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Janot ‘sentiu náusea’ ao ouvir Joesley e Temer

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publicado em 06/07/2017 às 08h54
atualizado em 06/07/2017 às 07h26

Em entrevista ao programa Conexão Roberto d’Ávila, exibida na noite desta quarta-feira (5) pela GloboNews, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que precisou fazer uma “escolha de Sofia”, ao ouvir a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer, feita durante um encontro dos dois no Palácio do Jaburu, em Brasília. A divulgação da conversa levou Janot a abrir investigação contra Temer e, posteriormente, a denunciar o presidente por corrupção passiva.

Segundo o procurador, os irmãos Batista impuseram como condição para delatar a imunidade total, ou seja, e a garantia de que não iriam responder a nenhum dos crimes denunciados. “Essas pessoas chegaram para mim e disseram assim: ‘Nós aceitamos negociar tudo, mas a ‘não denúncia’ a gente não aceita negociar’. Eu me vi na seguinte escolha de Sofia”, disse o procurador, em referência à personagem do clássico da literatura forçada a fazer uma decisão difícil.

“Eu tinha tomado conhecimento que altíssimas autoridades da república estavam praticado crimes, os crimes estavam em curso e crimes graves. Se eu não aceitasse esse acordo, não teria como apurar estes crimes. Eu teria que fingir que nada tinha ouvido, que nada tinha acontecido, e essas pessoas continuariam a cometer crimes”.

Janot também descreveu o que sentiu ao ouvir a gravação: “Fiquei chocado e senti náusea. Foi minha reação física: um choque, e fiquei enjoado mesmo”.

Janot também garantiu que os irmãos Joesley e Wesley Batista são réus colaboradores e, como tal, precisam cumprir o que foi prometido.”O acordo cobre aqueles fatos relatados por eles e não cobre nenhum eventual fato ilícito praticado depois, ou omitido naquele acordo. E mais, tudo aquilo que eles se comprometeram a nos encaminhar, os endereços de prova, o acesso às provas, eles têm que cumprir.”

Segundo Janot, a validade do acordo firmado pelos irmãos com o MP é provisória e precisa ser corroborada com provas. A eficácia do acordo será ratificada pelo STF ao final do processo. “Ao final, o Supremo avaliará a eficácia dessa colaboração para que ela então tenha validade definitiva. Até agora ela tem uma validade provisória”.

Reação de Temer

Na conversa com d’Ávila, Rodrigo Janot também comentou que a reação de Temer, ao chamar a denúncia de fraca e peça de ‘ficção’, é uma técnica conhecida, segundo a qual o denunciado tenta desacreditar a figura do acusador.

“Nós tínhamos um empresário investigado por atos ilícitos que gravou um deputado [referindo-se a Rodrigo Rocha Loures] e acertou com este a ida à residência do presidente da República, à noite, sem ser identificado. Ele entra no palácio [do Jaburu] e grava uma conversa muito pouco republicana com o presidente, que lhe diz que aquele mesmo deputado é o interlocutor para qualquer assunto. Depois, esse deputado [Rocha Loures] acerta uma propina com o empresário e é pilhado com uma mala de dinheiro. Essa narrativa é fortíssima e está na denúncia; se isso é fraco, não sei o que é forte”, ironizou.

O procurador-geral rebateu as acusações de que teria tramado a gravação da conversa com Joesley Batista: segundo ele, o registro foi feito cerca de 30 dias antes de o empresário procurar o Ministério Público Federal (MPF) e propor o acordo de colaboração premiada. Segundo Janot, o STF já entendeu que o investigado pode gravar suas conversas e que essas gravações podem ser usadas como provas em investigações.

“Ele gravou [as conversas com] Rocha Loures e Temer para nos convencer a aceitar o acordo. Se não houvesse a gravação, ninguém acreditaria na narrativa dele [Joesley], nem eu acreditaria”, afirmou.

Substituição por Raquel Dodge

A pouco mais de dois meses de deixar o cargo, Rodrigo Janot falou sobre sua substituta à frente da PGR, Raquel Dodge, escolhida por Temer. Raquel toma posse à frente da PGR no dia 18 de setembro, mas até lá terá que passar por uma sabatina no Senado, em data ainda a ser definida.

“Ela tem e continuará a ter, acredito, uma atitude de Ministéro Público. A responsabilidade dela será enorme, ela vai ter muito trabalho para seguir em várias áreas de investigação, e lhe desejo sucesso. Nós interpretamos os procedimentos de maneira diversa e a forma de trabalho é diferente, mas acima de tudo somos Ministéro Público”, disse.

Candidatura descartada

O procurador-geral também rebateu as afirmações de que entrará para a política ao deixar o cargo na PGR. “Eu tenho ouvido tanto isso, que quero ser presidente, governador, senador, não sei se é tudo ao mesmo tempo. Posso afirmar: respeito demais a política e as pessoas que se lançam a exercer a atividade política, mas não é minha praia, minha vocação. Não me candidadatei a nenhum cargo político: não quero ser presidente, senador, deputado, vereador, absolutamente nada”, assegurou.

Pior momento no cargo

Janot afirmou que o pior momento de seus quatro anos à frente da Procuradoria Geral da República foi o dia da prisão do procurador Ângelo Goulart Villela, que repassava informações a Joesley Batista sobre as investigações acerca do grupo JBS, em especial da operação Greenfield – que investigava fraudes bilionárias contra quatro dos maiores fundos de pensão de funcionários de empresas estatais: Funcef (Caixa), Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correios).

“Um dia especificamente ruim foi quando tive que pedir a prisão de um colega. Eu pedi que fosse informado quando entrassem na casa dele para efetuar a prisão. E quando fui informado, vomitei quatro vezes. E sou um sujeito experiente, tenho 33 anos de Ministério Público, pouca coisa me afetou de maneira tão contundente quanto essa”, afirmou, emocionado.

G1

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