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Artesãs de JP se emocionam ao verem trabalho no SPFW

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publicado em 16/04/2015 às 09h55
atualizado em 16/04/2015 às 07h58

Olhos vidrados, sorrisos abertos e celulares registrando cada segundo. Eram moradores da Penha, que se reuniram na tarde dessa quarta-feira (15) para verem um trabalho que nasceu no bairro ganhar o país. Eles assistiram ao desfile do designer Ronaldo Fraga para o São Paulo Fashion Week, que teve como destaque as biojoias produzidas pelas artesãs locais, as Sereias da Penha. “Foi como ver a nossa comunidade inteira lá, sendo mostrada para o mundo”, afirmou a artesã Sebastiana Pereira.

A população chegou aos poucos na Associação de Moradores da Penha, onde a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) montou uma estrutura para exibir o desfile. Entre o grupo, duas mulheres se destacavam. Uma delas era Sebastiana, de 41 anos. A outra era Maria da Paz Alves, de 59. São duas sereias, que acabaram ficando na Penha por ter medo de andar de avião, enquanto outras 13 colegas foram assistir ao desfile in loco a convite do designer.

“Vou aplaudir daqui mesmo. Queria muito estar com elas e ver o nosso trabalho sendo tão valorizado, mas vou rezar pra dar tudo certo e tenho certeza que elas vão lembrar de mim na hora”, afirmou Sebastiana. Ela também falou na importância que o projeto, uma parceria da PMJP com o Sebrae e o Instituto Federal da Paraíba (IFPB), teve na sua vida e na de suas amigas. “Nós aprendemos muito e ganhamos uma profissão. Esse é só o início de uma história que temos certeza que vai dar certo”, afirmou.

Quando o desfile começou, o silêncio tomou conta do ambiente. A não ser quando as peças que nasceram em suas mãos apareciam no corpo das modelos. “Esse colar deu muito trabalho”, cochichou Sebastiana. “Aquele cinto ali fui eu que fiz”, contou dona Maria da Paz em tom de orgulho.

Foi só quando as luzes se apagaram que os olhos desgrudaram da tela. “Meu coração está saindo pela boca. Imagino como minhas colegas devem estar”, disse Sebastiana. “É muito bom ver o nosso trabalho sendo reconhecido assim e é uma alegria poder ver isso, porque sei que minhas amigas iam chegar cheias de história, mas quando a gente vê é diferente”, complementou, já se preparando para rever a gravação que fez pelo celular.

Dona Maria da Penha disse estar emocionada. “Vi minhas peças e é difícil de acreditar. Quando a gente está trabalhando, produzindo, não imagina que isso chega tão longe. Agora eu sinto que é tudo de verdade”, afirmou a artesã, que também disse ter encontrado uma profissão com o projeto Sereias da Penha. “Eu era dona de casa, mas descobri que sou capaz de fazer muito mais”.

Quem também não piscou foi dona Ana Maria da Silva, de 63, anos. Ela não é artesã, mas foi conferir o trabalho da filha Michelly, uma das sereias que foi para São Paulo. “Este projeto mudou a vida dela. Ela ficou muito mais feliz e confiante, ganhando seu próprio dinheiro. Já está fazendo planos de criar e vender novas peças. Eu fico feliz e orgulhosa por ver que realmente deu certo. Não acreditava que uma coisa como essa pudesse acontecer com gente como nós”, declarou.

O vice-presidente da Associação de Moradores, Bruno dos Santos, afirmou que o projeto mudou a comunidade como um todo. “É a primeira vez que acontece algo assim na nossa comunidade. É um projeto que usou nossos recursos naturais, nosso povo e que está mostrando resultados, levando o nosso nome para o país inteiro”, afirmou.

Sereias da Penha – O projeto é uma parceria da PMJP, por meio do programa João Pessoa Artesã (JPA), o IFPB e o Sebrae. As sereias são artesãs das praias da Penha e Jacarapé, que participaram do curso de biojoias, pelo Pronatec Mulheres Mil, e acabaram chamando atenção pela produção de peças utilizando a escama de peixe como matéria-prima.

A parceria entre as instituições possibilitou a vinda do designer mineiro Ronaldo Fraga, que ministrou cursos de aperfeiçoamento e incorporou o uso de novas técnicas e novos materiais (fios de cobre e inox e linha de pesca), trazendo mais qualidade para as peças e um maior senso estético para as artesãs. A participação do mineiro resultou na criação de duas coleções, tendo a segunda delas sendo apresentada no São Paulo Fashion Week.
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