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POR ACLAMAÇÃO

Acusado de mandar matar jornalista será presidente do Atlético-GO

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publicado em 31/12/2015 às 13h03

A mais simbólica maneira de terminar 2014. O Atlético Goianiense terá uma candidatura única para a presidência. O empresário Mauricio Sampaio deverá ser o novo mandatário. Foi vice-presidente, se afastou depois de, conforme assegurou, haver emprestado R$ 3,2 milhões. De acordo com ele, o dinheiro não teria sido ressarcido pelo clube. Antes fosse esse o problema…

Maurício Sampaio é apontado pela polícia goiana como o principal suspeito de um crime bárbaro. De acordo com investigações, ele teria sido o mandante do assassinado do jornalista esportivo Valério Luiz. O cronista foi morto depois de receber sete tiros logo após sair da Rádio Jornal AM. Um motoqueiro fez os disparos em plena luz do dia, às 14 horas. No dia 5 de julho de 2012.

Valério Luiz já estava proibido de entrar no Atlético Goianiense. Ele e os dois veículos de imprensa onde trabalhava. Os motivos: fortes críticas e questionamentos em relação à diretoria do clube. A gota d’água teria sido declarações feitas dois dias antes de sua morte, na televisão. Foi bem claro em relação a patrocinadores ‘tenebrosos’ do clube, envolvidos em escândalos financeiros. Insinuou que, no clube, haveria dinheiro de Carlinhos Cachoeira, empresário acusado de jogo do bicho, crime organizado e corrupção política.

O jornalista foi além. Disse que quem colocou dinheiro no Atlético Goianiense foi "em passes de atletas, para tirar (com lucro) depois". Foram, porém as frases no final de sua participação na tevê, que teriam provocado o crime.

"Meu amigo, você pode ver em filme de aventura. Quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora." O recado teria endereço certo. Sampaio havia acabado de se afastar da diretoria do clube.

Depois de oito meses de investigação foi divulgado o inquérito feito pela polícia goiana. O comerciante Urbano de Carvalho Malta teria contratado o cabo da Polícia Militar Ademá Figueiredo e o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier para matar o jornalista. O sargento Djalma da Silva da Polícia Militar acabou indiciado por atrapalhar as investigações, ameaçado Marcus Vinicius.

Urbano morava de favor em uma casa que pertencia a Mauricio Sampaio. Ela ficava em frente à rádio Jornal AM. De acordo com o inquérito, ele acompanhou o crime. E teria até verificado se Valério estaria mesmo morto. De acordo com as investigações dos policiais, teria sido o cabo Ademá quem teria disparado os tiros. Marcus Vinícius emprestou sua moto e teria ajudado no planejamento do assassinato.

Todos os cinco envolvidos chegaram a ser presos preventivamente. Inclusive Mauricio Sampaio. Marcus Vinícius confessou. Aliás, fez duas confissões. Na primeira, disse que não sabia de nada. Na segunda, porém, foi direto. Garantiu que, na primeira vez havia mentido. Por medo. Segundo ele, os policiais envolvidos, Djalma e Ademá, haviam ameaçado matar sua família. Ele também seria assassinado na cadeia, caso dissesse ter agido a mando do empresário. O açougueiro só teria mudado seu depoimento após a prisão dos PMs.

Os advogados de Mauricio Sampaio afirmaram que a Polícia Civil errou. E que seu cliente é inocente. Alegam que a investigação partiu do principio que Sampaio era culpado. Não houve outra linha de investigação. O dirigente falou o mínimo possível publicamente sobre o caso. Mas chegou a dizer que era inocente. E estava sendo acusado por pessoas interessadas em ficar com o cartório, que é dono.

A Justiça de Goiânia acabou liberando os acusados. Eles foram avisados que o inquérito continuaria. Marcus Vinícius fugiu para Portugal. Estava confiante que nada mais aconteceria. Tanto que postou fotos no facebook. Ao tentar fixar residência em Lisboa, acabou preso. Seu nome constava na lista de fugitivos da Interpol. Ficou preso quatro meses até que o governo português fez sua extradição. Chegou ao Brasil no dia primeiro de dezembro e, desde então, está detido.

Enquanto isso, o Atlético Goianiense enfrenta graves problemas financeiros. Não havia interessados no cargo de presidente do clube. Foi quando em uma reunião no último final de semana que o vice jurídico, Marcos Egídio abriu mão da sua candidatura para Sampaio. De acordo com Egídio não há problema algum, o candidato único e virtual presidente do clube estar sendo acusado de mandante de assassinato.

Mauricio Sampaio tem todo o direito legal. Mas só que a postura é inaceitável. Ele e outros quatro suspeitos irão para júri popular. Precisarão se defender da acusação da morte de Valério Luiz. Podem pegar, cada um, de 12 a 30 anos de cadeia, caso sejam condenados.

Se o empresário considera normal sua candidatura, caberia aos conselheiros do Atlético Goianiense tomar uma posição. Como qualquer cidadão, ele tem o direito de se defender de qualquer acusação. Mas só deveria assumir o cargo mais importante do clube depois que tudo fosse esclarecido.

Desde que aconteceu a morte do jornalista, cresceu rumores que o real motivo seria uma vingança amorosa. "Isso é mentira. Querem desviar o foco. Meu filho era muito religioso. Minha família está tranquila em relação a isso. Um absurdo para tentar justificar o crime." A declaração é de Manuel de Oliveira, pai de Valério.

A situação é surreal, triste, bizarra. A sociedade se cala. Uma pessoa foi assassinada. Foram sete tiros a queima-roupa. A Polícia Militar investigou e chegou à conclusão que deveria acusar um empresário, ex-vice presidente do Atlético Goianiense como mandante do crime. Um dos envolvidos confirmou serem verdadeiras as suspeitas. Assim que pôde, fugiu para Portugal. O julgamento está para ser marcado. Mesmo assim, o suspeito é candidato único à presidência do clube. Deverá ser aclamado, com direito a festa.

O ideal deveria ser Maurício e o Atlético Goianiense esperassem o fim do julgamento. Até por respeito à alegada inocência do dirigente. Impossível não haver outra pessoa disposta a assumir o clube.

2014 é um ano que não deixará saudades no futebol. O San Lorenzo é o campeão da Libertadores. O River Plate ganhou a Sul-Americana. A Seleção Brasileira foi humilhada, teve a maior derrota de todos os tempos. Perdeu por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo que promeveu. Os patrocinadores estão fugindo, não querem saber dos clubes e suas administrações obsoletas. Aumentam os brasileiros que não torcem por time algum. Nada nessa vida é por acaso.

Blogo do Cosme Rimoli

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