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Mulher morre de hemorragia interna após aborto em clínica clandestina

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publicado em 06/09/2016 às 14h21
atualizado em 06/09/2016 às 11h50

A morte de Caroline de Souza Carneiro, de 28 anos, após realizar um aborto em uma clínica clandestina do Rio, ocorreu devido a uma hemorragia interna em consequência de complicação da cirurgia. A conclusão é de um laudo pericial feito pela Polícia Civil, ao qual o G1 teve acesso nesta terça-feira (6).

De acordo com o texto, havia sangue coagulado na cavidade uterina da vítima, além de um corte de 18 cm na altura da região do baixo ventre, em que é feito o procedimento da cesariana. Havia ainda escoriações no cotovelo e joelhos.

O delegado da 21ª DP (Bonsucesso), Wellington Vieira, pretende indiciar os responsáveis por associação criminosa, homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar) e ocultação de cadáver.

A polícia segue à procura da clínica onde o procedimento ocorreu. Após ter passado mal e sofrido hemorragia interna, o corpo de Caroline foi levado e abandonado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Ligação com caso Jandira
A morte de Caroline pode estar ligada a um crime que chocou o país em 2014: o assassinato de Jandira Magdalena dos Santos Cruz, de 27 anos, após realizar o mesmo procedimento e ter o corpo queimado e abandonado por uma quadrilha. Como mostrou o G1, o delegado que investiga o caso, Wellington Vieira, da 21ª DP (Bonsucesso), afirmou que existem ‘coincidências’ entre os casos que estão sendo investigadas.

“Você percebe que o modus operandi é o mesmo. Nesse caso, só faltou tacar fogo, como fizeram com a Jandira”, disse o delegado, em referência ao fato de criminosos da quadrilha terem queimado o corpo da jovem e deixado o corpo em Guaratiba, na Zona Oeste, após realizarem o procedimento em Campo Grande, também na Zona Oeste. A polícia já tem a informação de que membros da quadrilha presos em 2014 estariam ligados às clínicas interditadas na última quarta-feira (24).

Quadrilhas que praticavam abortos foram desarticuladas pelo menos duas vezes nos últimos três anos no Rio em diferentes operações. Em 2013, um grupo de seis pessoas foi preso por agentes da 19ª DP (Tijuca). De acordo com as investigações, os criminosos movimentavam cerca de R$ 500 mil por mês e realizavam procedimentos em mulheres também de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Maranhão.

Em 2014, após o desaparecimento de Jandira após realizar um aborto em Campo Grande, a Corregedoria da Polícia Civil prendeu 70 pessoas pela participação no esquema de aborto, que tinha participação de policiais civis, militares, bombeiros, médicos e enfermeiros. No total, 75 pessoas foram citadas como réus na Operação Herodes, a maior já realizada contra o aborto no Brasil.

A organização criminosa era dividida nos núcleos dos bairros de Campo Grande, na Zona Oeste; Copacabana e Botafogo, na Zona Sul; Tijuca e Bonsucesso, na Zona Norte; e Rocha e Guadalupe, no Subúrbio. Os integrantes do grupo chegavam a realizar até dez procedimentos por dia, e inclusive com meninas de 13 anos.

Contradições em depoimento
Segundo investigadores, o depoimento do namorado de Caroline, realizado durante quase quatro horas na 107ª DP (Paraíba do Sul), no município onde ela morava, foi evasivo e cheio de contradições com o que a família disse sobre a jovem. Segundo ele, o relacionamento entre eles era “aberto”, já que eles se viam “esporadicamente”. A família, no entanto, já dizia que o relacionamento era exclusivo entre os dois.

Houve depoimentos de familiares da vítima, também na delegacia de Paraíba do Sul, que indicavam que alguns nem sabiam que ela estava grávida.

Interdições
As clínicas interditadas são na rua Bernardo Monteiro, em Duque de Caxias, e na rua Ana Néri, no Rocha, Zona Norte do Rio.

Segundo o delegado Wellington Vieira disse ao RJTV na quarta-feira, ele pretende mudar a acusação do crime de aborto para homicídio culposo.

“Quando você faz o aborto com métodos concepcionais, já é perigoso, quiçá em um lugar sem qualquer tipo de preparo. E nisso, eles assumem o risco de matar”, disse Vieira.

No ano passado, a Justiça determinou que os apontados como responsáveis pelo crime contra Jandira fossem levados a júri popular.

Menos de um mês depois, foi a vez de Elizângela Barbosa, de 32 anos, morrer após se submeter a um aborto em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

MaisPB

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