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Mart’nália afirma em entrevista que nunca transou com homens

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publicado em 12/03/2018 às 15h16
atualizado em 12/03/2018 às 12h18
Mart'nália | Foto: Leo Aversa

Anália não sentiu as dores do parto. Antecipou a cesariana em homenagem ao marido militar naquele 7 de setembro de 1965. Então, enquanto o pai Martinho marchava, nascia Mart’nália. No Hospital dos Italianos, com a incubadora como leito e o Hino Nacional de trilha sonora.

A prematura amadureceu e, 52 anos depois, enfrenta os calores da menopausa com otimismo: “Só de pensar que não vou ter que usar mais Modess…”, diz, interrompida pela tosse, reação a um trago profundo no cigarro enrolado ali mesmo.

Os pulmões vão bem, os ovários são dúvida, mas a preocupação com os cistos que apareceram vai sendo digerida com uma, duas, três ou quatro cervejas ao longo da entrevista. Mart’nália acredita que é virgem, nunca transou com homem, beija mulher desde os dez anos. Um filme sobre o pai, Martinho da Vila, vai nascer em breve.

Confira a entrevista completa

Como é o filme que está fazendo sobre seu pai?

Vamos contar a história através da música dele. Coisas que não estão no Google. O diretor Estevão Ciavatta (diretor e roteirista) está com a gente. Vamos falar da relação do meu pai com Angola, seus 14 livros, a passagem pelo Exército… Sabia que ele foi o primeiro cara a cantar música de macumba na rádio? “O sino da igrejinha faz belém, blém, blom”. E ele foi coroinha de igreja!

O filme já tem nome?

A princípio, “Pilares”. Meus avós trabalhavam em uma fazenda em Duas Barras (no interior do estado) e, quando meu pai nasceu, eles se mudaram para a Serra dos Pretos Forros (perto de Lins de Vasconcelos). Meu avô, cheio de dívidas, se enforcou em uma árvore lá no morro. Resolveu o problema dele e deixou minha avó ferrada. Mesmo analfabeta, ela criou os cinco filhos. Minhas tias foram empregadas domésticas. Meu pai trabalhou em casa de família e vendeu estrume. Estou contando coisas que muita gente não sabe. Escreva de forma agradável, pois tudo deu certo. Meu pai “ficou” militar, sargento, e fomos morar em Pilares.

Nunca pensou em ser militar?

Deus me livre. Meu pai não incentivaria. Ele não teve escolha. Tinha que servir. Nasci no dia 7 de setembro. Minha mãe quis homenagear meu pai, que estava marchando, e resolveu me tirar antes. Nasci de sete ou oito meses, fiquei um mês na incubadora. Por isso, vivo com preguiça.

Tem admiração pelas forças armadas?

Agora eu não tenho nenhuma. Mas levanto antes de um jogo de vôlei pra cantar o hino com a mão direita no peito, na frente da televisão.

O que acha da intervenção federal?

É outro golpe. Não vejo intervenção nenhuma. Só vejo um monte de PM vendido, que não ganha bem e não tem preparo. A gente sabe quem passa a arma pro bandido. Como é que chega lá em cima, se o cara não desce? Vamos mudar de assunto…

Vamos então falar de Vila Isabel?

Vamos, porque a gente ganha mais.

Frequenta a Vila?

Vou sempre. Não fui lá no carnaval porque fiz o samba da Unidos da Tijuca e andava de saco cheio da Vila Isabel, até então com o Paulo Barros.

Paulo Barros foi para a Viradouro…

Espero que fique bem longe da minha escola. Na escola dos outros, é incrível. Na minha, óbvio que não ia dar certo. Vila é liberdade, boemia, samba. Não combina com aquele carnaval grandioso, uóóó! Tirou as características da escola, o que acaba afastando muita gente. Agora, volta todo mundo, êêê! Está tudo lindo.

Você volta?

Volto. Seu eu sair, vou morrer.

Na cobertura do carnaval, uma repórter achou que você era amiga do Martinho. Ficou chateada?

Ela não sabia que eu era filha dele. Me confundiu com Sandra de Sá, Lecy Brandão, ou alguma cantora preta (risos).

Martinho se mete no teu trabalho?

Eu não deixo. Se deixar, ele faz tudo. É um aquariano, ex-militar e coroinha de igreja, pô.

De onde vem toda a sua alegria?

Da família. Quando acordo “revolts”, bate uma revolta por estar “revolts”. “Putz, por que tô assim? Ah… TPM!” E agora tem a tal da menopausa. Estou achando engraçadão.

Está na menopausa?

Bateu um calorão engraçado. Não fiquei menstruada. Falei: “Opa! Me dei bem”. Mas, esse mês, não sei se por causa do nervoso, no carnaval, fiquei “menstra”. Já vou saber se foi tensão pré-carnaval ou se a menopausa chegou. Só de pensar que não vou ter que usar Modess, não vou sangrar…

Há quem tome anticoncepcional de uso contínuo para não menstruar…

Essa parada é pra não ter filho. Não corro esse risco (risos). E tenho uns cistos (nos ovários). A médica diz que somem na menopausa.

Você não transa?

Só com mulher.

Mas já transou com homem…

Nunca transei com homem. Sempre namorei menina.

Desde que idade namora menina?

Desde os 10 anos. Não tinha negócio de gay ou não gay. Sempre tive cara e jeito de menino, e as meninas se permitiam. Eu agarrava elas, elas me agarravam.

A família aceitava numa boa?

Minha família é esquisita, sabe? Minha avó dizia: “Essa menina nasceu com o sexo trocado”. Eu não queria botar camisa, ficava jogando bola, soltando pipa, não brincava com as primas. Na hora do “pera, uva, maçã, salada mista”, os meninos iam dormir, e eu ficava beijando as meninas. Muito tempo depois, fizeram fofoca pro meu pai, e ele disse: “Você podia ter me falado”. Eu respondi: “Ué, mas eu nem sabia o que era”. O pessoal botou peso numa coisa que era normal pra mim. Não tive que mudar de jeito, nem de roupa. Nunca olhei pra homem, não.

Você é virgem?

Não perdi a virgindade. Sei lá. Talvez, com um “o.b.”. E olha que uso o mini. Ah, já sei! Perdi a virgindade quando fiz exame. O cara meteu aquele negócio em mim.  Fiquei cinco dias sangrando. E mudei de ginecologista. Senti muita dor e raiva. Minha médica atual sabe que não tenho introdução, não tenho penetração.

Já pensou em mudar de nome, de sexo?

Sou Mart’nália porque minha mãe se chama Anália, meu pai se chama Martinho. Pronto.

Está namorando?

Não. Estou na pista. Mulher é um bicho esquisito, né? Nossa! É muito chato! Adoro ficar olhando as mulheres. São lindas, mas é tudo maluca.

Na sua versão de “Tempo de Estio”, do Caetano Veloso, você incluiu alguns nomes de mulheres. Quem são?

Tudo namorada. Ex, atuais, para sempre.

Você já usou vestido?

Umas cinco vezes na vida. Usei saia no casamento da minha irmã, há 36 anos. Na infância, as pessoas reclamavam: “Fecha as pernas”. Meu pai dizia: “Dá um short pra ela, em vez de perturbar”. Eu não tinha modos. Não tenho ainda.

Que benefícios a nova legislação traz aos trans, aos gays?

Para mim, não muda nada. Para os que vêm agora, talvez. Não sofri preconceito, não tenho nada a ver com isso. Se a pessoa tiver necessidade de tirar ou botar peru, é um problema de cada um. Tem gente que diz: “Pô, você não gosta de falar disso”. É que eu não tenho o que falar. Pra mim, é simples. Não tenho história pra contar.

O Globo

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