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Eleições hoje definirão futuro de Macri

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publicado em 22/10/2017 às 10h07
atualizado em 22/10/2017 às 07h08

Neste domingo, cerca de 33 milhões de argentinos estão aptos para ir às urnas para renovar parte do Congresso Nacional em uma eleição considerada fundamental para o governo do presidente Mauricio Macri.

Por ser realizada na metade do mandato presidencial, a eleição legislativa costuma ser definida pelos analistas como uma espécie de plebiscito ao governo central. E esta eleição pode determinar o futuro do macrismo, a partir do nível de respaldo dos argentinos, em um contexto em que podem estar sendo testados, sobretudo: 1) o desempenho da economia na era Macri; 2) o artesão Santiago Maldonado, desaparecido desde o início de agosto e gerando uma comoção nacional.

A perícia confirmou que o corpo encontrando em um rio na terça é do rapaz. Maldonado, 28, havida sido visto pela última vez, em Chubut, na Patagônia.

Maldonado teria sido visto sendo detido por tropas federais que dispersavam um protesto pelos direitos da tribo indígena mapuche, mas há relatos contraditórios sobre o ocorrido. Macri foi acusado de reagir “mal e tarde” à crise gerada pelo caso, que reacendeu entre setores da sociedade argentina as memórias da época da ditadura, quando presos políticos desapareciam nas mãos do Estado.

A polícia diz que ele se afogou e que não havia sinais de violência.

Inicialmente, analistas acreditavam que o caso poderia não influenciar no resultado eleitoral, com as pesquisas apontando vitória dos candidatos do governo em grande parte do país em meio à melhoria de indicadores econômicos.

No entanto, diretores de pesquisas de opinião apontaram para o estancamento nas intenções de votos aos governistas, segundo publicou, nesta sexta-feira, o jornal La Nación, de Buenos Aires.

“É difícil prever o que vai acontecer domingo e qual o impacto do caso Maldonado, mas a tendência é que os que já votavam em Macri mantenham a fidelidade e o mesmo ocorra em relação aos eleitores da oposição. No entanto, há cerca de 15% de indecisos aos quais é preciso prestar atenção”, disse o analista Enrique Zuleta Puceiro à imprensa argentina.

Mulher com cartaz que questiona 'Onde está Santiago Maldonado'Direito de imagemREUTERS
Image captionMulher com cartaz que questiona ‘Onde está Santiago Maldonado’; desaparecimento de jovem gerou crise no governo Macri

De olho na reeleição

Analistas ouvidos pela BBC Brasil disseram que se o governo registrar uma boa votação – em torno de 40% do eleitorado nacional -, a eleição poderia levar o presidente, que assumiu em dezembro de 2015, a reforçar suas políticas e caminhar para a busca da reeleição.

Caso esse índice seja mais magro que o previsto pelas pesquisas, o governo poderia ter que rever iniciativas para manter o apoio popular e no Congresso Nacional, onde, apesar de não ter maioria, tem conseguido a aprovação de seus projetos de lei. Esse cenário, porém, ainda era considerado pouco provável na sexta-feira, nos bastidores do poder.

“A expectativa é de que a coalizão de Macri, Cambiemos (Mudemos), vença neste domingo e amplie sua força no Congresso Nacional, mas mesmo assim não terá quórum próprio e deverá buscar aliados em outras forças partidárias”, afirmou o analista político e autor de pesquisas de opinião Ricardo Rouvier.

Segundo ele, o candidato de Macri ao Senado, Esteban Bullrich, deverá superar a candidata e ex-presidente Cristina Kirchner, que perdia nos levantamentos de intenção de votos. Bullrich e Cristina devem ser eleitos senadores e disputam quem liderará a votação. Os dois são cabeças de chapa das forças políticas que representam, na província de Buenos Aires, a maior do país, e o nível de votos que recebam indicará quem poderá levar mais políticos com eles para a Casa.

Mas Cristina também tem pretensões de disputar a eleição presidencial de 2019. Sua força- popular e dentro do peronismo – também dependerá dos votos que terá nas urnas neste domingo.

Eleitores em campanhaDireito de imagemAFP
Image captionEleitores em campanha: Para muitos, percepção de perda de poder aquisitivo é mais significativa do que combate à corrupção

‘Fantasmas’

Para Bernardo Kosacoff, professor de economia da Universidade de Buenos Aires, o resultado das primárias realizadas em agosto, quando o macrismo teve mais votos que o esperado, deram maior confiança ao governo porque foram afastados “fantasmas” da “falta de governabilidade” por ser uma gestão nova – como ocorreu em governos anteriores, como os de Rául Alfonsín e Fernando de la Rúa, que não eram da tradicional força política peronismo e não conseguiram concluir seus mandatos.

O analista político Jorge Giacobbe e um ex-ministro kirchnerista que pediu o anonimato observaram que o retrato eleitoral da Argentina é praticamente o mesmo que quando Macri foi eleito, com o país dividido entre os que o apoiam e os que o rejeitam e preferem as políticas de sua antecessora, Cristina Kirchner.

No entanto, observam, Cristina teria um “teto eleitoral” em torno dos 35% e Macri poderia crescer no apoio popular e no respaldo político, “se conseguir corrigir os erros cometidos” no caso Maldonado, opinou o sociólogo e historiador Marcos Navaro.

“Esta eleição é fundamental para o governo porque pode representar um grande apoio à difícil gestão de Macri, em sua primeira metade, e poderia ser ainda um voto de confiança ao governo entre 2017 e 2019”, opinou o analista Vicente Palermo, cientista político e presidente do Clube Político Argentino. Para ele, uma votação expressiva daria ao macrismo “margem de ação” e a chance de “sepultar” o kirchnerismo (2003-2015).

Macri e Cristina em campanha políticaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMacri e Cristina Kirchner (ela é candidata ao Senado) polarizam opiniões na Argentina

Na noite de quinta-feira, no popular programa de televisão Intratables (‘Intratáveis’), da TV América, o analista Giacobbe afirmou que se o macrismo vencer “eliminará um competidor titânico na política argentina, a ex-presidente Cristina Kirchner”. Segundo ele, se isso acontecer, o risco é que Macri e seus aliados sofram dos males da “soberba”, ante a ausência de um opositor de peso no jogo político nacional.

É a economia, estúpido

Além do xadrez político, que envolve ainda o peronismo, que costuma ser relevante nos rumos da Argentina, outro fator apontado como “fundamental” pode definir o peso do macrismo – a economia.

O país encarou uma forte recessão no ano passado, marcado por medidas como aumento das tarifas dos serviços públicos e elevação nos índices de pobreza.

Governistas argumentam que na gestão de Cristina não existiam estatísticas confiáveis, o que dificulta comparações. Nos últimos meses, o índice de pobreza registrou queda e a atividade econômica subiu, segundo dados oficiais. Isso levou o ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, a afirmar que “a recessão já foi superada” e que “a recuperação foi iniciada e a economia argentina já está crescendo”.

No entanto, o presidente do Banco Central, Federico Sturzenegger, reconheceu, pouco antes da eleição deste domingo, que a meta anual de inflação, de 17%, não será alcançada. O “ritmo” inflacionário, admitiu, superou as expectativas.

Analistas econômicos estimam que o índice deverá ficar em torno dos 20% neste ano – nos anos imediatamente anteriores esteve em torno dos 40%. “A economia vinha em queda desde 2011 e nos últimos três trimestres entrou no caminho da recuperação e do crescimento e as perspectivas são positivas para daqui para frente”, afirmou Kosacoff.

De volta ao front político, Cristina sofreu reveses: na quinta-feira, um dos principais assessores do Kirchnerismo foi preso, o ex-braço forte do ex-ministro do Planejamento, Roberto Baratta, e na semana que vem o próprio De Vido pode perder foro privilegiado para responder por acusações de corrupção.

Em seus últimos discursos, antes de a campanha eleitoral ser prematuramente encerrada por conta da crise Maldonado, Macri fez discursos anticorrupção, em ataque ao kirchnerismo.

Segundo a analista Mariel Fornoni, da consultoria Managment & Fit, Macri tenta “associar as acusações de corrupção aos governos de Nestor (Kirchner) e de Cristina, mas eleitores de baixa renda que não são fiéis ao macrismo não se comovem tanto com o tema por estar mais preocupados em como pagar suas contas”.

 BBCBrasil

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