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Jornalista desde 2007 pela UFPB. Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba. Colunista, apresentador de rádio e TV. Contato com a Coluna: [email protected]

Estuprador escreve à filha

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publicado em 01/08/2011 às 08h27

Interrompo a rotina do traçado político e enveredo hoje pela escuridão da mente de um dos maníacos mais perigosos que se tem notícia no Brasil, sem exagero, infelizmente instalado na nossa terra, mas felizmente preso. Nossa coluna teve acesso a uma carta, do último maio, do estuprador para sua filha de 13 anos, residente no Rio.

A adolescente é fruto da primeira relação conjugal de Abner com uma carioca. Na carta, ele tenta explicar a filha o homem que é, na expectativa de ser perdoado. Abner diz que viveu infância perturbadora e conheceu através da mãe o ocultismo, o que “me levou a um distúrbio de cárater terrível e que me custou muito sofrimento, distúrbio seriamente agravado pela droga que conheci logo na minha adolescência”.

O pai confessa confessa o histórico do vício das drogas, assume ter usado cocaína, pasta base e por último o crack, mas não revela as trevas do abominável desejo sexual por crianças e adolescentes que lhe levou às grades.

No texto, o tarado lembra do reencontro com a filha, facilitado pela mãe, apesar da separação. Ele descreve o dia despejando forte carga emocional. “Impossível comparar a emoção que tive naquele dia com algo que eu já tivesse experimentado, foi tão incrível que não consegui ir embora, mas, também não consegui voltar aí”.

O tarado e as filhas – E segue a carta, como se já previsse a prisão que se sucederia dois meses depois. “Bem, resolvi então voltar a vida que tinha aqui no Nordeste porque percebi que nada mais me ligava ao Rio de Janeiro a não ser você, e assim voltei para um relacionamento conturbado, mas com uma pessoa que me queria de verdade mesmo a despeito dos meus defeitos e imperfeições e que por anos estava ao meu lado”.

O maníaco descreve a nova família, conta que casou novamente na Paraíba e teve outra filha de dois anos e as gêmeas que fizeram um ano recentemente. Apesar disso, acentua Abner Pereira, nunca esquecera a filha que deixaria no Rio e sempre procurava uma forma de se fazer presente na vida dela, ainda que financeiramente.

Na continução. “Consegui uma franquia de uma escola técnica e de cursos que vim a implantar em Pernambuco. Foi um curto período em que embora eu naum estivesse livre do vício, eu consegui avistar um futuro próximo que poderia me ajudar a estabelecer nossos laços, me separei mais uma vez, e mais uma vez ela (a nova mulher) não desistiu de mim, lutei muito, muito mesmo mas a droga mais uma vez me venceu. Nesse interim ela já estava grávida de novo das gêmeas e mais uma vez ela me acolheu foi me buscar em Alagoas, e me trazer de volta. Já sem trabalho. Sem esperanças, envergonhado, frustrado, vencido outra vez”.
Gélido, Abner fala das duas filhas gêmeas recém-nascidas como se jamais fosse capaz de qualquer mau contra indefesos, quando na verdade estuprava animalescamente inclusive adolescentes com idade idêntica a da filha, a quem tão “afetuosamente” escrevia no computador apreendido semana passada pela Polícia paraibana.

“As gêmeas vão fazer 1 aninho dia 27 deste mês (maio) e ainda, minha filha, não consegui me reerguer, todos os dias saio para rua para vender meus produtos (adesivos, DvD´s) e agora anúncios do meu site e construção de sites, mas os meus recursos mal chegam para comprar as fraldas e o leite delas e as vezes choro porque não consigo fazer nem isso, não tenho conseguido viver, tenho apenas sobrevivido”, lamenta-se, esquecendo que conseguia dinheiro para pagar os motéis usados nos crimes.

Com histórico de aproximamente 50 crimes, entre estupros e tentativas, estimativa já admitida pela Polícia, Abner chegou a ter receio de contaminação. É o que ele assume na carta. “Há poucos dias fiz exames de HIV – Heptite e outros Graças a Deus estou limpo mas as sequelas da droga tem atingido meu sistema respiratório e circulatório, Rose gostaria que me internasse mas não tenho forças, penso nas meninas que ainda são bebês e que terão ainda mais privações que ja estão tendo”.

Emoção de pai ou frieza de maníaco? –
Ao final, ele se esforça para pedir perdão à filha ausente. “Gostaria de te pedir perdão, por todo desgosto que te causei, por ter negligenciado a chance que sua mãe me deu. A ela sequer tenho a coragem de me dirigir para pedir perdão, mas peço a Deus todos os dias que me perdoe e que ajude a ela a ser o que eu não fui para você e que nunca venha a ter falta de nada. Saiba que eu espero que um dia papai do céu tenha misericórdia de mim de novo e me revista de forças e me liberte outra vez, desta feita das grades espirituais, já que das de ferro um dia ele me tirou, até lá te trago no coração e na alma e te amo mesmo que meus gestos e atitudes não traduzam isso”.

E assina o apelo: “D´aquele pai que te abraçou com olhos brilhantes e cheio de emoção, e que mora aqui dentro deste velho peito e que um dia vai sair de novo para teu encontro. Te amo. Não desista de mim. Deus te abençoe”.

Poucos dias após o “comovente” apelo por compaixão, Abner Machado Pereira Neto planejou e executou o estupro de pelo menos 11 crianças, com características próximas a um selvagem. O homem choroso, pintado na correspondência, dopava, espancava e violentava meninas com frieza e crueldade capaz de abalar os nervos do mais indiferente dos seres humanos. O homem que se auto-retrata nessa carta como “cristão” e pedinte da misericórdia divina é o mesmo que um mês depois seviciava uma pobre criatura desprovida de defesa e a levava ao banheiro, bavanha superficialmente a hemorragia e continuava as sessões de tortura diabólica. Sem qualquer sinal de remorso.

*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba

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