João Pessoa, 07 de fevereiro de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Brasil República ainda é muito (!) jovem. Da proclamação para cá, passaram-se menos de 125 anos. Encharcados de monarquia, definimos como reis e rainhas aqueles que se destacam em suas atividades, principalmente no esporte e na cultura. Temos a imensa capacidade de coroar.
Nem sempre, todavia, os reis e rainhas se portam com a fineza moral, a sensibilidade humanística e o requinte ético comuns àqueles que bem reinam. Muitas vezes, nossos monarcas são capazes de exercitar a tirania, o egoísmo e o não-me-importismo social.
Três dos nossos maiores reis estão no futebol e na música popular. O mineiro Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, foi coroado pelos franceses ainda 1958 e conquistou três Copas do Mundo. No gramado, o Rei do Futebol é incomparável…
O pernambucano Luiz Gonzaga levou para o Brasil inteiro a musicalidade nordestina. Encantou plateias e ainda é referência para os grandes cantores e compositores. Coroado no início da década de 50, o Rei do Baião soube como nenhum outro artista traduzir sonoramente a cultura de nossa região. Insubstituível!!!
O cantor e compositor espírito-santense Roberto Carlos é o maior nome da música popular brasileira, um fenômeno surgido com a Jovem Guarda. Maior astro pop do Brasil, Roberto foi coroado ainda na década de 60. Sua discografia e alcance popular são invejáveis e inalcançáveis.
Foras de série em suas atividades, Roberto Carlos, Luiz Gonzaga e Pelé derrapam feio (e deixam cair suas coroas) – historicamente – não apresentam comportamentos monárquicos e elegantes quando afastados dos gramados e dos palcos.
Durante a carreira, autores se queixam da postura de Gonzagão assinar músicas que não compôs. Basta dizer que nosso rei era simpatizante da ditadura, a quem tecia elogios.
Roberto Carlos foi a favor da censura do filme ‘Je vous salue, Marie’, de Jean-Luc Godard, na década de 80. Na década seguinte, foi acusado de plágio e, mais recentemente, colocou-se contra biógrafos (sem falar na polêmica Friboi…).
Também admirador da ditadura militar, Pelé é o mais equivocado dos três reis. Sua última ‘pérola’ foi afirmar que o goleiro Aranha, do Santos, deveria ter calado a boca após ser chamado de ‘macaco’ por torcedores gremistas, durante partida. Calado… é um poeta.
Pelé, Roberto Carlos e Gonzagão são sim nossos reis, mas têm uma imensa capacidade de se comportar como bobos (não da corte), equivocados, egoístas e insensíveis…
*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.
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