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MaisPB/Blog do Magno Martins: ‘Santuários eleitorais do Bolsa-família’ chega ao PE

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publicado em 12/11/2014 às 13h54

Dando  continuidade a reprodução da série de reportagens – Santuários eleitorais do Bolsa-família, realizada pelo Blog do jornalista Magno Martins, de Recife (PB), sobre a expressiva votação da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) em cidades do interior nordestino, o Portal MaisPB divulga, nesta quarta-feira (12), matéria sobre a cidade de Carnaubeira da Penha, do Alto Sertão pernambucano, onde a petista obteve a segunda maior votação proporcional do país.

A primeira maior votação proporcional de Dilma foi na cidade paraibana Camalaú, como foi mostrado ontem pela parceria MaisPB/Blog do Magno Martins. Para o jornalista, o "Bolsa Família" foi o fator desequelibrador do último presidencial.

Confira a íntegra da matéria abaixo: 

CARNAUBEIRA DA PENHA (PE) – Segunda maior votação proporcional da presidente Dilma (PT) no País, Carnaubeira da Penha, a 425 km do Recife, no Alto Sertão, é a maior patente do Bolsa-Família. Numa comunidade povoada por gente abaixo da linha de pobreza, com 90% índios ou descendentes das tribos Tikuna e Pankará, o Governo usou o programa para montar um poder paralelo: as transferências para os 3.580 bolsistas ultrapassam a receita que a Prefeitura recebe do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

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O repasse da Bolsa no mês passado, marcado pelo segundo turno da eleição presidencial, alcançou a cifra de R$ 622.165,00 ante R$ 607.516,02 do FPM, R$ 15 mil a mais. A grana que corre solta em Carnaubeira da Penha, jorrada do Tesouro Nacional para alimentar o maior programa social do País, fez com que em cada 10 dos 7.307 eleitores que foram as urnas no segundo turno presidencial nove votassem em Dilma.

A petista teve 6.820 votos, correspondente a 93,34% dos votos válidos, enquanto o tucano Aécio Neves recebeu apenas 487 votos, 6,66% do eleitorado. “Dilma governa o País embalada pelos programas sociais, mas quebrou os municípios. O FPM, se não fosse o Fundeb, não dava sequer para pagar a folha de pessoal”, reclama o prefeito Neto Lopes, do PSB do ex-governador Eduardo Campos, que no primeiro turno trabalhou para Marina e no segundo teve dificuldades para pedir votos para Aécio.


Vereador Jota Nilton, presidente da Câmara

“Ninguém queria votar em Aécio. Havia até uma certa hostilidade entre os eleitores do Bolsa Família na hora que a gente tentava justificar o pedido de voto, graças à influência do programa social”, afirma “Dr. Neto”, como é conhecido o prefeito. A oposição assegura que o prefeito não fez campanha para Aécio. “No primeiro turno, ele promoveu uma carreata para Marina, mas no segundo turno cruzou os braços”, diz o presidente da Câmara de Vereadores, Jota Nilton (PSC), adversário do socialista.

A oposição se encarregou de espalhar na cidade a versão de que o prefeito, no calor da emoção da derrota de Aécio chegou a usar um termo pejorativo e ofensivo para o Bolsa Família. “Ele disse que era uma bolsa esmola”, afirma Nilton, eleito vereador com 298 votos na eleição de 2012. Mas a secretária de Finanças, Juliana de Araújo Ferraz, eleitora confessa de Aécio, rebate o vereador.

Secretária de finanças e eleitora de Aécio, Juliana Ferraz

“Dr. Neto fez o possível, mas é difícil fazer campanha numa cidade em que um terço da sua população é beneficiária de um programa extremamente eficaz em transferência de renda”, afirma Juliana. Dos nove vereadores que integram a Câmara de Carnaubeira, antigo distrito de Penha, pertencente a Floresta, que fica a apenas 45 km, dois foram eleitos empunhando as bandeiras do PT.

E ambos são índios: a cacique Dorinha, da tribo Pankará, e o índio Edivaldo, da aldeia Atikum. Mas na contramão política da expressiva massa eleitoral do município, Dorinha, que votou em Marina no primeiro turno por ter se aliado ao governador eleito Paulo Câmara (PSB), contrariou as orientações do seu partido e votou em Aécio.

Um voto, aliás, que pode custar um preço caro: a direção estadual do PT admite uma punição e até a expulsão do partido. Fundador do PT e candidato à presidência do diretório municipal, o militante histórico Davi dos Santos, há 34 anos no partido, afirma que vai levar o caso da cacique tankará para o Conselho de Ética, no Recife. Davi desconfia também da postura do vereador e índio Edvaldo, também do PT, mas Dorinha sai em defesa do aliado e garante que ele votou e trabalhou pela eleição de Dilma.

“Eu assumo minhas posições políticas. Não votei em Dilma porque no Governo Lula e no primeiro mandato da presidente eles só conseguiram demarcar uma área indígena, a Raposa Serra do Sol, em Roraima. A nossa aqui, nenhum sinal”, diz Dorinha, que não teme punição. “Eu disse à direção estadual do PT que nós, indígenas, não tínhamos como dar crédito a um governo que não olha para os índios”, assinala.


Serra de Arapuá

A posição firme e segura da parlamentar influenciou sua comunidade Pankará, localizada numa das áreas de terras mais férteis de Carnaubeira da Penha: na serra de Arapuá, onde se espalham 47 aldeias e uma comunidade quilombola, Tiririca das Crioulas. Já os índios Atikum são encontrados em reservas na Serra de Umã.

 

Pajé João Miguel, eleitor de Aécio

O pajé pankará João Miguel, 51 anos, que ontem fez uma apresentação do Doré, dança típica da sua comunidade para dar as boas-vindas à nossa reportagem, assegurou que também não votou em Dilma. “Eu só votei em Dilma no primeiro turno. No segundo, fiquei desconfiado dela porque Dorinha, nossa líder, chegou a ser até hostilizada em Brasília lutando pelos nossos direitos”, afirmou.

Miguel, diferente de praticamente toda a aldeia Pankará, não recebeu o auxílio do Bolsa-Família. Vítima de um acidente trabalhista, recebe uma pensão no valor de um salário mínimo para sustentar nove filhos. Mas o seu vizinho de aldeia, o líder Manoel Gonçalves, foi contemplado pelo programa e se apresenta como fiel eleitor da presidente.


Índios pankarás com o Pajé João Miguel

“Dilma teve o meu voto porque é a mãe da pobreza”, explica. Ele recebe R$ 155,00 do programa, porque um dos quatro filhos estuda, mas chegou a ficar quatro meses sem o auxílio. “Me cortaram dizendo que eu tinha outro auxílio. Foi preciso eu batalhar muito para voltar a receber”, conta.

 

Tudo funciona precariamente em Carnaubeira da Penha. O lixo coletado não é incinerado nem existe aterro sanitário. É jogado num lixão a 500 metros do centro. Nas áreas indígenas, o acesso dos estudantes as escolas não tem estrada em boas condições, impedindo a passagem de ônibus. A saída é levar a garotada em paus de arara, transporte perigoso e desconfortável.

MaisPB/Blogo do Magno Martins

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