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Transtorno do Espectro Autista

Crianças autistas lutam contra preconceito

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publicado em 25/02/2018 às 12h04
atualizado em 25/02/2018 às 17h47
Aula de musicalização no Ira (Foto: Kleide Texeira)

Durante o parto da terceira gestação, Waldemira Gomes da Silva, 45, teve a notícia de que havia algo diferente com sua filha, mas os médicos não sabiam afirmar o que seria. Aos seis meses o bebê apresentou sequências de convulsões e foi diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (Tea).

A mãe procurou ajuda em hospitais e clínicas, até chegar ao Instituto Revertendo o Autismo (Ira), no município de Cabedelo, onde obteve mais conhecimento e esperança de ver Alexia da Silva Feijó, hoje com cinco anos, desenvolver novas habilidades.

Sem conhecimento sobre o transtorno, Waldemira entrou em depressão e se viu confusa pela rejeição que nutria pela filha. “Eu ainda não reconhecia Alexia como minha filha, eu precisava e preciso de ajuda”, comenta.

A menina começou tratamento na Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad), onde passou a ser acompanhada por um psicólogo e outros profissionais. No entanto, mesmo com o tratamento, Alexia não apresentava melhoras do quadro de sintomas. Aos quatro anos poucas palavras eram ditas e a menina também foi diagnosticada com déficit de aprendizado.

O quadro mudou quando a menina passou a ser atendida no Ira. No instituto, Waldemira e outras mães participam de três encontros semanais, onde o diálogo é um dos principais pontos abordados.

Mães e crianças participam de atividades no Ira (Foto: Kleide Teixeira)

Assim que chegam ao IRA, os autistas passam por conversas com os profissionais para diagnóstico e orientações. É criado um protocolo de atendimento e realizado um Autism Treatment Evaluantion Checklist (ATEC). Na avaliação o profissional vai marcando, de acordo com a resposta da mãe ou responsável, característica do comportamento e sintomas que a criança apresenta. Cada resposta tem uma pontuação no Atec, que vai de 0 a 180 pontos. A quantidade final se referente ao grau de autismo de cada pessoa.

“Quando Alexia chegou ao instituto ela foi avaliada com autismo grave, com 109 pontos, em 4 meses passou para 62, nível moderado, com um ano estava no nível leve, quando apresentou 42 pontos”, explicou Waldemira.

Acompanhamento familiar e alimentação equilibrada

Moisés Anton, psicólogo diretor e fundador do Ira (Foto: Kleide Teixeira)

O tratamento para autismo não se resume ao acompanhamento de sessões com psicólogos e outros profissionais. É necessário o acompanhamento das famílias, o diálogo e uma alimentação equilibrada.

Diretor e fundador do Ira, o psicólogo Moisés Anton explica que o Instituto tem a função de explicar às mães e familiares sobre o autismo e as diversas formas de atuar. “As famílias também ficam doentes e elas devem ser tratadas, porque sabemos que é complicado conviver com uma criança com indefinições de comportamento”, comenta.

Além dos encontros de diálogos entre profissionais e as famílias, o instituto promove encontros musicais para as crianças e brincadeiras na piscina. Para as mães são realizadas aulas de yoga e meditação. No domingo, toda família é convida para ir à praia, no projeto Ira Praia, para incentivar principalmente os pais a brincarem com seus filhos. “Alguns que não podem ir durante a semana vão no domingo. Nós incentivamos as brincadeiras, por meio delas que as crianças desenvolvem os sistemas cognitivos e motor”, disse o psicólogo.

A alimentação é um ponto bastante trabalhado no Ira, duas nutricionistas fazem parte da equipe e são responsáveis por orientar as mães a preparar uma alimentação balanceada para seus filhos. No projeto não são utilizados medicamentos. “O remédio é receitado por alguns médicos para acalmar crianças que se batem e que não dormem. Acredito que o uso de remédios atrapalha a evolução do tratamento do autista”, afirma.

Brunna, Marianita e Laila na terapia ‘Ira praia’ (Foto: Kleide Teixeira)

O que o diretor acredita e aplica no Instituto Ira, é uma dieta rica em frutas e verduras para combater os diversos sintomas do autismo. Geralmente são cortados leite e seus derivados, além de trigo, alimentos com corantes e artificias. “É um processo de desintoxicação, quando as mães conseguem seguir a dieta as mudanças são incríveis. Muitas crianças que não falavam, não dormiam e que se batiam, mudam o comportamento apenas com a modificação da alimentação”, diz o psicólogo.

A evolução de Samuel

Samuel Miguel Magalhães, 9 anos, foi diagnosticado com autismo leve e também faz tratamento no Ira. Sua mãe, Maria Silvânia Miguel Magalhães, 41, buscava conhecer mais sobre a doença para tentar melhorar a qualidade de vida do filho. Por indicação, ela começou a frequentar o instituto e a praticar a dieta indicada pelos profissionais. “Eu não tinha conhecimento que a mudança na alimentação era tão importante para uma pessoa autista”, comenta a Silvânia.

As mudanças na alimentação modificou a forma da Silvânia ver o autismo e mostrou uma das principais conquistas do seu filho, a comunicação. “Ele começou a responder e fazer perguntas, conseguindo ter um diálogo”, comenta.

Para abranger o atendimento, o Instituto Revertendo o Autismo está com parceria firmada com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para produção de remédios fitoterápicos específicos para o tratamento de problemas metabólicos que atinge crianças com autismo. Também serão disponibilizados pela universidade diversos tipos de exames para agilizar o atendimento.

Atendimento preferencial

Entidades em defesa dos autistas se mobilizam para garantir a inserção do símbolo do autismo nas placas que sinalizam atendimento prioritário em estabelecimentos públicos e privados da Paraíba. Projeto de lei que garantiria a prioridade no atendimento foi vetado pelo Governo do Estado.

Na última terça-feira (20) houve reunião na Funad com todas as entidades que trabalham com autistas. Para buscar um entendimento da causa e também verificar formas para reverter o veto.

De acordo com o psicólogo Moisés Anton, a Lei 10048 que fala sobre atendimento prioritário, também abrange autistas e garante o atendimento prioritário. Porém , o simbolismo nas placas de sinalização de atendimento prioritário chama mais atenção das pessoas.

“O que os pais querem é a sinalização nas placas, para que as pessoas percebam que o comportamento que os autistas muitas vezes apresentam, não é falta de educação das crianças”, afirma.

Para Silvânia mãe de um menino com autismo é de extrema necessidade a sinalização do atendimento diferenciado para acompanhantes e autistas. “Nem todo autista é igual, uns conseguem esperar outros não. Temos que respeitar os limites de cada pessoa com espectro autista”, afirma Silvânia.

Representantes de ONGs, Instituições e pais estão aguardando uma audiência com o governador Ricardo Coutinho.

Juliana Santos – MaisPB

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