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SÃO PAULO

Cartilha que associa gordo a botijão gera polêmica

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publicado em 16/04/2018 às 17h51
Em cartilha distribuída pela prefeitura, personagem engorda e diz que virou um botijão (Foto: Reprodução)

Uma cartilha com orientações sobre hábitos alimentares entregue para alunos de uma escola da rede municipal de São José dos Campos (SP) gerou polêmica . As mães reclamam da abordagem, considerada por elas preconceituosa e agressiva, ao tratar a obesidade infantil como um pesadelo.

No material, uma história em quadrinhos traz personagens acima do peso que se comparam a um botijão e com medo de olhar no espelho. A prefeitura disse que vai recolher o material.

A cartilha ‘A Fantástica Magia dos Alimentos – informações para uma alimentação saudável’ foi entregue aos alunos do 4º ano da escola municipal Maria de Melo, no Parque Industrial, na última sexta-feira (13).

O material faz parte de um projeto desenvolvido na escola, na aula de educação física, para estimular a alimentação saudável e o combate ao sedentarismo.

No quadrinho, a personagem Alice sonha que está em um mundo rodeada pelas tentações das guloseimas e, quando engorda, tenta fugir. Na tirinha, ao se ver no espelho, Alice, não se reconhece e o espelho pede que ela ‘não se assuste’ com a imagem refletida.

Ao tentar correr, ela ainda questiona se, por estar gorda, vai conseguir passa pela porta. Em outro trecho, a personagem diz pra si que precisa ser rápida para executar uma ação, mas não consegue por estar ‘tão pesada’.

As mães reclamam da forma como a publicação tratou o tema obesidade. Para elas, o texto impõe às crianças medo da alimentação, distorção de imagem e reforça preconceitos como o que associa que pessoas acima do peso são devagares e roncam. Especialistas concordam. 

Patrícia Teles é mãe de um menino de 9 anos. O filho dela recebeu a cartilha e questionou o personagem se chamar de botijão. Ela contou que o filho é obeso, faz tratamento e que ela defende o combate aos preconceitos que o material destaca.

“Eu não quero que ele se veja assim. Ele tem alimentação saudável, pratica esporte e é uma criança normal e ativa. Tento mostrar que o corpo não é um problema e que ele ser saudável é o que importa. Faço isso em casa e aí ele chega a escola com um discurso completamente diferente? Isso estimula o bullying em sala”, avaliou.

Lilian Braz é mãe de uma menina de 9 anos que também recebeu o material. A mãe conta que é obesa e se sentiu ofendida com a publicação. “Eu sou mãe de menina e sei que existe uma pressão sobre a imagem das mulheres. Sendo uma mãe acima do peso eu trabalho para que minha filha não tenha medo da imagem, da comida. Isso foi um choque para nós”, disse.

No site da editora responsável pelo conteúdo do material, o material é descrito como ideal para crianças a partir dos seis anos. A publicação é descrita como ‘uma divertida história em quadrinhos que vai possibilitar às crianças uma viagem pelo mundo da fantasia e conhecer hábitos alimentares prejudiciais à saúde’.

A editora ainda diz que há no material os dez passos para não deixar que a magia dos alimentos se transforme em um ‘monstro’.

Outro lado

O dono da editora Alexandre Carlos disse apenas, por telefone, preliminarmente, que a obra foi mal interpretada e que tentou entrar ‘dentro do imaginário da criança’ para mostrar a crueldade que é a obesidade infantil.

A Secretaria de Educação e Cidadania de São José dos Campos informou em nota que essa cartilha foi feita pela gestão passada e foi distribuída por uma professora na escola.

“A Secretaria reconhece e agradece as observações feitas pelos pais e informa que já determinou que todos os materiais sejam recolhidos”, concluiu a nota

A gestão passada negou que a cartilha teria sido adquirida pelo governo Carlinhos Almeida. “A cartilha ‘A Fantástica Magia dos Alimentos’, não foi e nunca seria adquirida pelo governo Carlinhos Almeida por não atender a política pedagógica defendida pelo PT”, informou por nota.

“Muito nos espanta o governo Felicio, além de transferir a responsabilidade de sua administração, não saber dos atos de seu próprio governo”, complementou.

O Portal da Transparência da Prefeitura de São José dos Campos constatou que 10 mil unidades da cartilhas, ao custo de R$ 18.900 e com a dispensa de licitação, foram adquiridas pela gestão de Felício Ramuth em novembro de 2017.

Também foram encontradas compras de material sobre prevenção à obesidade infantil na gestão do ex-prefeito Carlinhos Almeida (PT). O fornecedor é o mesmo. Segundo a gestão anterior, a distribuição do material nunca foi feita no governo do petista.

G1

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