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Jornalista desde 2007 pela UFPB. Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba. Colunista, apresentador de rádio e TV. Contato com a Coluna: [email protected]

Uma carta pra mainha

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publicado em 09/05/2010 às 09h07

Às vezes a senhora pode até pensar que lembra mais do que é lembrada. Eu entendo. No universo materno o sol sempre gira em torno do planeta filho.

Se às vezes faltam gestos, ligações, declarações, cartas, palavras… Em silêncio sobram lembranças, gratidão e amor incondicional.

Não há um só passo nessa caminhada, agora distante 450 km, que não seja fruto das tuas mãos firmes a segurar as minhas para me sustentar da queda e me levantar para a vitória.

Eu sei que lá no íntimo do teu coração, a falta de oportunidade de tocar um currículo profissional e cursar uma universidade, hoje em nada lhe faz falta porque teus anseios humildes estão saciados nos diplomas, empregos e projetos do teu filho.

Hoje desfrutando da dádiva de ser pai, dimensiono como foi duro, perverso e dolorido pra senhora criar dois filhos em condições tão adversas, sem companheiro e amparada tão somente pelas mãos encorajadoras de dona Nuita.

Tenha certeza, não esquecerei cada vez que colocastes uma sacola nas costas, repleta de produtos da Avon para vender de casa em casa.

Jamais deixarei de lembrar que voluntariamente arregimentava livros usados, de alunos de melhor poder financeiro, para vender e com o saldo fazer teu filho ter o material para estudar em colégio particular, pago tão penosamente.

Sei que deves ter derramado muitas lágrimas durante toda esta trajetória. Sei que procurastes silenciar para que teus filhos não conhecessem teu sofrimento interior.

Sei o preço que pagastes para tocar em frente, sendo mãe tão jovem sem marido, vivendo em cidade tão pequena e dominada pelo preconceito.
Em silêncio, também, senti o gosto amargo de tantas humilhações.

Testemunhei os dois momentos mais marcantes de tua vida.

O primeiro de intensa alegria: ao receber com orgulho na escada da festa de formatura, o filho diplomado as custas de tanto suor e lágrimas.

Noutro momento completamente adverso: receber de meus braços teu grande amor, meu amado irmão Hernon, dormindo eternamente com a mesma roupa que ele escolheu comigo para festejar minha colação de grau.

Enxugue as lágrimas. A saudade que domina nossos corações é sinal do tamanho do nosso amor por ele. Fique em paz, Hernon está em paz. O coração dele sempre foi maior que os caminhos traiçoeiros deste mundo.

Respire fundo. Mais cedo ou mais tarde, estaremos todos nós em comunhão no plano preparado por Deus. Aí sim, nos juntaremos no abraço eterno.

Por enquanto, ele e Deus querem que nós continuemos a missão terrena. Vamos seguir em frente levados pelo sentimento de fé e esperança na mensagem de Jesus Cristo, nosso Único Salvador.

Cada vez que o coração apertar, sorria e lembre da nossa infância feliz no quintal de casa. Lembre de nossas travessuras. Lembre de nossos beijos, de nossas cantigas na rede. Lembre que seus três filhos (Heron Cid, Hernon Hilário e Hanna Vitória) te amam e de ti se orgulham.

E quando a saudade insistir em bater na tua porta, feche os olhos e pense como foi bom ser mãe e dar luz a vida de teus filhos.

Cada vez que o controle remoto da tv for acionado e reconheceres um rosto familiar na tela, lembre-se: aí está materializado o teu sonho.

Cada vez que o rádio ecoar uma voz parecida com a de José Maria Madrid, não esqueça: as ondas sonoras propagam toda a tua luta para fazer real um ideal antes tão distante.

Cada vez que ao ler um artigo na internet ou no jornal sentires orgulho do autor, se alegre: todas tuas noites de pouco sono e dias de trabalho valeram a pena.

Um beijo do seu filho.

Heron Cid Cesar

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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