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'modismo'

Idosas que tatuaram rosto no passado relatam arrependimento

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publicado em 05/11/2015 às 08h57
atualizado em 05/11/2015 às 06h01

Em um povoado remoto da Argélia, uma geração inteira de mulheres idosas convive com as tatuagens faciais que fizeram quando eram adolescentes.

Para o povo berber da região de Chaouia, nas montanhas Aures, a beleza das mulheres era julgada no passado por suas tatuagens. Segundo a tradição, quanto mais tatuagens elas tivessem, mais cotadas eram entre os homens locais.

Hoje, muitas se arrependem, principalmente por motivos religiosos. Algumas pessoas têm dito a elas, que são muçulmanas, que ao se tatuarem elas cometeram um pecado de acordo com o Islã.

A crença local é de que elas serão punidas após a morte e uma cobra comerá seu cadáver. Para tentar compensar, muitas estão doando suas joias e bens de valor para as mulheres mais pobres que conhecem. No ritual que seguem, elas esfregam essas joias nas tatuagens, para simbolizar que estão se livrando delas.

Apesar disso, uma das mulheres entrevistadas acredita que as tatuagens lhe trouxeram sorte e a ajudaram a ter filhos, “salvando seu casamento”. Outra acredita que apenas seguiu um costume local e por isso não será punida.

Muitas ainda se lembram da dor que sentiram na época em que foram tatuadas por parentes ou por pessoas da comunidade. Veja a seguir o depoimento de algumas delas:

Fatma Tarnouni, 106
Ela foi tatuada aos 10 anos por um homem da região do Sahara. “Era a regra. E era moda também. Todas as garotas eram tatuadas. Para ser bonita, você tinha quer ter tatuagens, então eu fiz”, conta.

Ela se arrepende. “Serei punida por Deus e serei comida pela cobra no meu túmulo. Se eu soubesse que não era permitido pela minha religião, claro que eu não teria feito isso”, afirma.

Fatma Badredine se lembra da dor terrível que sentiu (Foto: Zohra Bensemra/Reuters)

Fatma Badredine se lembra da dor terrível que sentiu (Foto: Zohra Bensemra/Reuters)

Fatma Badredine, 94
Badredine foi tatuada aos 13 anos por um mulher nômade de região. “Tive que encarar uma dor terrível só para parecer bonita”, diz. “Agora queria remover a tatuagem, mas o médico me disse que na minha idade não seria possível”, completa.

Djemaa Daoudi, 90, foi obrigada a se tatuar pelo marido, aos 15 anos (Foto: Zohra Bensemra/Reuters)

Djemaa Daoudi, 90, foi obrigada a se tatuar pelo marido, aos 15 anos (Foto: Zohra Bensemra/Reuters)

Djemaa Daoudi, 90
Djemaa foi forçada a fazer a tatuagem por seu marido logo depois do casamento deles, quando ela tinha 15 anos. Uma mulher da cidade a tatuou. Ela se arrepende. “Mesmo não tendo sido uma decisão minha, peço perdão a Deus. Doei tudo o que considero precioso, como minhas joias de prata e minhas roupas de lã, como oferenda para tentar ser perdoada”, diz.

G1

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