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Jornalista desde 2007 pela UFPB. Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba. Colunista, apresentador de rádio e TV. Contato com a Coluna: [email protected]

Sonhos pra 2012

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publicado em 02/01/2012 às 16h00

É sempre assim. Quando passamos a vista no que ficou pra trás, temos a impressão de que poderíamos ter feito melhor ou que faltou muito a fazer. Essa sensação está arraigada no humano ser e dela jamais nos livraremos.

E que bom. Assim manteremos sempre ardendo na chama do peito a vontade de conquistar mais, de aperfeiçoar, de melhorar, de sobrepor, de suplantar e de carregar a missão de transformar todo novo ano num calendário de conquistas.

Cada paraibano, seja ele lavrador, pescador, costureira, armador, pedreiro, servente, artestão ou empresário e empregador, quer ver seu chão, sua terra, pra frente, servindo de orgulho e combustível a novos sonhos.

2011 foi uma estrada longa na caminhada da gente. Ano de expectativas, cobranças, esperanças, frustrações para alguns, decepções para outros, mas um ano do qual sobrevivemos e cá estamos rumo aos nossos melhores anseios.

A Paraíba avançou sim. Talvez não na medida que todos nós gostaríamos e torcemos. Se sobram espaços para lamentações, não podem minguar palavras na hora de reconhecer, por exemplo, um programa de micro-crédito que deu a muita gente boa e humilde a chance de empreender e apostar num futuro mais digno para os seus.

Não me importa se a idéia é de Ricardo ou de quem quer que seja. Só quero saber que por conta dessa iniciativa, patrocinada com nosso dinheiro de contribuinte paraibano, minha cidade Marizópolis e seus seis mil habitantes terão a sua primeira indústria própria.

Singela, mas a nossa fábrica de beneficiamento de peixe terá capacidade de produção de filés de tilápia, lingüiça e hamburquer de peixe de água doce, tudo com direito a embalagem padronizada e o selo dos Peixes Bom Demais, made in Marizópolis, quiçá para o mundo afora.

Pavimentamos caminhos de tantos paraibanos que habitavam isolados seus torrões e sofriam o castigo da poeira na cara ou da distância quase intransponível entre um socorro e um hospital, entre uma vida e uma morte. Falo no plural, e me incluindo como parte, porque o governo não pertence ao mandatário. Ele é do povo. É nosso.

Se foi pouco. Não importa. Se veio dos esforços dos governos Cássio e Maranhão, também não. O que vale não é a digital da caneta que assinou as ordens de serviço e carimbou o nome nos cheques dos pagamentos das obras. Quem acelerou mais firme na estrada, livre dos buracos e do atraso, não quer nem saber desses detalhes.

Cobramos por décadas novos métodos de relações políticas. E avançamos. Na marra, mas mudamos de patamar. Prefeitos não precisaram mais posar para fotográfos da Secom no Palácio ou na Granja, antes de estirar a mão e apelar por uma obra ou ação para seu povo.

Era preciso virar essa página. Com ou sem Ricardo Coutinho. E este não fez favor algum. A impessoalidade da gestão pública e a divisão dos recursos é princípio constitucional. Mas do que exaltar a decisão desse governo pôr esse preceito em prática, comemoremos que, daqui pra frente, seja qual for o ocupante temporário do Palácio, o governo de amanhã será obrigado a encarar como natural o tratamento equânime aos gestores municipais, das mais diversas matizes partidárias.

Experimentamos muitos conflitos. Intransigências e radicalismos. Ora do governo, ora de setores inspirados em movimentações políticas manjadas. Da minha parte, arquivei a certeza de que nosso governante tinha razão na maioria das crises, mas poderia ter se apresentado mais flexível e dialógico no gerenciamento das contendas.

É também por isso que devemos festejar 2012. O chefe do nosso Estado terá no ano novo oportunidade de fazer a sua particular retrospectiva e, queira Deus, tenha ele humildade para reconhecer onde exagerou na dose ou simplesmente omitiu um gesto na direção da boa vontade.

Deus estava certo quando permitiu ao homem quantificar os dias. Graças a essas contas que podemos virar o ano. E é nessa virada que são depositadas nossas mais sinceras e coronárias esperanças de dias melhores. Também na política.

Sonhos se lapidam com certa ingenuidade. Deixe-me ser ingênuo, pelo menos nessa aurora de 2012. Deixe-me sonhar com Ricardo chamando Veneziano ao Palácio para traçar projetos pra Campina. Deixe-me sonhar com Veneziano atendendo o convite, sem ranço ou qualquer necessidade de disputa antecipada.

Sonhe comigo, não se envergonhe. Idealizemos a imagem de Maranhão visitando Ronaldo e Cássio. Os três, a seis mãos, apagando das páginas da vida os arquivos do rancor pessoal, e preservando apenas o salutar embate político. Sonhemos com Cícero Lucena e Luciano Agra em Brasília discutindo o empenho de projetos pra João Pessoa, independente dos dois estarem pleiteando o mesmo posto. Imaginemos Vital Filho chamando Ricardo Coutinho para lado a lado percorrer corredores dos ministérios granjeando recursos para o Estado.

Sonhemos com o próximo reveillon reunindo na mesma fotograia todas essas personalidades políticas, cada qual com suas divergências, discordâncias e ideologias, mas reunidas pelas semelhanças da bela arte do exercício público e não pelas diferenças que os separam em partidos e projetos distintos.
Louco? Não. Sonhador! São dois estágios psicológicos completamente diferentes. Um é a personificação de quem não consegue juntar idéias ou as concebe longe da realidade do mundo e da lógica.

O outro é somente a ousada aspiração de quem pelos olhos da razão nunca vai cansar de esperar o dia em que o homem, desnudo de ressentimentos e egoísmos, será capaz de se despir dos orgulhos e solenemente estender a mão ao diferente. Basta ser racional. E não sufocar o sonhador que cada um de nós tem guardado no fundo da alma.

*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba

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