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Brasil teve 4.854 casamentos entre pessoas do mesmo sexo em 2014

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publicado em 30/11/2015 às 11h35

Juntos há 17 anos, o brasileiro Luiz Morette e o americano James Michael Shattuck se casarão pela quinta vez no próximo dia 6, em um megacasamento homoafetivo, no Tijuca Tênis Clube.
Os dois já têm certificados da cidade de São Francisco, onde moraram no início do relacionamento, do estado da Califórnia, dos Estados Unidos e um contrato de união estável no Brasil. Na cerimônia do fim de semana, eles vão converter o contrato em casamento civil, o que garantirá direitos plenos para os cônjuges no país. Assim como Luiz e James, no ano passado, 4.854 brasileiros homossexuais buscaram o casamento civil. O dado foi revelado pelas Estatísticas do Registro Civil 2014, divulgada nesta segunda-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em relação a 2013, segundo a pesquisa, houve um aumento de 31,2% no número de registros de casamentos entre pessoas do mesmo sexo nos cartórios de todo o Brasil, o que, em termos absolutos, significaram 1.153 uniões a mais. Um dos fatores que impulsionaram os casamentos formais, de acordo com o relatório, foi a realização de casamentos coletivos como o de Luiz e James.

— Houve algumas ações nesse sentido de proporcionar o casamento coletivo, que facilita o trâmite e proporciona a oficialização das uniões, tanto para casais homossexuais quanto para casais héteros. A oficialização do casamento dá aos casais do mesmo sexo direitos, além de trazer bem estar — afirma Cristiane Moutinho, gerente das pesquisas sociais da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, ponderando que embora o número de casamentos gays tenha aumentado, o levantamento anterior avaliou dados somente a partir de maio, o que pode dar uma ligeira vantagem numérica para os registros divulgados nesse ano.

Com a cerimônia de casamento coletivo à vista, os noivos não escondem a ansiedade. Apesar de ser a quinta solenidade que protagonizarão, Luiz e James não vão dispensar a presença de parentes e amigos.

— Fazemos questão de garantir a totalidade dos direitos civis. Por isso arranjamos todos os certificados possíveis. Inclusive, agora que os Estados Unidos legalizaram o casamento gay, em junho passado, vamos tentar uma nova certidão — conta Luiz, que é floral designer. — Não podemos bobear, até porque não somos mais garotinhos! Eu tenho 63 anos e o James, 55. Se um de nós morrer, é importante que o outro fique garantido.

O designer de buquês e o professor de inglês se conheceram em um estacionamento de São Francisco, enquanto brigavam pela mesma vaga.

— Roubei a vaga pela qual o James estava esperando. Mas aí, enquanto discutíamos, outra apareceu. Então ele estacionou o carro e veio me chamar para um tomar um café. Trocamos telefones e seis meses depois já estávamos morando juntos — lembra Luiz, às gargalhadas.

Depois de dez anos nos EUA, hoje, eles moram em Icaraí, em Niterói, e já se casaram de todos os jeitos: de terno, descalços, com flores nas lapelas… Para o evento de domingo, pensam em uma roupa mais leve. Batas indianas, talvez.

— Já nos casamos muitas vezes, mas nenhuma delas foi numa cerimônia coletiva. Queremos experimentar essa sensação. Acho que vai ser muito animado. Afinal, a união faz a força! — opina o noivo.

Luiz e James se casarão ao lado de 180 casais. Será o maior número de uniões homoafetivas de uma só vez na cerimônia que é promovida pelo programa Rio Sem Homofobia, do Governo do Estados do Rio, desde junho de 2011 — pouco mais de um mês depois que o Supremo Tribunal Federal equiparou, através de sentença, a união estável homoafetiva à heterossexual com relação à igualdade de direitos. O primeiro evento teve 43 casais.

— É um direito adquirido muito recentemente. Até então não havia referências positivas quanto ao casamento homoafetivo. O aumento exponencial das uniões coletivas são um reflexo dessa conquista — diz o coordenador do Programa Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento Silva, que, junto com seu companheiro, foi o primeiro a oficializar uma união homoafetiva no estado do Rio.

Para participar de uma cerimônia coletiva basta se inscrever pelo Disque Cidadania LGBT. No domingo são esperados 2 mil convidados, além de dez juízes de paz e personalidades, que serão padrinhos simbólicos dos casais. Haverá uma mesa com bolos cenográficos, com direito a bonequinhos de biscuit, para servirem de cenário para as selfies, além de distribuição de bem-casados e chuva de flores. As mulheres serão maioria: dois terços dos casais são formados por lésbicas, principalmente da Baixada Fluminense, Zona Oeste e Zona Norte.

— Enquanto o Congresso passa por um momento de retrocesso, em que tenta estabelecer um conceito limitado de família, esse casamento mostra o grau de diversidade que existe no Brasil. Ele tem um caráter político. Queremos dizer que existimos sim, somos famílias e precisamos ter acesso aos direitos e à celebração do amor — reforça Nascimento Silva.

No Brasil, segundo as Estatísticas do Registro Civil 2014, o casamento entre mulheres corresponde a 50,3% das uniões homoafetivas. No ano passado, 2.440 mulheres realizaram o casamento civil. Camile de Almeida Balbino, de 26 anos, e Roberta Cristina da Silva Alves, de 27, farão parte da próxima estatística, já que participarão da cerimônia no domingo.

— Esse tipo de evento quebra preconceitos. Fora que é mais animado e dá uma segurança maior para os casais. Sabemos que não seremos discriminadas lá — observa Camile, que trabalha com Roberta numa empresa que oferece serviços de motoboys perto de casa, em Nilópolis. — Uma amiga minha casou ano passado e adorou. Então estamos animadas!

G1

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