João Pessoa, 26 de abril de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Se há um consenso sobre a crise é que ela é democrática – atinge a todos sem distinção.
E sua pior fisionomia é a inflação.
Quem tem muito, perde um bocado. Quem tem pouco, fica com quase nada. Pois a crise, meus caros, não faz acepção de classe social. Bate a porta de todos os brasileiro, de forma indiscriminada.
Bateu à minha também.
Às quintas-feiras, dia da feira, ela mostra sua face – e me causa assombro, pois a cada semana está maior, mais corrosiva, tomando proporções que nos impõe o temor do descontrole.
Na ponta do lápis, vem a descoberta inequívoca: o dinheiro que comprava tudo há seis meses hoje não é mais suficiente para a compra dos mesmos itens, na mesma quantidade. Não raro, a semana termina com alguma coisa em falta.
Nem mesmo a correção do meu orçamento doméstico, feito na reta final de 2014 – quando a inflação começava a mostrar suas garras, ainda que encobertas por “pedaladas fiscais“ – tem conseguido acompanhar o ritmo de majoração dos preços.
E diante das ausências, sobrevém o pensamento inevitável: se aqui está faltando, imagina como está o enfrentamento dessa crise nas casas assalariadas? Sinto de forma quase palpável o constrangimento de quem não tem onde buscar socorro extra.
Tudo – rigorosamente tudo – foi e continua sendo majorado: combustíveis, tarifas de água e energia, serviços, educação e saúde.
Quem está imune? Ninguém. Rigorosamente ninguém escapa do impacto da escalada do custo de vida. O cinto que aperta alhures, também aperta aqui.
Estaria chorando de barriga cheia? Acredite: não mesmo!
Posso até ter lastro econômico atípico, mas estou debaixo do mesmo guarda–chuva estreito que corroi nossas finanças, adentram nossas casas e dilapidam nossas dispensas.
Ademais, nunca fui perdulário. E não começaria justo agora.
Na verdade, as conquistas pela vida afora nunca conseguiram me desatracar da doutrina financeira adquirida na casa classe média do meu pai.
O Doutor René, típico intelectual classe média, sempre controlou com rigor as despesas. E não poderia ser diferente, pois as suas fontes eram sempre as mesmas: os salários de médico psiquiatra e professor universitário.
Foi dentro desse contingenciamento – dessa educação financeira – que me criei. E nela crio meus filhos e netos.
Mesmo que não fosse afeito a este rigor, a realidade apresentada por prateleiras e gôndolas, bombas de combustíveis e tarifas de serviços jamais passariam desapercebida.
Mas, afinal, com que mesmo estamos lidando?
Oficialmente, o Banco Central acaba de fazer nova revisão das projeções inflacionárias, sinalizando que o Brasil fechará o ano com IPC – Índice de Preços ao Consumidor – na casa dos 8,23%.
Mas nem o mais ingênuo dos brasileiros acredita em números oficiais ou oficiosos. Pois a carestia que esmurra nossa porta traz junto a certeza de que deve ter algo de muito errado com esses cálculos. Eles, certamente, não combinam com a sensação que temos diante da tabuada doméstica.
A verdade – admita o governo ou não – é que o custo de vida sobe a ladeira.
E o fosso que a inflação escava é muito mais embaixo.
*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.
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