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'GUERRA'

Donaldo Trump e Putin ameaçam ampliar arsenal nuclear

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publicado em 24/12/2016 às 09h57
atualizado em 24/12/2016 às 06h58

Na base da metáfora — ainda bem —, a “guerra” de palavras entre os amigos Donald Trump e Vladimir Putin caiu como uma bomba na comunidade internacional. Nas últimas quinta (22) e sexta (23), eles foram enfáticos ao prometerem aumentar o poderio nuclear dos Estados Unidos e da Rússia, respectivamente.

O mês de dezembro parece mesmo querer se manter como a cara do pai, neste caso o ano inteiro de 2016, cheio de turbulências: atentados em Berlim e Ancara e tendência à xenofobia, que levou inclusive à saída do Reino Unido da União Europeia, em junho. Não bastasse isso, na véspera de Natal, Trump e o líder russo mesclam uma troca de elogios à promessa de aumentarem a capacidade atômica de seus respectivos países. Para depois trocarem mensagens de feliz 2017, com uma ceia, possivelmente, indigesta para aqueles que já viram muitos conflitos começarem desta maneira.

Seria, no entanto, verdadeira essa intenção, que, se confirmada, poderia colocar o mundo à beira de uma guerra nuclear? Tudo o que Trump fez até agora foi falar, mas, apesar de arrefecer seu discurso depois de vencer as eleições em novembro, formou um gabinente tão conservador quanto suas promessas de campanha. Resta saber se, na sua posse, no próximo dia 20, ele assumirá essa fala ameaçadora ou apenas a presidência dos Estados Unidos, o que já é muito, diga-se de passagem.

A professora de Relações Internacionais da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Marília Carolina de Souza, vê nos interesses em comum, de manter apoio das bases e atrair investimentos, o objetivo por trás do discurso belicista tanto de Trump quanto de Putin. Segundo ela, um conflito nuclear neste momento é algo muito difícil de ocorrer. As ameaças, segundo ela, são jogo de cena. Após as declarações de Trump, ações de empresas de urânio e de tecnologia tiveram significativas altas.

— Nos Estados Unidos, há empresas voltadas para o setor armamentista que são setores de apoio conservador Partido Republicano. Trump faz um discurso que cabe dentro dessa parcela importante da composição de sua sustentação política. Mas se olharmos para as necessidades internas dos EUA, a prioridade é voltar a impulsionar o comércio, a ter investimentos. A questão de arsenal nuclear parece ser bravata. O Trump é um negociador, foi eleito até por isso: por menos ideologia e mais negócios.

Putin, por sua vez, agiu de maneira drástica diante de seus interesses, no rastro da anexação da Crimeia em 2014 e da intransigente estratégia na Guerra da Síria, que, segundo alguns especialistas, ajudou a aumentar a carnificina do conflito.

A questão é até onde ele, acuado por sanções do Ocidente, pode ir, justamente pelo fato de, no momento, estar acuado. Marília também acredita que o líder russo esteja tentando pressionar a comunidade internacional para que os investimentos e o comércio novamente se direcionem para o território russo.

— O objetivo do Putin é semelhante, mas tem uma diferença: ele precisa retomar com urgência investimentos, a sociedade russa está sofrendo com as sanções. Só que ele não quer fazer isso a qualquer preço, ele precisa legitimar sua autoridade internamente e adota um discurso duro para o mundo justamente para mostrar força e voltar a atrair negócios. São interesses parecidos.

O arsenal de ambos também é parecido. Segundo estatísticas de 2016 da Federation of American Scientists, a Rússia tem 1.790 ogivas ativas em um total de 7.300. Os Estados Unidos têm 1.750 ogivas ativas dentro de um total de 6.970. Os dois países estão entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas — todos assumidamente com armas nucleares.

Semelhanças

Trump é um bilionário, de excêntricos cabelos claros, com estilo falastrão e investimentos pelo mundo, inclusive na Rússia. Putin também tem cabelos claros, em menor quantidade,  e é acusado de ter se tornado bilionário, com investimentos em várias partes do mundo, principalmente a partir da divisão de empresas da antiga União Soviética.

 As diferenças até agora aparentam ser poucas. Uma, é a bebida. Trump é abstêmio e prefere uma Coca-Cola. Putin, mesmo tendo iniciado uma campanha contra o alcoolismo, aprecia uma boa vodka. E ambos são adeptos de requintados jantares de gala com trajes elegantes e boa mesa, que inspiram importantes decisões e acordos.

Pelo que se vê, muitas coisas em comum entre ambos fazem com que o discurso seja semelhante. E a troca de elogios pessoais seja contínua. Trump, neste ano, já comentou que Putin “é um líder forte, é um líder poderoso. Representa seu país”.

Putin, do seu lado, rasgou elogios ao americano, ao declarar, durante a campanha americana, que “Trump é uma pessoa brilhante e talentosa e líder absoluto na corrida presidencial”. Os dois trocaram até gentis mensagens de Boas Festas. Marília diz que tal semelhança também é estratégica.

— Sem dúvida, mostrando força eles acham que fica mais fácil atrair investimento. Mais do que as palavras é preciso separar o que é discurso até o limite do aceitável, para manter o apoio interno, da real necessidade de cada um.

A preferência de Putin por Trump na presidência levou inclusive a CIA e o presidente Barack Obama a acusarem o presidente russo de permitir que uma rede de hackers interferisse para a vitória dos republicanos nas últimas eleições.

A afinidade de discursos entre ambos, conforme constata a professora Marília, é tão simétrica que os colegas prometem aumentar a capacidade nuclear de seus países enquanto trocam afagos.

Isso, ironicamente, seria uma iniciativa que, de qualquer maneira, potencializaria o risco de uma guerra nuclear de um contra o outro. O pior é que, caso um dia algum conflito se iniciar, a velha frase, e um tanto cínica, se encaixaria perfeitamente à relação entre os “parceiros” Trump e Putin, diante de um mundo à beira do abismo: “Amigos, amigos, negócios à parte”.

R7

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