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'HÉLIO SHOW'

MaisPB encontra ex-goleiro do Botafogo-PB, que venceu o Flamengo no Maracanã

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publicado em 23/01/2015 às 09h07
atualizado em 28/01/2015 às 19h05

HÉLIO SHOW6 de março de 1980. Um dia para entrar para a história do futebol brasileiro para sempre. O Flamengo de Zico, time que viria a ser campeão do Mundo no ano seguinte, não resistiu ao Botafogo da Paraíba. E para dar mais emoção, em pleno Maracanã. O placar? 2 a 1 para o time paraibano, que saiu na frente com um gol de Soares, e depois desempatou a partida com um gol de Zé Eduardo. O Flamengo descontou com Tita.

O jogo era válido pela primeira fase do Campeonato Brasileiro daquele ano e marcou a geração do Belo, que viu de perto o que se pode chamar do mais importante jogo de toda a história do clube até então.

Praticamente 35 anos depois, o Portal MaisPB foi até a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, para conversar com um dos personagens mais importantes daquela partida: o goleiroHélio Ribeiro Alves, ou simplesmente Hélio Show, assim era conhecido o homem que parou Zico e companhia.

Hoje, aos 65 anos, Hélio ganha a vida como bugueiro na capital potiguar, onde casou e constituiu família. Em entrevista exclusiva ao repórter Alexandre Freire, do Portal MaisPB, Héliorelembrou dos áureos tempos em que atuou na meta de grandes times do país e fez questão de avisar aos amigos da Paraíba que estava bem. “Avisa lá ao pessoal que eu estou vivo”, brincou o ex-atleta ao falar da época em que atuou no estado.

Ao longo da carreira, Hélio Show jogou em times como o América de Natal, ABC, Ceará, Fortaleza e Portuguesa de Desportos. Na Paraíba, além do Botafogo, o ex-atleta defendeu por duas vezes as cores do Treze, de Campina Grande. Durante a entrevista, ele também analisou o atual cenário do futebol brasileiro e aconselhou os jovens que pensam em tentar carreira no esporte.

Confira, na íntegra, a entrevista exclusiva ao Portal MaisPB:

MaisPB: Hélio, como foi o início da sua carreira como jogador de futebol?

Hélio Show: Sou cearense, criado em Fortaleza, aí comecei a jogar no gol do Ceará. Isso foi na década de 70, quando tínhamos o Campeonato Brasileiro e Copa Brasil, e com isso eu me destaquei jogando contra o Santos de Pelé, jogando contra o Flamengo de Zico começando, do Corinthians de Rivelino, do Palmeiras. Então, do Ceará, eu fui transferido para o ABC de Natal, em 1975. Do ABC, fui vendido para a Portuguesa de Desportos em 1979, e depois retornei para o Nordeste. Quando eu vim de férias para Natal, o Botafogo de João Pessoa me procurou para o Campeonato Brasileiro, aí eu aceitei passar um ano, e foi uma fase que o Botafogo ganhou do Flamengo, ganhou do Internacional, ganhou de uma porção de time grande. Nós nos classificamos em 2º lugar na nossa chave. Depois do Botafogo, eu me transferi para o Treze de Campina Grande, que fazia quinze anos que não era campeão nem de um turno. Nós fomos tricampeões no Treze. Do Treze fui transferido para o Ferroviário de Fortaleza, passei uma etapa lá, depois voltei para o Treze de novo e do Treze eu vim para o América de Natal, onde fui bicampeão, quando encerrei minha carreira.

MaisPB: Como foi ganhar do Flamengo de Zico, no Maracanã?

Hélio Show: Você jogar no Maracanã, com três meses de salários atrasados e vencer, foi uma glória. Nós não tínhamos nem reservas. Nosso médico era o massagista e naquela época, o Flamengo era imbatível. O Flamengo campeão do Mundo, campeão brasileiro, foi uma emoção pro resto da vida.

MaisPB: Mudou algo como jogador?

Hélio Show: Nós passamos a ser mais respeitados, houve uma procura dos outros times e os jogadores se valorizaram. Eu mesmo cheguei a ser negociado cinco vezes por 500 mil cruzeiros.

MaisPB: O que é que você está achando do futebol no cenário atual? Há quem conteste o nível dos jogadores, principalmente no que se refere aos altos salários pagos atualmente.

Hélio Show: Eu, particularmente não posso reclamar da minha época, porque eu fui vendido cinco vezes por 500 mil naquela época. 500 mil cruzeiros, mas já era dinheiro, mas hoje, se eu jogasse hoje eu ia ficar milionário, porque é muito fácil jogar futebol hoje. Os jogadores de hoje têm uma mordomia enorme, que a gente não tinha isso. Pra você ter uma ideia, nós fomos jogar no Maracanã contra o Flamengo, o Botafogo só levou onze jogadores, porque não tinha reservas. O nosso time não tinha médico, o massagista era médico e massagista, hoje você tem uma mordomia enorme e o cara por qualquer besteira ele sai do jogo. Antigamente não era assim, mas infelizmente a época é diferente, jogadores que mandam um teipezinho (sic) para a Europa e são empregados ganhando milhões, então, a mágoa que eu tenho do futebol é essa , porque não teve o valor que você tem hoje. O jogador de hoje é uma mordomia.

MaisPB: A gente pode dizer que o futebol se transformou num negócio?

Hélio Show: Com certeza, mais para o empresário do que pro jogador. Os clubes brasileiros estão falidos por conta dessa arrumação de procurador, de empresário, de jogador, que não é mais do clube. O jogador, com um ou dois anos já sai do clube, ganha passe livre, é vendido pelo procurador, só que quem fica com dívida são os clubes.

MaisPB: Como é que você veio parar aqui no Rio Grande do Norte?

Hélio Show: É porque eu me casei aqui, tenho dois filhos aqui e eu encerrei  no América, porque eu quis encerrar aqui, não queria mais voltar para Fortaleza.

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MaisPB: Você encerrou sua carreira com quantos anos?

Hélio Show: Eu encerrei com 35 anos, parei novo, mas aqui é bom de viver, você vê que eu trabalho com buggy, trabalho no dia que eu quero, no dia que eu não quero, não trabalho. Então dá pra gente viver. Rico só fica se for jogador, como esses cobras do Brasil e do mundo ou se for ganhando na loteria.

MaisPB: Se você ainda jogasse e o valor pago fosse no padrão de antigamente, ganharia mais dinheiro como bugueiro ou goleiro?

Hélio Show: Como bugueiro. Como bugueiro, eu ganho R$ 500, R$ 600 por dia. Jogador de futebol não ganha isso por dia, naquela época não. Ganhava R$ 2 mil ou R$ 3 mil de salário, não ganhava nada.

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MaisPB: Qual seria o conselho que você podia transmitir para o jovem que pensa em ser jogador de futebol?

Hélio Show: Primeiramente, os jovens atletas que querem ser jogador ou não, ele tem que ter duas coisas: tentar jogar e estudar, porque se não der certo o futebol, ele tem estudo. Antigamente, os jogadores de futebol eram proibidos de estudar. Os treinadores, os clubes não deixavam estudar porque se não era marginal, ia para a rua beber, hoje não, hoje os jogadores têm uma mordomia de clube, com direito a academia, médico, nutricionista, então eles têm tudo, o que eles têm é de treinar e não procurar a se juntar com as pessoas erradas, porque hoje pessoas errada têm na porta do colégio, na porta do hospital, então o cara tem que se dedicar ao futebol e gostar do futebol.

Abaixo, a escalação da partida:

Botafogo-PB: Hélio, Gerailton, Deca, Marquinhos, Nonato Aires, Cláudio, Nicácio, Zé Eduardo, Evilásio, Dão, Getúlio, Magno e Soares. Técnico: Caiçara.

Flamengo-RJ: Raul, Rondinelli, Nélson, Júnior, Carlos Henrique, Carlos Alberto, Toninho Baiano, Adílio, Zico, Carpegiani, Andrade, Tita e Reinaldo.  Técnico: Cláudio Coutinho.

Alexandre Freire – MaisPB

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