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Megaoperação busca 96 PMs denunciados por corrupção

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publicado em 29/06/2017 às 11h35
atualizado em 29/06/2017 às 08h41

Uma megaoperação deflagrada na manhã desta quinta (29) busca a prisão de 96 policiais militares, 70 traficantes e outros criminosos denunciados por integrarem um esquema de corrupção em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo a corporação, esta é a maior ação da história relativa a casos de corrupção envolvendo PMs e traficantes.

A ação é realizada por agentes da Polícia Civil, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MP-RJ), e da Corregedoria da Polícia Militar. Dos 184 mandados de prisão preventiva, por volta das 11h20, os agentes já tinham cumprido 71, sendo 49 contra PMs (cinco deles já estavam presos) e 22 contra traficantes (15 anteriormente presos).

R$ 1 milhão por mês

Os 96 PMs alvos da operação foram denunciados por participação em um esquema de cobrança de propina a traficantes que rendia, mais ou menos, R$ 1 milhão por mês aos militares. Alguns desses policiais ainda estão nas fileiras do efetivo do 7º BPM (São Gonçalo).

A operação para prender os envolvidos, batizada de Calabar, conta com 800 agentes e 110 delegados, que deixaram a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, Zona Norte da cidade, às 5h.

Os policiais detidos irão responder por organização criminosa e corrupção passiva. Já os bandidos respondem por tráfico, organização criminosa e corrupção ativa.

Calabar

O nome Calabar é uma referência a Domingos Fernandes Calabar, considerado por muitos o maior traidor da história do país. Segundo historiadores, ele era um conhecido senhor de engenho no Brasil Colônia (século 17), na capitania de Pernambuco, e se aliou aos holandeses quando eles invadiram as terras brasileiras, na época sob domínio português. Conhecedor da região, teria ajudado nas conquistas holandesas.

A investigação mostra que os PMs atuavam como “varejistas do crime” e chegavam a ofertar serviços diversos a traficantes. Por exemplo, os militares escoltavam os chamados “bondes” de criminosos de um local a outro, e até alugavam armas da corporação, incluindo fuzis, aos traficantes.

Há casos também, segundo a polícia, de sequestros de traficantes realizados pelos PMs. Nas escutas, os agentes identificaram que os militares chegavam a cobrar R$ 10 mil pelo resgate de bandidos.

Outra das conclusões do inquérito é que todas as semanas, de quinta-feira a domingo, as viaturas do batalhão circulavam por ruas de São Gonçalo exclusivamente para recolher o “arrego” que, no jargão, é a quantia paga por criminosos a policiais para não atrapalhar os negócios de bandidos. O valor cobrado pelos PMs variava entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil para cada equipe de policiais que estava de plantão.

Agentes que investigaram o esquema estimam que a venda de favores e cobrança de dinheiro a traficantes rendesse, pelo menos, R$ 350 mil por semana aos PMs que estavam no Grupamento de Ações Táticas (GAT), Patrulha Tático Móvel (PATAMO), Serviço Reservado (P-2), no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) e Ocupação (uma espécie de “UPP” de São Gonçalo).

Início da investigação

O esquema foi descoberto há quase um ano pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG). A primeira pista do esquema surgiu a partir da prisão de um dos suspeitos apontado como responsável por recolher a propina para os policiais.

Ele foi preso em fevereiro de 2016, na Avenida do Contorno, com R$ 28 mil em espécie, que seriam relativos ao pagamento de propina de traficantes a policiais do 7º BPM (São Gonçalo). Na ocasião, agentes da delegacia de homicídios avaliava o local onde havia morrido um PM e desconfiaram de um carro que passou pelo viaduto diversas vezes. Decidiram, então, abordá-lo.

O suspeito preso aderiu à delação premiada (algo inédito no âmbito de segurança) e detalhou o esquema que envolvia centenas de policiais em mais de 50 comunidades do município. A principal testemunha foi incluída no sistema de proteção à vítima e testemunha.

O resultado de investigação só foi possível graças ao trabalho de escuta de agentes, que identificou 2 mil diálogos entre PMs e traficantes considerados “chaves” pela polícia para elaborar o inquérito e indiciar os suspeitos. Para chegar ao resultado, policiais da delegacia especializada interceptaram mais de 250 mil ligações.

G1

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