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ECONOMIA

China anuncia tarifas sobre soja e aviões dos EUA

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publicado em 04/04/2018 às 14h39
China retalia tarifas dos EUA e adota taxas sobre importações de soja, carros e aviões. Na foto, trabalhadores movimentam carga no porto de Nantong, em imagem de arquivo. (Foto: Reuters)

A China respondeu rapidamente nesta quarta-feira (4) aos planos do presidente norte-americano Donald Trump de adotar tarifas sobre US$ 50 bilhões em bens chineses, retaliando com tarifas de 25% sobre importações dos Estados Unidos como soja, aviões, carros, carne, uísque e produtos químicos.

“Qualquer tentativa de colocar a China de joelhos com ameaças e intimidações nunca terá êxito. Tampouco terá êxito desta vez”, afirmou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

O ministério do Comércio da China citou 106 famílias de produtos americanos, mas indicou que a data de aplicação ainda será anunciada.

A decisão é simbólica porque até agora Pequim não havia anunciado medidas contra produtos vitais da economia americana, como a soja ou os automóveis. Um terço da produção de soja americana é vendido para a China (US$ 14 bilhões no ano passado), e substituir essas toneladas dos EUA não será tarefa fácil. “Simplesmente não há soja suficiente no mundo fora dos EUA para atender às necessidades da China”, disse Mark Williams, economista-chefe para Ásia na Capital Economics.

Reação dos mercados

A velocidade com que a disputa comercial entre Washington e Pequim está ganhando força – o governo chinês levou menos de 11 horas para responder com suas próprias medidas – levou a uma forte liquidação nos mercados acionários e de commodities.

Os investidores se questionam se uma das piores disputas comerciais em muitos anos pode agora se tornar uma guerra comercial em larga escala entre as duas maiores potências econômicas do mundo.

O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 0,19%, enquanto o índice de Xangai teve queda de 0,15%. Os mercados acionários da China permanecerão fechados na quinta e sexta-feira por conta do feriado do Dia de Limpeza dos Túmulos, que comemora e reverencia os antepassados.

“O pressuposto era de que a China não responderia agressivamente demais e evitaria aumentar as tensões. A resposta da China é uma surpresa para algumas pessoas”, disse Julian Evans-Pritchard, economista sênior da Capital Economics, lembrando que nenhum dos dois lados falou ainda em aplicação das tarifas.

“É mais um jogo de provocação, deixando claro qual seria o custo, na esperança de que ambos os lados possam chegar a um acordo e nenhuma dessas tarifas entre em vigor”, disse ele.

Entenda a retaliação

O gigante asiático, que é o segundo maior parceiro comercial dos EUA, já anunciou na última segunda-feira a imposição de taxas para um conjunto de 128 produtos americanos, em resposta às tarifas que Washington anunciou no mês passado sobre as importações de aço e alumínios chineses.

A lista de Pequim de tarifas adicionais de 25% sobre bens dos EUA cobre 106 itens com um valor comercial que corresponde aos US$ 50 bilhões visados na lista de Washington, disseram os ministérios do Comércio e de Finanças da China. A data efetiva depende de quando a ação dos EUA entrar em vigor.

Diferentemente da lista de Washington, que foi preenchida com muitos itens industriais obscuros, a lista da China afeta produtos importantes de exportação dos EUA, como soja, carne congelada, algodão e outras commodities agrícolas importantes produzidas em Estados do Iowa ao Texas, que votaram em Donald Trump na eleição presidencial de 2016.

A lista chinesa cobre ainda aeronaves que provavelmente incluiriam modelos mais velhos da Boeing Co como o jato 737, mas modelos mais novos como o 737 MAX ou seus aviões maiores.

Na véspera, a China notificou a Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre medidas retaliatórias equivalentes a US$ 611,5 milhões sobre importações dos Estados Unidos que somam US$ 2,75 bilhões, incluindo carne de porco, nozes e etanol, em resposta às sobretaxas dos EUA sobre as importações de aço e alumínio.

Guerra comercial

Na véspera, a administração Trump anunciou que vai impor tarifas de 25% em cerca de 1.300 produtos importados da China. Os itens que serão tributados são produtos médicos, de tecnologia industrial e transporte.

As tarifas visam forçar mudanças nas políticas do governo chinês que, segundo o governo Trump, resultam na transferência “não econômica” da propriedade intelectual dos EUA para empresas chinesas. Em relatório, os EUA acusam a China de usar hackers para roubar segredos industriais de empresas americanas.

Trump sempre menciona também o colossal déficit comercial dos Estados Unidos com a China, de US$ 375,2 bilhões em 2017, para justificar as medidas protecionistas.

O governo dos Estados Unidos, cuja competitividade depende de sua capacidade para inovar, abriu em agosto de 2017 uma investigação em nome do artigo 301 de sua legislação comercial sobre supostas violações chinesas ao direito de propriedade intelectual.

Washington critica em particular o sistema de coempresa imposto por Pequim às companhias americanas. Com o sistema, as empresas que desejam ter acesso ao mercado chinês precisam, obrigatoriamente, associar-se a um grupo local e compartilhar com este sua tecnologia.

A China nega que suas leis exijam transferências de tecnologia.

No dia 22 de março, Trump anunciou tarifas para a importação de aço (25%) e alumínio (10%) em nome da “segurança nacional”, argumento que o ministério chinês do Comércio chamou de “abuso” das normas da OMC.

Diante das críticas internacionais à medida de Trump, vários países – da União Europeia, México e Brasil, entre outros – ficaram isentos da nova medida, mas não a China.

G1

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