João Pessoa, 01 de abril de 2018 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
No dicionário a palavra ‘transição’ traz alguns significados – fase intermediária; mudança; passagem de um estado de coisas. Quando se fala em cabelo, a palavra ganha um sentido especial. A transição capilar é o momento em que a pessoa que antes fazia algum tratamento químico, deixa crescer o cabelo natural e para de aplicar qualquer produto que modifique a estrutura dos fios.
Consultora capilar de cabelos cacheados e crespos, Andila Nahusi vê um crescimento no número das pessoas, mulheres em sua maioria, que tem decidido mudar o visual e aceitar o cabelo de forma natural.
“Estamos vivenciando um momento onde as mulheres não têm tanto receio em cortar os cabelos, indo contra a cultura de que a feminilidade só é bem vista se a mulher tem cabelos longos”, avaliou.
Segundo ela, a onda de ‘aceitação capilar’ cresceu consideravelmente desde 2013. “As mulheres começaram a entender que podiam usar seus cabelos naturais, sem uma química transformadora padrão”, explica a consultora, que vê uma corrente de apoio entre as mulheres responsável pela revolução.
Revolução porque apesar da mudança ser vista apenas no cabelo, a transição capilar atinge muitas áreas. Há oito anos de cabelo natural, Janiffer Medeiros sabe bem disso.
“A sensação de estar com o cabelo natural é de ser eu mesma. Me sinto naturalmente linda, autêntica. Depois que cortei, me encontrei como mulher negra, já que com meus cabelos esticados minha identidade não era tão visível ”, conta.
A cabeleireira ainda vê a população brasileira longe de alcançar a aceitação plena dos fios, um problema enraizado no país. “Mais da metade das pessoas são negras e alisam o cabelo muito cedo, demonstrando uma negação à estética afro, e ainda acham os fios ‘exóticos”, ressalta Janiffer.
Decisão
Quem escolhe passar pela transição capilar, pode ter vários motivos para a decisão, ou nenhum. A escolha é pessoal e pode ou não ser tomada. Para quem deseja abandonar os tratamentos a base de químicas, a consultora capilar Andila dá algumas dicas e ressalta a importância da paciência. “A transição capilar mexe com nosso interior, nossa vaidade e nossa identidade visual e étnica. Vamos nos reconciliando com a nossa beleza natural aos poucos”.
Ela ainda ressalta outros fatores:
Em transição
Atualmente Ingrid Fernandes passa pela transição capilar. Cansada dos processos exaustivos no salão, a jovem decidiu dar uma chance ao cabelo natural que nem se lembrava mais. Há 7 meses ela não submete o cabelo a procedimentos químicos.
Vez ou outra, ela sente vontade de desistir, mas segue persistindo rumo ao natural. “No começo foi um pouco difícil, ficava tentada a voltar a fazer o relaxamento. Meus cachos têm texturas diferentes e a parte da frente é bem crespa. Mas vejo o quanto meus cachos naturais são lindos e que só precisam de cuidados”, admite.
Ingrid entrou em transição junto com uma amiga, e agora, a mãe também passa pelo processo. A jovem sabe o poder da influência nesse momento, e entende a fragilidade momentânea de quem passa pela transformação. Sem pensar duas vezes, ela aconselha:
“Tenha convicção de que é isso mesmo que você deseja e lute para conseguir. Tenha determinação, a fase da transição não é fácil, mas é passageira. Não se deixe levar por comentários desmotivadores, as opiniões poderão mudar quando seus cachos estiverem todos aí, lindos e maravilhosos. A espera vale. Se os outros não gostarem paciência, o que importa é você estar satisfeita e se amando como naturalmente é”.
Caroline Queiroz – MaisPB
Podcast da Rede Mais - 23/04/2024