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Formado em Psicologia e Especialista em Psicopatologia Psicanalítica Contemporânea pela Universidade Federal da Paraíba. Exerceu o mandato de Vereador em João Pessoa por duas legislaturas, ex-secretário de Transparência Pública da Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Antônio Barros e Cecéu: a presença de uma ausência

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publicado em 23/06/2017 às 10h22

Em meio à polêmica que se criou entre o forró, o sertanejo e outros estilos musicais que se espalham como megatons de poucas esperanças nas festas juninas, nem tão tradicionais como antes no nosso nordeste, o silêncio de uma das duplas de compositores forrozeiros mais tradicionais em atividade no Brasil é emblemático e ao mesmo tempo ensurdecedor.

Protagonistas de um dos maiores repertórios do mais autêntico forró, a dupla Antônio Barros e Cecéu decidiu mais uma vez não se apresentar nos palcos neste período, apesar de diversos convites formulados. Os motivos de se distanciarem das fogueiras são vários e em conversa em tom de desabafo, mas com a serenidade característica, Cecéu relata insatisfações com os modelos dos eventos atuais e a falta de reconhecimento do valor cultural de diversos artistas que de forma autêntica resistem ao processo de massificação do forró e que continuam subjugados, justo no momento que deveria ser de maior ápice para aqueles que a muito tempo só trazem a coragem e a cara… Além claro, do xote, maracatu e baião!

Juntos desde o início da década de 70, quando Antônio Barros já acumulara algumas das mais de 700 composições e músicas gravadas por nomes tradicionais do forró e da cultura nordestina, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos, Elba Ramalho, a dupla também teve suas composições repercutidas na voz de grandes nomes da MPB, como Ney Matogrosso, Alcione, Gal Costa e Gilberto Gil.

Nos resta uma reflexão acerca da mais autêntica manifestação popular nordestina que é o São João. Estaremos reproduzindo uma festa estranha com gente esquisita onde os novos protagonistas nem sabem que tem tanta fogueira e tanto balão? Antes mesmo das falas enfáticas que defendem uma suposta pluralidade e abertura a outros estilos musicais, será que não caberia um mea culpa dos gestores e do público em geral, da forma em que são tratados vários artistas com talento comprovado e reconhecimento nacional e até internacional?

A ausência sentida de Antônio Barros e Cecéu e de vários outros artistas e forrozeiros tradicionais em palcos juninos, ou até mesmo a presença de outros, apenas de forma protocolar, sem a evidência que merecem, preocupa e fragiliza o forró tradicional, que já deveria ter sido reconhecido como patrimônio imaterial da humanidade, pelo valor histórico, cultural e simbólico da nossa nordestinidade, cada vez mais abalada, mas jamais esquecida.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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