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Ex-guarda nazista afirma ter vergonha do passado

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publicado em 13/11/2018 às 10h59
Foto: Guido Kirchner/pool photo via AP

Um ex-guarda do campo de concentração nazista de Stutthof (Polônia), julgado na Alemanha por cumplicidade em centenas de assassinatos, afirmou nesta terça-feira (13) que sente “vergonha” de ter sido um SS (membro da polícia nazista), mas alegou sua inocência ao afirmar que não sabia da existência das câmaras de gás.

O acusado, um ex-SS de 94 anos, serviu entre junho de 1942 e setembro de 1944 no campo de concentração de Stutthof, perto de Gdansk, Polônia, onde 65 mil pessoas foram assassinadas, principalmente mulheres judias dos países bálticos e da Polônia.

“Certamente tenho vergonha de ter feito parte da SS”, disse o réu em uma declaração lida por seu advogado durante o julgamento.

O acusado afirmou, no entanto, que foi “alistado à força” e não sabia nada sobre “os assassinatos sistemáticos ou as câmaras de gás” no campo de concentração.

O ex-guarda é julgado como menor, pois no momento dos fatos tinha menos de 21 anos. Seu nome não foi comunicado pelo tribunal de Münster (oeste). A imprensa alemã o identificou como um paisagista aposentado de nome Johann Rehbogen.

Seu depoimento era muito aguardado, já que o homem, que chegou de cadeira de rodas para o início do julgamento em 6 de novembro, chorou quando as vítimas do campo de Stutthof falaram no tribunal.

O jornal “Die Welt” informou que em agosto de 2017 o réu negou à polícia que estivesse a par das atrocidades cometidas. Ele disse ainda que os soldados também sofriam com a escassez de alimentos.

De acordo com a acusação, o ex-SS de Stutthof “sabia quais eram todos os métodos para matar e deliberadamente aprovou os assassinatos de centenas de pessoas”, embora não tenha participado diretamente.

O tribunal prevê 14 audiências até janeiro para julgar o ex-guarda de Stutthof. Cada uma estará limitada a duas horas.

Depoimentos raros

Os depoimentos dos guardas dos campos de concentração ou de extermínio são raros, pois foram poucos os julgamentos sobre o nazismo.

A Alemanha começou há alguns anos a tentar identificar os últimos suspeitos com vida e a julgar os que ainda são aptos.

Nos últimos processos, apenas um acusado falou, o ex-SS Oskar Gröning, conhecido como “o contador de Auschwitz”, que pediu “perdão” em 2015 e reconheceu sua “falha moral”. Foi condenado a quatro anos de prisão por cumplicidade na morte de 300.000 judeus. Morreu em março sem cumprir a pena.

Outro ex-SS de Auschwitz, Reinhold Hanning, apresentou em 2016 uma confissão de 25 páginas, lida por seus advogados, na qual admitiu sua “vergonha” e reconheceu que sabia que os deportados eram “assassinados, vítimas do uso de gás e incinerados”.

Mas foi considerado um espectador e não um ator no Holocausto dos judeus, denunciou na ocasião o Comitê Internacional de Auschwitz. Não foi preso, apesar de uma pena de cinco anos de detenção.

Demora da Justiça

Estes casos, simbólicos, não têm apenas um objetivo penal. São pedagógicos e pretendem dar aos descendentes das vítimas o sentimento de que a justiça foi feita.

De maneira geral, a justiça alemã é muito criticada pelo tratamento tardio e insuficiente dos crimes do III Reich.

Esperou até 2011, com o processo do ex-guarda de Sobibor John Demjanjuk, para julgar todos os ex-sentinelas dos campos de extermínio por “cumplicidade de assassinato”, sem importar qual teria sido o comportamento individual. Os ex-guardas são considerados peças de engrenagem de uma “máquina da morte”.

G1

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