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Milícia mata 13 políticos na Baixada Fluminense

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publicado em 10/09/2016 às 08h53

O assassinato de 13 pessoas envolvidas com política, entre novembro de 2015 e agosto de 2016, na Baixada Fluminense, gerou alerta para autoridades públicas e eleitores. Mas, apesar do temor de que as mortes tenham relação com as eleições deste ano, a Divisão de Homicídios da Baixada (DHBF) apontou motivos distintos para os crimes. O G1 listou as vítimas, os locais das mortes e as principais linhas de investigação da Polícia Civil (veja abaixo).

Arte com mapa dos assassinatos com suspeita de relação eleitoral na Baixada Fluminense. (Foto: Editoria de Arte / G1)

Segundo o delegado Giniton Lages, da DHBF, só dois homicídios têm motivos políticos aparentes: o de Geraldo Cardoso, baleado dentro da Câmara Municipal, e o de Luciano DJ, ambos em Magé.

Na quinta-feira (9), a polícia revelou que as mortes de três pessoas em Duque de Caxias, crimes que serviram como estopim para a investigação, não tiveram relação com brigas políticas, e sim com conflitos entre envolvidos com uma milícia que furtava óleo de dutos da Petrobras no município.

A violência em Caxias provocou até a visita do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, que afirmou ter enviado ofício ao Ministério da Justiça solicitando que a Polícia Federal ficasse responsável pelas investigações.

Das três vítimas, Sérgio da Conceição Almeida, o Berém do Pilar, e Leandro da Silva Lopes, o Leandrinho, eram pré-candidatos ao cargo de vereador, respectivamente pelo PSL e pelo PSDB. Denivaldo Meireles, segundo depoimentos dados à polícia, pretendia se lançar candidato, mas não tinha partido definido até a data do crime.

“Esses casos são os mais simbólicos e os mais violentos. As investigações mostram que as vítimas retiravam óleo e combustível de dutos da Petrobras na região, com lucro muito alto”, explicou o delegado responsável pelo caso, Giniton Lages, acrescentando que as mortes ocorreram por divergências dentro deste grupo paramilitar.

Conheça o perfil de cada uma das vítimas e saiba como está a investigação de cada um destes 13 casos.

Motivação política

Geraldo foi morto a tiros dentro da Câmara de Vereadores (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Geraldo foi morto a tiros dentro da Câmara de Magé
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Geraldo Cardoso Gerpe (Geraldão)
Geraldo Cardoso, vereador do PSB em Magé, foi morto dentro da Câmara de Vereadores, com três tirosno dia 13 de janeiro. Ele foi atacado no caminho entre o gabinete e o estacionamento.
Após a morte do vereador, o prefeito Nestor Vidal foi cassado, e assumiu o cargo o até então presidente da Câmara, Rafael Tubarão (PPS). Segundo as investigações, Geraldo coordenava uma das comissões especiais de inquérito (CEI) da casa, e lutava para tentar cassar Vidal por irregularidades em contratos com unidades de saúde. “Quem o matou ali dentro tinha privilégio de informação. Ele morreu abraçado com a pasta que tinha todos os documentos da CEI. A DHBF não pode fechar os olhos para isso”, explicou Giniton.

Luciano saía de festa quando foi assassinado (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Luciano saía de festa quando foi assassinado
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Luciano Nascimento Batista (Luciano DJ)
O caso de Luciano Nascimento Batista, conhecido como Luciano DJ, também aponta para os mesmos elementos. De acordo com as investigações, o processo na Câmara Municipal estaria inclusive mais avançado do que em Magé para a cassação do prefeito. “Luciano era da oposição e, certamente, votaria a favor da cassação do prefeito. No dia da sessão, no entanto, ele faltou, e o prefeito conseguiu depois suspender o processo. No dia 15 de novembro de 2015, Luciano apareceu morto”, conta Lages. O vereador foi morto ao sair de uma casa noturna em que atuava como DJ no município. A polícia investiga ainda a ligação entre Luciano e Júlio César Fraga Reis, morto em agosto de 2016. Segundo a investigação, ambos eram amigos. Luciano já havia sido dono de linhas de vans no passado.


Mortos pelo tráfico de drogas

Marco Aurélio era vereador em Paracambi (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Marco Aurélio foi morto com mais de sete tiros
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Marco Aurélio Lopes
Vereador do PP em Paracambi, ele foi morto com mais de sete tiros disparados contra ele na varanda da casa dos pais, no bairro do Sabugo. O crime ocorreu no dia 17 de dezembro de 2015. Os parentes disseram que não acreditavam que a motivação do crime fosse política, pois o vereador era muito querido na cidade. Segundo a investigação, os principais indícios apontam que o homicídio tenha sido motivado pelo enfrentamento ao tráfico na região.

Aga Lopes foi morta em julho em Magé (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Aga Lopes foi morta em julho em Magé
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Aga Lopes Pinheiro
Pré-candidata pelo DEM em Magé, Aga morreu no fim da noite de 12 de julho de 2016. Ela tinha 49 anos, era presidente da associação de moradores do bairro Barbuda e pré-candidata a vereadora pelo DEM. Segundo as investigações, a luta de Aga contra o tráfico de drogas na região motivou sua morte. Testemunhas afirmaram que quatro suspeitos desceram de um carro e fizeram vários disparos contra a vítima, que estava num bar na rua em que morava. O marido de Aga, que estava com ela, não ficou ferido.

Anderson Gomes Vieira foi assassinado perto de casa em Nova Iguaçu (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Anderson Gomes foi assassinado perto de casa
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Anderson Gomes Vieira (Soró)
O pré-candidato pelo PRB em Nova Iguaçu era professor e membro do conselho comunitário de segurança de Nova Iguaçu. Segundo a polícia, ele tentava lutar contra a atuação do tráfico e aumentar a segurança na região do bairro do Corumbá, onde morava. Vítima de tiros no tórax, abdômen, perna, braço e no rosto, Anderson foi atendido e encaminhado para o centro cirúrgico, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 1 de junho.


Mortos pelamilícia

Manoel era policial militar em Nova Iguaçu (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Manoel era policial militar em Nova Iguaçu
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Manoel Primo Lisboa
O caso de Manoel Primo Lisboa, policial militar e que já havia anunciado que seria candidato em Nova Iguaçu, teria sido protagonizado por milicianos. Ele foi morto no dia 17 de junho. Segundo a Polícia Civil, ele tentava impedir a entrada da milícia na região do Cabuçu e, por isso, teria sido executado. “As investigações apontam mais fortemente como sendo esse embate o fator gerador de homicídio”, disse o delegado Giniton Lages.

Denivaldo foi vítima de tiros em estacionamento de shopping (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Denivaldo foi morto em estacionamento de shopping
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Denivaldo Meireles
O segurança foi morto no dia 8 de julho em Duque de Caxias. De acordo com a Polícia Civil, o crime foi motivado por uma briga entre membros de uma milícia que furtava óleo de dutos da Petrobras. Imagens gravadas por câmeras de vigilância mostram ele sendo morto dentro do estacionamento do Caxias Shopping. Bandidos aparecem atirando contra o carro dele, onde também estavam a mulher e o filho. A mulher dele foi baleada e morreu quatro dias depois. Quem atirou usava camisas da Polícia Civil, segundo a polícia. Em depoimentos, amigos contaram que ele pretendia se candidatar, mas não havia definido o partido até a data do crime. Ele não possuía nenhum cargo político. Uma camisa da Polícia Civil com as mesmas características foi apreendida na casa de um dos suspeitos de participar da milícia, que conseguiu fugir. No local também foram arrecadas pistolas e outras armas.

Sergio Berém foi assassinado em estacionamento de shopping (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Sergio foi assassinado saindo de casa
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Sérgio da Conceição de Almeida Júnior (Berém do Pilar)
Sérgio Berém foi assassinado na porta de casa, em Duque de Caxias, no dia 2 de julho. Um vídeo mostra a vítima saindo de casa e, depois, entrando em um carro. Em seguida, dois homens em outro veículo atiram. Berém tenta escapar pela porta do carona, mas é atingido e cai. Os atiradores – encapuzados e usando luvas brancas – continuam os disparos. Depois, uma mulher sai da casa e se desespera ao ver o homem caído.

Leandro foi uma das vítimas em Duque de Caxias (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Leandro foi uma das vítimas em Duque de Caxias
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Leandro da Silva Lopes
Era pré-candidato pelo PSDB em Xerém, distrito de Duque de Caxias. Leandro, segundo a polícia, tinha duas passagens pela polícia por suspeita de homicídio e foi morto quando saía de um bar, no dia 8 de junho. Um tio da vítima, que não quis se identificar disse que ocomerciante foi surpreendido por três homens encapuzados e armados com fuzil e duas pistolas. “Ele ‘tava’ jogando sinuca, quando foi tomar um café e foi pagar o café no balcão. Foi quando ele virou de costas para a rua. Aí, o matador chegou, chegou atirando. ‘Chegaram’ atirando sem perdão, pelas costas dele. Sem chances de defesa”, afirmou.

“Sérgio, Leandro, Denivaldo, Júlio, todos eram de grupos de milícias que atuam em determinados bairros diferentes de Duque de Caxias. Isso já foi assim em Campo Grande, e agora grupos distintos coexistem. Em algum momento embates acabam ocorrendo”, disse Giniton Lages, responsável pelas investigações.

Julio Cesar era do PC do B em Seropédica (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Julio Cesar era filiado ao PC do B em Seropédica
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Julio Cesar Fraga Reis
Pré-candidato do PCdoB em Seropédica, ele era, segundo a polícia, amigo de Luciano DJ e foi morto no dia 20 de agosto quando saía de uma festa. A polícia descobriu que ele tinha negócios que conflitavam com a milícia. “Estamos tentando descobrir se houve divergências de negócios e política, ou apenas de negócios. A milícia, em um período eleitoral, precisa de poder. Então, ela precisa fazer apoios. O Júlio estava apoiando um candidato a prefeito, resta saber se é o mesmo grupo que a milícia também apoia”, explicou o delegado Giniton Lages.

Oswaldo já havia sido vice prefeito de Nilópolis (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Oswaldo já havia sido vice prefeito de Nilópolis
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Oswaldo da Costa Silva (Ratinho)
Ex-vice-prefeito de Nilópolis pelo PDT, o pré-candidato a vereador foi assassinado no município. Ele foi baleado na cabeça, na barriga e nas costas. “Ratinho” saía de casa, no Centro de Nilópolis, quando um homem encapuzado saiu de um carro prata e efetuou disparos contra ele. Ele não andava com seguranças. À época, a polícia civil já trabalhava com a hipótese de execução, porém a motivação do crime ainda não está clara, segundo a DHBF.


Mortos por motivo fútil

De acordo com a Polícia, pelo menos dois crimes não tiveram qualquer relação com situações envolvendo política ou criminalidade, e sim com discussões pessoais e problemas passionais.

Nelson Gomes Souza foi morto em São João de Meriti (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Nelson Gomes foi morto em São João de Meriti
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Nelson Gomes Souza
Ex-vereador (PMN) em São João de Meriti ele morreu baleado após briga de trânsito em 16 de dezembro de 2015. “Ao tentar desviar de um ônibus, Nelson acerta duas pessoas em uma moto e saca uma arma durante a discussão. O da garupa foge, ele agride o condutor da moto. Eles voltam com um carro, no mesmo local da discussão, e dão vários tiros em Nelson””, explicou Lages. Segundo ele, os dois responsáveis pelo crime já foram indiciados por homicídio doloso.

Darley foi vítima de crime passional (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Darley foi vítima de crime passional, segundo a DHBF
(Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Darley Gonçalves Braga
O pré-candidato pelo PTB em Paracambi foi o primeiro caso a ter a investigação concluída. “A investigação aponta para um crime passional”, disse Lages. Segundo o delegado, um ex-namorado da então esposa de Darley foi o responsável pelo crime. O suspeito foi preso.

G1

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