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Caso Emanuelly

Pais torturaram menina por quase um mês até morrer

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publicado em 13/03/2018 às 15h16
atualizado em 13/03/2018 às 12h19
Suspeita é que Emanuelly foi morta pelos pais em Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

O laudo necroscópico do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a menina Emanuelly Agatha da Silva, de 5 anos, foi agredida várias vezes pelos pais durante quase um mês até morrer, em 2 de março deste ano.

 As informações foram divulgadas pelo delegado que cuida do caso, Eduardo de Souza Fernandes, com base no laudo da perícia.

“O laudo constatou que ela apresentava lesões de até 20 dias atrás, o que entendemos como uma tortura”, afirma o delegado.

O documento apontou que Emanuelly morreu em decorrência de um traumatismo craniano e hemorragia cerebral.

Os pais, Phelipe Douglas Alves, de 25 anos, e Débora Rolim da Silva, de 24 anos, tiveram a prisão preventiva decretada um dia depois do crime e estão na penitenciária de Tremembé, a mesma que abriga o casal Nardoni, onde estão em celas isoladas.

O casal tem outra filha, de nove anos – fruto de um relacionamento anterior da mãe -, e um menino caçula, de quatro anos.

O inquérito foi concluído na segunda-feira (12) e encaminhado ao Fórum, com indiciamento do casal por maus-tratos. O Ministério Público tem prazo de cinco dias para analisar o inquérito e decidir quais crimes vai apresentar à Justiça.

Eduardo de Souza detalhou como aconteceu a agressão que matou a menina, com base no depoimento do irmão caçula de Emanuelly.

Segundo ele, no dia do crime Emanuelly estava dormindo quando os pais foram ao quarto dizendo que dariam banho nela. Um deles pegou a menina e a arremessou contra a parede, provocando um grave ferimento em sua cabeça.

“A informação passada por um dos filhos é que os dois foram ao quarto, enquanto a menina estava dormindo, e a agrediram. É um crime cujo passo a passo é difícil de ser comprovado, mas o depoimento do filho foi contundente. Eles [os pais] acordaram-na para tomar banho e, então, praticaram o ato que levou à morte”, afirma.

Após o crime, o casal ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) dizendo que ela estava com convulsões por ter caído da cama, mas os médicos constaram múltiplas lesões na menina.

“O ferimento era incompatível com a queda. Ela tinha uma lesão grave na cabeça, nos braços, pernas, peito e até mesmo teve partes do cabelo arrancadas. Ela tinha múltiplas lesões, mas o que provocou a morte foi o grave ferimento na cabeça”, explicou.

O delegado disse que, mesmo sabendo da gravidade dos ferimentos da filha, os pais se mantiveram frios. “Mesmo com a menina em estado grave, eles [os pais] se mantiveram frios. Isso comprova que eles negavam a menina, como aconteceu desde o início. Na delegacia eles estavam tranquilos, como se nada tivesse acontecido”, diz.

A mãe de Emanuelly chegou a perder a guarda da menina em 2012, logo após o parto prematuro, porque ela se recusava a visitar a filha.Débora entrou na Justiça e conseguiu recuperar a guarda após comprovar que tinha condições para cuidar da menina.

“Eles judiavam da criança há muito tempo, possivelmente desde que a mãe recuperou a guarda”, acredita o delegado.

As agressões não foram constatadas nos outros filhos. “Com a filha mais velha e mais novo eles [os pais] não tinham a mesma atitude de violência. Acreditamos, inclusive, que essa depressão que a mãe teve após ter a Emanuelly se manteve até depois que ela recebeu a menina. E também foi comprovado que os dois eram usuários de drogas”, afirma.

Sobre a possível omissão do Conselho Tutelar, que devolveu a guarda de Emanuelly à família, o delegado afirma que não vê erro, pois o casal era “muito esperto e fez de tudo para enganar os conselheiros até o caso ser arquivado pela Justiça”.

“Eles fizeram de tudo para ludibriar todo mundo, inclusive os conselheiros. Eles orientavam os filhos a só falarem bem deles, principalmente a filha mais velha. Em depoimento a menina chegou a dizer que os pais tratavam bem a Emanuelly, mas quando fizemos perguntas para as quais ela não estava orientada, ela dizia a verdade. Foi o que ajudou a comprovar os fatos”, conclui o delegado.

Inquérito

Apesar do laudo apontar que o ferimento causado na cabeça da menina provocou a hemorragia que levou à morte, no inquérito os pais foram indiciados apenas por maus-tratos.Segundo o delegado, as provas contra o casal são de maus-tratos, por isso o indiciamento. Porém, ele alega que colocou que há indícios de homicídio qualificado e tortura, e que o promotor poderá incluir isso no processo.

“É difícil dizer que o crime foi premeditado, pois os dois se negaram a falar sobre o caso. Eles disseram que não vão falar nada, só falam em juízo. A parte da polícia foi feita. Montamos o laudo, comprovando lesões, as causas da morte, o laudo pericial do local dos fatos, onde constatamos locais com sangue da criança, e enviamos tudo para o poder judiciário. As provas que tenho no inquérito são de maus-tratos”, explica.

Gritos abafados

A Suspeita de matar filha espancada colocava papel na boca da menina para abafar os gritos

Uma babá que trabalhou na casa de Débora e Phelipe relatou que a menina era agredida constantemente. Segundo ela, a mulher chegava até a colocar papel na boca da criança para que ela não gritasse.

“Um dia fui trabalhar e ela estava com o olho roxo. Porém, quando perguntei o que tinha acontecido, ela disse que tinha caído. Foi então que a irmã mais velha contou que a mãe havia enchido a boca dela [Emanuelly] com papel para que ela não gritasse e bateu com o guarda-chuva no olho dela”, afirma a babá, que chegou a denunciar os pais da menina em 2017.

O avô paterno da menina Emanuelly afirmou que Phelipe era violento quando usava drogas e que já até chegou a agredi-lo.

“Ele era usuário de drogas. Não só ele como a esposa também. O Phelipe era muito violento quando usava droga. Fora de série. Quando ele estava sem nada, era um anjo. Quando usava droga mudava tudo. Ficava violento. Eu mesmo ele agrediu por causa da droga”, afirmou Luiz Carlos Alves.

Segundo o avô, ele sempre notou marcas de agressão no corpo da criança e questionava os pais sobre elas. Porém, ele alega que o filho e a nora diziam sempre que a menina vivia caindo.

Na noite de sexta-feira (9) moradores da Itapetininga (SP) se reuniram para participar da missa de sétimo dia da menina.

G1

 

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