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Respeito e oportunidades mudam a vida das pessoas em situação de rua

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publicado em 09/04/2017 às 11h49

Homem dorme em entrada de supermercado. Crédito: Beto Pessoa

Boa parte das pessoas em situação de rua tem plena capacidade laboral, mas, devido a falta de oportunidades no mercado de trabalho, acabam desperdiçando anos da vida sem exercer qualquer função.

É claro que o atual cenário de crise econômica e alta na taxa de desemprego tem agravado esta problemática, entretanto muitas pessoas em situação de rua deixam de ser contratados pela resistência dos possíveis empregadores.

A assistente social Karla Michele atende pessoas em situação de rua. Ela destaca que muitos deles podem e querem trabalhar, mas só encontram portas fechadas quando buscam oportunidades no mercado de trabalho.

“São pessoas entre 29 e 59 anos, ou seja, têm condições e buscam trabalho, mas não conseguem. Sabemos que existe uma crise econômica no país, mas também ainda há muito preconceito para contratar essas pessoas. Na grande maioria são pessoas com relações familiares fragilizadas, muitos vêm de outras cidades em busca de novas oportunidades e não encontram. Passam a morar nas ruas e ficam ainda mais frágeis, porque não encontram outro caminho”, destacou a assistente social.

Domingos Geggini

Vindo de São Paulo, Domingos Geggini chegou em João Pessoa para conseguir um emprego que o ajudasse a reatar os laços com a filha, que deixou o Sudeste para morar com a mãe em Sertãozinho, interior da Paraíba. Na capital do estado, ele encontrou um cenário bem diferente do esperado, o que o obrigou a viver nas ruas.

“Só quem está na rua sabe o peso que é estar na rua. Morei um mês na praia de Tambaú. Fiquei sem contato com minha filha por oito anos e vim para João Pessoa tentar uma vaga de serviço aqui, ter um emprego, casa alugada no meu nome. Como não consegui nada disso, não consegui a guarda compartilhada da minha filha”, lembra.

Ele disse que, apesar de ter experiência no mercado, as portas continuaram fechadas. “O sentimento é de impossibilidade. Impossibilidade porque você sabe que poderia estar trabalhando, mas é impossibilitado. Tenho vários amigos qualificados para trabalhar em sua profissão e não conseguem”.

Além do comércio, Domingos Geggini nasceu com talento para desenho. Nunca estudou as técnicas do traçado, mas com força de vontade foi aprimorando o dom de desenhar. Ao MaisTV, canal do Portal MaisPB, ele contou mais da sua história, que pode ser conferida no vídeo abaixo.

Das calçadas de Tambaú, para um emprego no mesmo bairro: depois de um mês vivendo na rua, Domingos Geggini buscou atendimento na Casa de Acolhida II, um dos centros de referência que atende pessoas em situação de rua em João Pessoa, realizou novas entrevistas de emprego e agora espera ser chamado para trabalhar no comércio.

“Quando eu estava na rua eu estava vulnerável. Agora as perspectivas mudaram. Apareceram umas oportunidades de emprego para mim, fiz uma seleção num açougue em Tambaú e estou esperando ser chamado”, disse Domingos Geggini.

Karla Michele, assistente social da Casa Adulto 2, disse que a história de Domingos Geggini é similar a de muitos outros, que só precisam de uma “mão” para alterar o próprio destino.

“Muitos buscam oportunidade, não encontram e se sentem menos humanos por isso. Acabam entrando em caminhos que podem não ter volta. Nosso trabalho é fazer essa “ponte”, regularizar a situação daqueles que não têm documentação e tentar inseri-los no mercado. Isso é mais que dar emprego, é fazer com que essas pessoas passem a sentir que têm uma vida de fato”, destacou a profissional.

Morador de rua na Praça Castro Pinto. Crédito: Bruno Lira

Outro que há muito tempo tem negado o direito ao trabalho é Adailton Inácio dos Santos, de 42 anos, há 20 anos em situação de rua. “Tem muito tempo que vivo na rua. Já trabalhei no comércio, já trabalhei na construção civil, trabalho pesado mesmo, braçal. Mas hoje não encontro nada. A gente tem seis meses para ficar na Casa Adulto, conseguimos fazer uns ‘bicos’, mas ninguém contrata de verdade. Como podemos ganhar nossa vida, ter independência se não tivermos oportunidades?”.

Adailton Inácio, há 20 anos nas ruas

Dificuldade de mapeamento

Um  dos obstáculos para promover ações que diminuam as pessoas em situação de rua está ligado à dificuldade de mapeamento desses indivíduos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tenta há anos desenvolver uma metodologia que mensure este cenário, mas a constante mudança dessas pessoas impede um resultado mais preciso.

Segundo informações da assessoria de imprensa do IBGE, toda pesquisa do instituto está ancorada nos domicílios particulares permanentes. Como as pessoas em situação de rua se deslocam e mudam de lugar muitas vezes durante a semana, acaba impossibilitando resultados precisos.

Serviços públicos auxiliam moradores

João Pessoa possui três Centros de Referência para acolhimento das pessoas em situação de rua. A Casa de Acolhimento Adulto I e Casa de Acolhimento Adulto II, cada uma com capacidade para 35 acolhidos. Elas atendem 24 horas por dia, podendo o interno ficar até 6 meses morando no local.

O terceiro espaço administrado pela prefeitura, chamado CentroPOP, tem capacidade para 40 pessoas e funciona durante o dia, realizando trabalhos de higienização e alimentação. No período da noite, as pessoas retornam às ruas.

Outra ação da prefeitura é realizada pela equipe de Serviço Especializado em Abordagem Social (Ruartes), onde são identificadas as pessoas nas ruas e é proposto acolhimento institucional ou recambio. Muitas pessoas vem à Capital vindo das cidades do interior do estado, quando identificadas são devolvidas ao convívio familiar, desde que estejam dispostas.

Beto Pessoa e Bruno Lira – MaisPB

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