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Eleição na Assembleia: Memórias, recados e ironias

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publicado em 14/11/2018 às 15h32

Em artigo publicado neste sábado, 10, no blog “Os Guedes”, o mestre da análise política, jornalista Nonato Guedes, rememora fatos que lembram uma virada de mesa na eleição da Assembleia Legislativa da Paraíba ocorrida em 1981, durante o primeiro mandato do governo biônico de Tarcísio Burity.

Conta Nonato, que Burity decidiu se envolver na eleição da Mesa Diretora, adotando o deputado estadual Assis Camelo como seu candidato, chegando a promover uma reunião “prévia” no Palácio da Redenção para enquadrar o voto da base governista. Conclui, discorrendo como o então deputado Fernando Milanez (avô do atual vereador da capital) conseguiu reverter o jogo.

A história nos mostra o quanto o passado influi no presente e como pode definir os passos para o futuro. Atento as movimentações de outrora, Nonato dá a senha do que pode estar prestes a acontecer – novamente – na ALPB. Desta feita, na ordem inversa. Os movimentos do deputado e ex-presidente da Casa, Adriano Galdino, sugerem a hipótese.

Terminadas as eleições na Paraíba, o parlamentar começou a pavimentar a estrada de volta ao comando da Casa de Epitácio Pessoa. Utilizando como premissa para sua ação tática uma regra estabelecida nos bastidores pelo governador eleito, João Azevedo, para evitar desgastes entre os membros da bancada: o deputado da base que conseguisse reunir 12 votos em torno de sua candidatura teria as bênçãos do executivo. Galdino não perdeu tempo para mobilizar em torno de si o numero necessário de apoios.

E foi além…

Trabalhou nos bastidores para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional 13/2015, que acaba com a possibilidade de reeleição para presidência da Casa de Epitácio Pessoa e proíbe a antecipação de eleição da mesa para o 2º biênio. A notícia não soou bem no governo e, ao que parece, a suposta chancela do futuro governador esbarrou nos interesses do atual.

O governador Ricardo Coutinho não gostou da movimentação e fez questão de deixar clara a insatisfação durante entrevista concedida essa semana: “Do mesmo jeito que eu respeito, eu quero ser respeitado”.

Com a fala, o atual governador da Paraíba, discordou da maneira que foi votada à PEC 13/2015, de autoria do correligionário deputado Ricardo Barbosa (PSB).

Ricardo rememorou que os resultados da sua gestão conduziu o agrupamento político ao êxito na eleição e reiterou que espera lealdade dos parlamentares que se beneficiaram do “projeto”:

– Se o projeto serviu para eleger toda esta base, como você vota uma emenda constitucional, e não tem o cuidado de ligar para combinar? – relatou o líder socialista.

E continuou…

– Cada um tem liberdade de tomar suas atitudes. O que não pode é a gente desrespeitar um ao outro, e aí não pode contar comigo – finaliza.

As falas são, na verdade, alertas de que os aliados que se valeram do projeto para obter sucesso nas eleições não podem agir conforme suas próprias vontades. Servem tanto aos aliados no legislativo quanto ao governador eleito, João Azevedo.

O duplo recado sugere ainda a necessidade da revisão da matéria aprovada em dois turnos, em nome da “preservação da unidade”. Resta saber se haverá disposição pra isso: rever a posição consolidada e capitular, ou, mostrar autonomia diante do governo que se finda em 31 de dezembro. Um paradoxo pra lá de interessante nesta reta final do governo.

Crítico das falas e posturas autoritárias do presidente eleitor, Jair Bolsonaro, Ricardo, que já afirmou em outra entrevista que será um militante pela democracia a partir de 2019, parece não estar muito incomodado em parecer democrático ao criticar a autonomia dos deputados na condução da sucessão do parlamento estadual. O que é no mínimo irônico. Ora, como criticar o autoritarismo de lá praticando algo similar aqui?

Sorte nossa é termos Nonato Guedes para por luz aos fatos e nos antecipar o que pode acontecer (ou não) nesta disputa.

Ricardo não é de ceder, Adriano já disse que não recua. Os próximos capítulos serão imperdíveis…

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