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Em Alagoas, transferências do ‘Bolsa Família’ batem repasses do FPM

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publicado em 18/11/2014 às 11h43

A série de reportagens "Santuários eleitorais do Bolsa Família VI", realizada pelo blog do Magno Martins, de Recife (PE), e reproduzida pelo Portal MaisPB, chegou, nesta segunda-feira (17),ao Estado de Alogoas, mais precisamente a cidade de Olho D’Água do Casado, onde o programa de transferência de renda do Governo Federal batem os valores de repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FMP). 

O objetivo da série de reportagens é mostrar a expressiva votação da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) em cidades do interior nordestino. Para o jornalista Magno Martins, o "Bolsa Família" foi o fator desequilibrador do último pleito presidencial.

Em terras do território de Olho D’água do Casado, os cânions do rio São Francisco, de tão belos, já serviram até de cenários para minisséries globais, como Amores Roubados, que fez muito sucesso. Mas o município, de 8.491 habitantes, a 275 km de Maceió, não é afamado apenas pela telinha global. Nas eleições presidenciais de segundo turno, em 26 de outubro passado, ganhou também o status de maior votação de Dilma no Estado e a quinta do País, proporcionalmente, com um detalhe: a gestão municipal é tucana. O prefeito José Gualberto Pereira, no meio do quarto mandato, derrotou o PT de Dilma, em 2012.

Confira a íntegra do reportagem abaixo: 

OLHO D’ ÁGUA DO CASADO (AL) – Em terras do território de Olho D’água do Casado, os cânions do rio São Francisco, de tão belos, já serviram até de cenários para minisséries globais, como Amores Roubados, que fez muito sucesso. Mas o município, de 8.491 habitantes, a 275 km de Maceió, não é afamado apenas pela telinha global.

Nas eleições presidenciais de segundo turno, em 26 de outubro passado, ganhou também o status de maior votação de Dilma no Estado e a quinta do País, proporcionalmente, com um detalhe: a gestão municipal é tucana. O prefeito José Gualberto Pereira, no meio do quarto mandato, derrotou o PT de Dilma, em 2012.

Mas Gualberto esqueceu as indiferenças com o PT e não fez campanha para Aécio Neves, que teve míseros 375 votos, 8,25% do total, enquanto a presidente, que recebeu 91,75% dos votos, alcançou a marca dos 91,75%. Trocando em miúdos, de cada 10 dos 4.545 eleitores que foram às urnas na eleição presidencial de segundo turno, nove votaram na chefe da Nação.

O voto de Dilma foi de cabresto: do Bolsa Família, que contempla a grande maioria da pobreza, mas que chega também às mãos de quem tem renda acima dos critérios exigidos e por outros programas sociais, entre os quais a dispensa de endividamento contraído ao Banco do Nordeste pelos colonos assentados em áreas demarcadas pelo Incra e o Seguro Safra, para quem plantou e nada lucrou.

O prefeito tem em sua bancada cinco dos nove vereadores, mas nenhum pediu voto para Aécio. “Não conheço uma só liderança política que tenha trabalhado por Aécio. Aqui, ninguém queria o tucano, porque o Governo tem ações no município e, principalmente, o Bolsa Família, fundamental para a expressiva votação de Dilma”, disse Gualberto. Segundo ele, o que moveu a vontade do eleitorado foi a situação social e econômica do município.

“Nós temos um município com cinco grandes assentamentos, uma população extremamente dependente dos programas sociais do Governo”, acrescentou. Em Nova Esperança, a maior das cinco áreas invadidas pelo PSB e regularizadas pelo Incra, moram 135 assentados e 200 famílias, totalizando 600 pessoas, todas praticamente beneficiárias do Bolsa Família.


A doméstica Neuza Nogueira recebe R$ 340 e ainda não tirou a propaganda de Dilma em sua casa no assentamento Nova Esperança

Vista como a mãe dos pobres, Dilma ainda está presente nos assentamentos com a sua foto de campanha em bandeiras e faixas. “Minha mãezona vai continuar aqui na minha casa até o sol queimar”, comenta, rindo, a doméstica Neuza Joaquina, do assentamento Nova Esperança. Ela fez questão de posar ao lado da imagem de Dilma. “Sem ela, a gente estava morta aqui”, acrescenta.


Iranildo Manoel, presidente da Associação do Assentamento Nova Esperança, recebeu Garantia Safra e a esposa, concursada pela Prefeitura, ganha R$ 135 do Bolsa Família

O presidente da Associação de Moradores de Nova Esperança, Iranildo Manoel da Silva, confirma que os assentados estão vivendo do Bolsa, inclusive sua família. A esposa Rizonete Silva, embora concursada da Prefeitura, com cargo de serviços gerais numa escola da comunidade, percebendo salário mínimo, embolsa R$ 150 da Bolsa.

Outros concursados da Prefeitura também aparecem no cadastro geral do programa, como Ana Paula, que recebe R$ 112 da Bolsa. Moradores do assentamento informaram que até as eleições muitos deles estavam contratados pela Prefeitura por empresas terceirizadas, mesmo recebendo o auxílio do programa de transferência de renda.

Entre os beneficiários, dois motoristas que serviam ao Departamento de Transporte Municipal, contratados para dirigir ambulâncias, Antônio Meure e Genivaldo. “Não vejo nenhuma ilegalidade no caso da minha mulher, porque o concurso se deu após seu cadastro ser aprovado pelo programa”, alega o presidente da Associação dos Assentados, que cria gado e nas horas vagas vira pescador, umas das atividades da sustentabilidade econômica da Nova Esperança, que margeia os cânions do rio São Francisco.

O prefeito nega irregularidades, mas a oposição desconfia que a fraude seja muito mais extensa, porque o controle do programa federal de transferência de renda fica sob o domínio da vice-prefeita Rosinha, de sua sobrinha Diana e de Ana Alencar, também parente. “Eles protegem muita gente que não necessita do programa”, diz um político, que pediu a omissão do seu nome temendo represálias.

Encontrado na comunidade de Pedreiras, o agricultor Cicero dos Santos, 48 anos, não retirou o adesivo de Dilma de sua casa, em agradecimento ao Bolsa Família da sua filha Cidila Rafael, que ganha R$ 114 e ao seu seguro safra. “Recebi nove parcelas de R$ 147. Foi a minha salvação”, afirmou.

Maria Aparecida ganhou uma bolsa de R134 há mais de quatro anos e diz que Dilma é a mãe dos pobres

Também em Pedreiras, a doméstica Maria Aparecida, 44 anos, mãe de dois filhos, um deles na escola, confirma que a comunidade onde mora está infestada de gente que recebe o Bolsa Família. “Aqui, ninguém está fora do programa. Eu votei em Dilma porque em agradecimento pelo que ela faz em favor da pobreza e também pela razão de ter se espalhado um boato aqui de que se ela perdesse a bolsa ia acabar”, afirmou.

Transferências da Bolsa batem valores do FPM

Em Olho D` água do Casado, 1.454 famílias são beneficiárias do Bolsa Família, que repassa mês a mês R$ 287.437,00, valor bem maior que o município recebe mensalmente do FPM – Fundo de Participação dos Municípios, em torno de R$ 280 mil. Afastado do mandato por cerca de 40 dias em 2013, por abuso de poder econômico nas eleições, o prefeito é acusado pela oposição de ter falido a Prefeitura.

“Na ausência dele, assumi por 30 dias, mas não consegui sequer pagar pessoal, atrasado em três meses”, disse o presidente da Câmara de Vereadores, José Raimundo (PDT). Também integrante da oposição, o vereador Beto de Afonso (PP) governou o município por oito dias, porque Raimundo não quis continuar descascando o abacaxi.

Segundo Afonso, a Prefeitura é um verdadeiro cabide de emprego. “Tem mais de 500 servidores pendurados em sua folha”, afirma. Durante a primeira gestão do atual prefeito, ele deixou de cumprir a obrigação do recolhimento do INSS, o que levou a União a reter parte do valor do FPM transferido para o município.

“Esta semana houve um protesto aqui de professores que estão sem receber salários”, contou Afonso. Para ele, a maior irresponsabilidade do prefeito, entretanto, foi ter bancado a eleição de um vereador de nome “Thiago Rico”, que mora em Paulo Afonso, já na Bahia, e raramente aparece nas sessões da Câmara.

“Quando ele põe a cara por aqui se exibe em uma Land Rover”, ironiza o parlamentar. Em Olho D`água, um vereador ganha R$ 5 mil, mas a Câmara só tem uma sessão por semana. Na cidade, falta hospital, esgoto corre a céu aberto, a merenda é precária e não há ônibus suficiente para fazer o transporte escolar.

Nos assentamentos, o Governo Federal fechou os olhos para ilegalidades. Perdoou 80% das dívidas dos colonos e estendeu o Seguro Safra para 90% dos que perderam a lavoura de milho e feijão. “Quem vai deixar de votar no Governo? Nosso município é muito pobre e deveria ter mais gente ainda nos programas sociais”, afirma José Raimundo, presidente da Câmara.

MaisPB com Blog do Magno Martins

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