ao Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) e como Coordenadora do Núcleo de Estudos de Saúde Pública, representa a Faculdade no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB (CEPE) e ainda eleita como membro do Conselho Universitário (CONSUNI), instância máxima da Universidade.

E, a partir da mesma Instituição Federal de Ensino Superior continua dedicando-se à tarefa de ampliar e qualificar o PACS/PSF, nos âmbitos do ensino, pesquisa e extensão, rumo à promoção de programas de saúde e avanços consideráveis no aumento da cobertura e da qualidade da atenção no país.

A vice-reitora da UnB, Sônia Báo, explicou que o título concedido pela UFPB para Maria Fátima é um reconhecimento por todo o trabalho realizado pela professora na área da Saúde. “Fátima é uma pessoa mediadora que consegue agregar. Acho a homenagem bonita e merecida pela trajetória dela na Saúde. É o reconhecimento da escola que a formou. As instituições brasileiras precisam fazer mais esse tipo de homenagem até porque assim reconhecem o próprio trabalho da instituição de ensino”, disse Sônia Báo.

Passados 22 e 19 anos, respectivamente da implantação do PACS/PSF, hoje o Brasil conta com 320.970 agentes implantados, beneficiando 124.807.765 pessoas, 64,34% da população, distribuída em 5.417 municípios qualificados. Quanto ao PSF, este por sua vez, conta com 43.376 equipes implantadas, beneficiando 108.096.363 pessoas, o que representa 55,73% da população.

Em virtude desse trabalho, desenvolvido por mais de uma década, recebeu em 2010, em Washington/EUA, o Prêmio Sérgio Arouca para a Excelência em Atenção Universal à Saúde, concedido pela Fundação Pan-Americana para a Saúde e Educação (PAHEF) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Sempre se manteve atenta aos movimentos do sanitarismo brasileiro e assim foi eleita vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), para a gestão 2013-2015. E em julho de 2013, recebeu das mãos do Presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Antônio Carlos F. Nardi, e do Ministro de Estado da Saúde, Alexandre Padilha, a medalha Dom Helder Câmara, em homenagem ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACs, do qual foi a primeira coordenadora. O evento ocorreu durante a sessão solene de abertura do XXIX Congresso Nacional do CONASEMS, em Brasília.

Mesmo com todos esses prêmios, Maria Fátima explicou que o título de Doutor Honoris Causa tem um ‘gostinho’ especial. “Diante de todos os prêmios que já recebi, este tem um sentido diferente. É a minha casa (a UFPB) reconhecendo o meu trabalho. Retornar aqui para essa casa quase 30 anos depois é gratificante”, disse. Entre as conquistas importantes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa Saúde de Família (PSF), Fátima citou a queda na taxa de mortalidade infantil, mas afirmou que mesmo com o sucesso o sistema enfrenta desafios. “Passados 25 anos temos a tarefa de fortalecer o sistema. Cito aqui três desafios: financiamento, gestão e formação de recurso humano”, afirmou Fátima.

Em seu discurso a professora, visualmente emocionada, citou diversos pensadores como Paulo Freire, Hannah Arendt, Blaise Pascal, Jean-Paul Sartre e o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Ela relembrou da infância em São José de Lagoa Tapada, do período que era estudante de enfermagem na UFPB e da própria carreira profissional. “O dia de hoje ficará marcado”, finalizou a professora Fátima.

Da Assessoria

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